O Pedro
O Pedro resolveu aparecer. Num momento difícil, segundo o próprio. O previsível Carlos Abreu Amorim emocionou-se com a chegada do Pedro. Diz que mostrou «grandeza». Portugal é este enorme buraco negro onde tudo se esquece e a vergonha não medra. Este é o mesmo Pedro que, há um mês e meio, não se coibiu de fazer birra e de revelar a sua insatisfação por ter sido excluído das listas, dando o mote para o argumento da «não renovação» que toda a gente tratou de usar até à exaustão. Este é o mesmo Pedro que, durante um longo período, logo após a eleição da Dra. Ferreira Leite, achou que o país merecia ouvir as suas graves elucubrações sobre a vida interna do partido e a vida externa do país, fazendo uma descarada oposição de rua à sua líder. Agora, numa altura em que era suposto não ligar, por razões óbvias (incluindo a verdade), o caso das «escutas» ao PSD, eis que aparece o Pedro num assomo de agasalho e compaixão, ligando, com o seu gesto, o caso ao partido, e amplificando ainda mais o putativo revés político de Manuela Ferreira Leite que eventualmente decorra do caso. Magnânimo, o Pedro. E sorte a dele poder contar com os useful idiots da praxe, que acharam mal não ter a líder dito «Ai, Pedro, obrigada, tu és grande». É um caso este Pedro. E o Carlos não lhe fica atrás.
5 Comentários:
O problema de Ferreira Leite não está só nas escutas, nem só nas gaffes, mas também nas propostas políticas.
O PS tem razão quando diz que ela só fala em rasgar, adiar, não fazer, o que não só não empolga ninguém, como não faz qualquer sentido no contexto actual, em que o combate ao desemprego exige investimento público, com ou sem défice, com ou sem endividamento
Trata-se de uma questão de prioridades. É como uma pessoa dever já muito dinheiro ao banco, mas ter os filhos com fome. Se puder pedir mais dinheiro emprestado não o deverá fazer?
Que interessa o endividamento numa situação dessas ?
Pois as grandes obras são o alimento do combate ao desemprego de milhares de pessoas, são o alimento de milhares de empresas, e o caminho que historicamente ajudou a solucionar crises semelhantes a esta.
Num contexto futuro de crescimento (o que depende muito mais do andamento da economia mundial do que do governo português), tratar-se-á então do défice e do endividamento
Sócrates foi um péssimo primeiro-ministro em muitos aspectos. Mas as propostas desta senhora metem medo, e vão fazer certamente muito eleitorado do Bloco de Esquerda e do PCP optar pelo voto útil no mal menor, como de resto as últimas sondagens já demonstram.
Esqueci-me de dizer que com Passos Coelho, se eventualmente chegar a lider, será ainda pior a emenda que o soneto.
Caro LF: permito-me (com um pedido de desculpa ao MacGuffin pelo descaramento) colocar aqui um link onde tentei reproduzir alguns argumentos de António Borges numa entrevista ao i no Sábado passado:
http://escafandro.blogs.sapo.pt/81782.html
O investimento seria excelente, apesar do endividamento, se servisse para aumentar as exportações. Com algumas excepções (p. ex., na área da energia), não é o caso.
Caro jaa,
António Borges não tem uma opinião isenta.
Faz parte do orgãos dirigentes do PSD, e tem a sua ideologia (quanto a mim, profundamente neo-liberal, embora muitos não gostem do termo), que condiciona naturalmente a sua opinião.
O primeiro erro de algumas destas análises é justamente olhar para a economia como se de matemática se tratasse.
Muitos economistas, normalmente administradores de grandes empresas ou da banca, com interesses profissionais e pessoais bem vincados, falam na televisão e escrevem nos jornais como se a sua verdade fosse absoluta.
Acontece que a economia não é uma ciência exacta.
E aproveito para aconselhar a leitura de um texto que escrevi em contexto académica, acerca desse tema:
http://fumo-sem-fogo.blogspot.com/2007/07/ensaio-epistemologia-da-economia-por-lf.html
Neste caso particular, não percebi muito bem porque é que a economia estagna, ou o que perdem as empresas exportadoras, com o investimento público, não se prevendo qualquer aumento de impostos a curto prazo.
Não percebo também em que é que o investimento público contribui para aumentar os tais custos de energia, de crédito etc
Além de que omite o emprego directo proporcionado por essas grandes obras, quer nas tais empresas "protegidas", quer em todas as que circundarão em seu redor.
Não podemos também esquecer que, aumentando o emprego, e consequentemente os salários, aumenta a procura interna, aumentando a procura interna a economia cresce, crescendo a economia, o bolo fiscal cresce também - mesmo sem mexer nas taxas - e isso terá também algum impacto nas contas públicas e no problema do endividamento.
Não havendo riscos inflacionistas a curto prazo, penso que o caminho para sair da crise passa em larga medida por aí.
Mas no fundo tudo isto é uma questão ideológica:
-Os que continuam a acreditar cegamente no mercado e a diabolizar o estado
-Os que privilegiam um caminho mais equilibrado, porventura não tão eficaz em épocas de expansão, mas muito mais seguro em contextos de crise.
Eu sigo sem hesitar os segundos. António Borges é um dos expoentes dos primeiros.
"António Borges não tem uma opinião isenta."
Claro que não. Ninguém tem.
"não percebi muito bem porque é que a economia estagna, ou o que perdem as empresas exportadoras, com o investimento público, não se prevendo qualquer aumento de impostos a curto prazo"
A curto prazo, não perdem nem ganham. À medida que o Estado precisar de aumentar receitas (e há já muita gente a dizer que vai ser preciso subir os impostos nos próximos anos) perdem.
Não escrevi que o investimento público aumenta os custos da energia. Escrevi que o custo da energia, do crédito, o nível da carga fiscal, etc., são factores com impacto directo na competitividade das empresas exportadoras.
O aumento da procura interna é positivo mas tem efeitos um pouco ilusórios porque acabamos todos (é um exagero, claro) a comprar produtos importados cuja entrada não é compensada com exportações. Quanto ao emprego (outro factor positivo a curto prazo), acabará quando acabarem as obras.
Não credito cegamente no mercado. Acredito que, no caso de Portugal, o Estado deve ajudar (mas não selectivamente) as empresas exportadoras. E não é com o TGV ou com mais auto-estradas que o fará. Na Alemanha, que é um colosso exportador com taxas de poupança relativamente elevadas, já me pareceria muito mais lógico um plano de incentivo ao consumo.
Não tenho hipótese de ler o seu texto agora mas fá-lo-ei mais tarde.
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