O MacGuffin: E voltou para Nova Iorque

sábado, março 03, 2012

E voltou para Nova Iorque

Vasco Pulido Valente, no Público 2/3/2012

Krugman em Lisboa 
"O prof. Paul Krugman veio a Portugal receber um doutoramento honoris causa "conjunto" da Universidade de Lisboa, da Universidade Nova e da Universidade Técnica. Esta acumulação de honras (para quem sinceramente as tome por isso) é sem dúvida invulgar, mas não é inesperada. Krugman tem sido um crítico persistente da política económica do Governo (e por extensão da sra. Merkel) e acabou por se tornar o adorado da nossa esquerda doméstica, dos "teóricos" do PS e do Bloco ao dr. Mário Soares, que nunca perde uma oportunidade de o citar, como se ele fosse a mãe de toda a sabedoria. Para quem quiser saber o que a oposição pensa, basta investigar no New York Times (uma fonte barata) o que sr. Krugman pensa e, depois, traduzir para português. 
Desgraçadamente, começa a haver sinais de que o doutoramento conjunto veio um bocadinho tarde e que já nem a nossa esquerda acredita no seu novo médico ou nas suas perfeitíssimas receitas. Num jantar recente, com mais de uma centena de próceres do progresso, reparei que se começava a falar (embora com algum incómodo) da "refundação" do regime ou até da "refundação" da democracia, sem que nenhum "notável" se mostrasse mesmo vagamente surpreendido. 
Não custa explicar esta aberração. Se, por acaso, o Governo se obstinar em reduzir a despesa (para Krugman, o PS e o próprio Cavaco, um caminho suicida) e a sra. Merkel por milagre não se converter a um expansionismo, que a Alemanha rejeita e a prejudica pessoalmente a ela, onde se irá buscar o dinheiro indispensável ao indígena? 
No meio deste impossível dilema, uma realidade, pouco agradável, vai pouco a pouco aparecendo, ainda hesitantemente, sob forma de pergunta: "E se não existissem os meios para o Estado social (e ramificações), que o país tirou da sua miséria com os salvíficos "fundos" da "Europa" e com uma dívida externa que não consegue, ou conseguirá, suportar?" Ou pior do que isso: "E se os 30 anos desta próspera e feliz democracia não passassem, no fundo, de um enorme exercício de irresponsabilidade, em que se enganaram os nativos, mas não se enganou mais ninguém no mundo?" O sr. Krugman volta para Nova Iorque e não leva os nossos problemas (nem mesmo se ofereceu para pôr na ordem a sra. Merkel). Nós ficamos, tristonhos, por aqui: "E se for preciso "refundar" o regime, como se faz?" "

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