O MacGuffin: Ó <a href=http://ecaequeeessa.blogspot.com/>Isa</a>: com uma crónica destas, como queres tu que eu não o cite?

sexta-feira, julho 18, 2008

Ó Isa: com uma crónica destas, como queres tu que eu não o cite?

Vasco Pulido Valente in Público (18/07/2008)

Desigualdade

Os 20 por cento de portugueses mais ricos (à volta de um milhão) ganham sete vezes mais do que os 20 por cento de portugueses mais pobres. Quando se fala em desigualdade, e agora toda a gente fala em desigualdade, a conclusão é sempre que se deve redistribuir o rendimento nacional para acabar com esta horrível injustiça, como se a coisa fosse clara e, até certo ponto, simples. Mas não é. Excepto por uma pequena minoria, os 20 por cento de portugueses ricos não são, de facto, ricos: são a classe média e, pior ainda, uma classe média pobre. Não se trata de tirar a quem tem muito para dar a quem tem pouco. Não estamos na Alemanha, em França ou em Inglaterra. Além de politicamente inconcebível, um aumento da carga fiscal sobre a classe média acabaria tarde ou cedo por levar a um colapso económico e à paralisia do Estado-Providência.

Grande parte dos 20 por cento de portugueses mais ricos vive, directa ou indirectamente, do dinheiro do contribuinte: ou porque trabalha na administração central ou local; no Serviço de Saúde ou no "sistema educativo"; ou porque trabalha em empresas públicas de uma espécie ou de outra; ou porque recebe subsídios. Não vale a pena dizer que a "riqueza" destes "ricos" depende quase só do Orçamento e que é, de certa maneira, "fictícia". O que o Governo podia espremer deles, sem pôr em causa a sua existência e a estabilidade do regime, já espremeu. Claro que também há "ricos" no "sector privado". Mas como esperar que a economia se "modernize" e cresça se o Estado se apropriar à partida dos resultados do risco (que tanto gaba) e da inovação (que tanto deseja)?

Numa sociedade miserável, o que se redistribui é sempre a miséria. Em 30 anos, Portugal chegou até onde a realidade e a "Europa" lhe permitiram chegar. Embora com erros, com desperdício, com ineficácia, a Segurança Social, o Serviço de Saúde e mesmo o "sistema educativo" redistribuem mais do que nunca se redistribuiu em toda a nossa a história. Se a desigualdade continua é porque os 20 por cento de pobres não ganham o que deviam ganhar e não porque os 20 por cento de portugueses mais ricos paguem ao Estado menos do que deviam pagar. A desigualdade continua porque o país não produz, não exporta, não investe e não poupa; porque se endivida; e porque o Estado o desorganiza, corrompe e abafa. Isto é a evidência. Infelizmente, de quando em quando, convém repetir a evidência.

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