Baralhando o Daniel
É no mínimo tocante a forma como o mundo se encontra devidamente arrumado na cabeça do Daniel Oliveira. Para o Daniel Oliveira, o problema das casas devolutas em Lisboa explica-se com a habitual canga da esquerda bé: os «ricos» não estão interessados na «comunidade»; os «ricos» não sabem viver em «sociedade»; os «ricos» preferem ver as suas casas vazias do que apinhadas de indigentes e respectivas proles; os «ricos» vivem da e para a «especulação». Factos que o Daniel considera insustentáveis de tão brutais. O «proprietário» – vocábulo apriorístico na caracterização de «rico» - da casa devoluta na Avenida da Liberdade ou numa outra avenida/zona chique ou in, é, na sensível cabeça do Daniel Oliveira, uma criatura ostensiva ou dissimuladamente rica que só por intenção malévola ou ociosidade especulativa aprecia abandonar aos elementos ou aos acidentais vagabundos os seus palacetes. Perante este prodigioso raciocínio, que soluções para o problema produziu o delicado e estimável encéfalo do Daniel Oliveira? Simples: «taxar fortemente» o ignaro proprietário, com o nobre objectivo de o acordar do torpor que a espaços o assalta ou da manhosice endémica que o habita.
Não querendo, de forma alguma, beliscar o brilhantismo desta ideológica «solução total» (que o Daniel descobriu em Nova Iorque), convinha perceber ou clarificar alguns pontos. Em primeiro lugar, será a totalidade ou a grande maioria dos proprietários destas casas gente suficientemente abastada para encetar obras de recuperação ou beneficiação? Não. Segundo: as rendas foram, como diz o Daniel Oliveira, total e transversalmente «descongeladas»? Não. Terceiro: a CML pode lavar as suas mãos deste problema, esquecendo os empecilhos burocráticos que os proprietários mais voluntaristas enfrentam quando pretendem fazer obras ou, por outro lado, menosprezando o facto de não ter uma verdadeira e pragmática política para a requalificação de imóveis no centro da cidade que ajude os proprietários mais desfavorecidos? Por último, pensará o Daniel que o proprietário de um prédio que recebia cinco rendas de 30 euros e que passou, após o salvífico «descongelamento», a receber cinco rendas de 300, está automaticamente habilitado a encetar obras de milhares ou milhões de euros?
Ao contrário do Daniel Oliveira, não aspiro, por incapacidade, a solucionar o problema dos prédios devolutos em Lisboa (ou na generalidade das cidades portuguesas). Sei apenas isto: a solução dos prédios devolutos não passa por uma perseguição cega e preconceituosa do proprietário.
Não querendo, de forma alguma, beliscar o brilhantismo desta ideológica «solução total» (que o Daniel descobriu em Nova Iorque), convinha perceber ou clarificar alguns pontos. Em primeiro lugar, será a totalidade ou a grande maioria dos proprietários destas casas gente suficientemente abastada para encetar obras de recuperação ou beneficiação? Não. Segundo: as rendas foram, como diz o Daniel Oliveira, total e transversalmente «descongeladas»? Não. Terceiro: a CML pode lavar as suas mãos deste problema, esquecendo os empecilhos burocráticos que os proprietários mais voluntaristas enfrentam quando pretendem fazer obras ou, por outro lado, menosprezando o facto de não ter uma verdadeira e pragmática política para a requalificação de imóveis no centro da cidade que ajude os proprietários mais desfavorecidos? Por último, pensará o Daniel que o proprietário de um prédio que recebia cinco rendas de 30 euros e que passou, após o salvífico «descongelamento», a receber cinco rendas de 300, está automaticamente habilitado a encetar obras de milhares ou milhões de euros?
Ao contrário do Daniel Oliveira, não aspiro, por incapacidade, a solucionar o problema dos prédios devolutos em Lisboa (ou na generalidade das cidades portuguesas). Sei apenas isto: a solução dos prédios devolutos não passa por uma perseguição cega e preconceituosa do proprietário.
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