Da estupidez e da notória fragilidade de uma democracia com 35 anos
Miguel Esteves Cardoso in Público 08.08.2009
Posso escrever isto?
No editorial de ontem, José Manuel Fernandes anunciou que o PÚBLICO vai desobedecer à directiva da ERC que quer calar os comentadores que são candidatos eleitorais. Também a confederação das empresas de comunicação considerou "inaceitável" essa mesma directiva.
É sempre mau quando alguém quer que outros não escrevam. Ou que não se possa publicar o que escrevem. É censura. Discutir as circunstâncias é cair na armadilha de avaliar o que deve ou não deve ser censurado.
É estranho que uma entidade que se diz de comunicação social se dedique tão intensamente a restringir a comunicação social. Faz medo. Se a ERC determinasse que todos os candidatos eleitorais deveriam ter uma coluna nos jornais a estupidez seria a mesma, mas, apesar de tudo, faria menos medo. É impedir que se escreva, e impedir que se publique que faz medo. Para que servem então os directores de jornais e os tribunais, para não falar dos próprios comentadores, que têm o direito de decidir como se vão comportar no que escrevem?
Leva um bocadinho de tempo a perceber o que é a liberdade de expressão e Portugal só a tem há 35 anos. Ainda subsiste a ideia que "há coisas que se escrevem" e "coisas que não se escrevem". Ainda subsiste a noção que é bom que haja outros escribas, moralmente melhores do que nós, que nos digam o que (e quando) devemos ou não escrever. A liberdade, neste caso, é não ligar ao que diz a ERC. Se ainda ligamos, é porque também nós ainda não estamos inteiramente livres.
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