A PROPÓSITO DA TOLERÂNCIA INSÍPIDA E DO RESPEITO PELA OPINIÃO CONTRÁRIA
Recebo missiva muito interessante de Fernando Gomes da Costa, que passo, de imediato, a reproduzir:
”Liberdade ou tolerância?"
Podem escolher qualquer cor, desde que seja preto (Henry Ford sobre a possibilidade de escolha da cor do Ford T)
”Circula neste momento pela Internet um abaixo-assinado com o título “Mulheres em medicina sim, retrocessos não!” que se refere às declarações do ministro da Saúde sobre o facto de haver uma cada vez maior prevalência de mulheres em medicina, tendo ele aludido a uma possível menor disponibilidade das mulheres para se dedicaram por inteiro à profissão médica - decorrente das suas "responsabilidades em termos domésticos e em termos de vida familiar".
No abaixo-assinado exige-se, face à opinião emitida, a retractação do ministro, bem como a sua eventual demissão.
Sempre fui contra as quotas como elemento de “correcção” social. Sou médico e, por isso, estou particularmente à vontade para continuar a ser anti-quotas em relação ao assunto em causa. Seria bem mais complicado em termos de coerência sempre ter sido contra e agora a favor, ou vice-versa…
Mas não é concretamente o problema da percentagem de mulheres em medicina ou a maior ou menor importância da vida familiar e doméstica em relação à profissional que me inquieta neste momento. Aquilo que me preocupa é o facto de se achar que alguém, mesmo que seja ministro, pelo simples facto de emitir uma opinião, seja obrigado a retractar-se. Compreenderia a atitude se estivesse em causa um acto concreto, um insulto, uma violação à Lei, ou qualquer outra acção ilícita ou imoral. Mas o que se passou foi a análise de uma situação, eventualmente a opinião sobre um problema. Obrigar alguém a retractar-se ou a demitir-se por ter uma dada ideia ou interpretar um facto choca flagrantemente com a ideia de liberdade. É algo que cheira intensamente a Inquisição, Pide, Fascismo ou Estalinismo.
O mais preocupante é que esta atitude de condenar as pessoas e pedir a sua demissão por terem emitido opinião diversa do que é politicamente correcto está a tornar-se recorrente e passa nos jornais e nos cidadãos com total naturalidade. Cada vez têm mais força e ressonância alguns sectores ditos intelectuais que se julgam donos da verdade e iluminados em relação ao caminhos que a humanidade deve tomar. Há assuntos como a homossexualidade, igualdade, globalização, religião, racismo e muitos outros em que se passou de um certo tipo de moralismo retrógrado para outro moralismo de sinal contrário, mas não menos reaccionário, embora geralmente com o rótulo de progressista, que de igual modo não admite contestação. Quem ousar, hoje em dia, divergir dessa cartilha neo-moralista arrisca-se, se tiver sorte, a ser silenciado, e se for ouvido a ser proscrito socialmente.
Talvez por isso, e significativamente, esses sectores não advogam o respeito pelas ideias diferentes mas veneram a “tolerância”. Ora, a tolerância, por definição, é a típica atitude (com limites, note-se) de quem está certo em relação a quem está errado. Tolerar não exige discussão de pontos de vista nem troca de argumentos, uma vez que, à partida, está definido quem tem razão. Tolerar uma ideia, em vez de a respeitar, é no fundo uma narcisista posição de magnanimidade de quem está convencido de que às suas certezas apenas se opõem os erros dos outros, tal como o estavam os Torquemadas, Hitlers e Estalines da História.
Quando um médico, por exemplo, manifesta perante colegas a sua opinião sobre a maneira de tratar um determinado doente, não interessa que tolerem a sua opinião, mas que o ouçam e discutam, com ele, as razões por que ela pode estar certa ou errada. É o caminho mais seguro para escolher como tratar o doente. E a verdade é que a sociedade está doente…”
Confirma-se: ainda há gente de bom senso e lúcida neste país. Obrigado Fernando. Escreva sempre.
Recebo missiva muito interessante de Fernando Gomes da Costa, que passo, de imediato, a reproduzir:
”Liberdade ou tolerância?"
Podem escolher qualquer cor, desde que seja preto (Henry Ford sobre a possibilidade de escolha da cor do Ford T)
”Circula neste momento pela Internet um abaixo-assinado com o título “Mulheres em medicina sim, retrocessos não!” que se refere às declarações do ministro da Saúde sobre o facto de haver uma cada vez maior prevalência de mulheres em medicina, tendo ele aludido a uma possível menor disponibilidade das mulheres para se dedicaram por inteiro à profissão médica - decorrente das suas "responsabilidades em termos domésticos e em termos de vida familiar".
No abaixo-assinado exige-se, face à opinião emitida, a retractação do ministro, bem como a sua eventual demissão.
Sempre fui contra as quotas como elemento de “correcção” social. Sou médico e, por isso, estou particularmente à vontade para continuar a ser anti-quotas em relação ao assunto em causa. Seria bem mais complicado em termos de coerência sempre ter sido contra e agora a favor, ou vice-versa…
Mas não é concretamente o problema da percentagem de mulheres em medicina ou a maior ou menor importância da vida familiar e doméstica em relação à profissional que me inquieta neste momento. Aquilo que me preocupa é o facto de se achar que alguém, mesmo que seja ministro, pelo simples facto de emitir uma opinião, seja obrigado a retractar-se. Compreenderia a atitude se estivesse em causa um acto concreto, um insulto, uma violação à Lei, ou qualquer outra acção ilícita ou imoral. Mas o que se passou foi a análise de uma situação, eventualmente a opinião sobre um problema. Obrigar alguém a retractar-se ou a demitir-se por ter uma dada ideia ou interpretar um facto choca flagrantemente com a ideia de liberdade. É algo que cheira intensamente a Inquisição, Pide, Fascismo ou Estalinismo.
O mais preocupante é que esta atitude de condenar as pessoas e pedir a sua demissão por terem emitido opinião diversa do que é politicamente correcto está a tornar-se recorrente e passa nos jornais e nos cidadãos com total naturalidade. Cada vez têm mais força e ressonância alguns sectores ditos intelectuais que se julgam donos da verdade e iluminados em relação ao caminhos que a humanidade deve tomar. Há assuntos como a homossexualidade, igualdade, globalização, religião, racismo e muitos outros em que se passou de um certo tipo de moralismo retrógrado para outro moralismo de sinal contrário, mas não menos reaccionário, embora geralmente com o rótulo de progressista, que de igual modo não admite contestação. Quem ousar, hoje em dia, divergir dessa cartilha neo-moralista arrisca-se, se tiver sorte, a ser silenciado, e se for ouvido a ser proscrito socialmente.
Talvez por isso, e significativamente, esses sectores não advogam o respeito pelas ideias diferentes mas veneram a “tolerância”. Ora, a tolerância, por definição, é a típica atitude (com limites, note-se) de quem está certo em relação a quem está errado. Tolerar não exige discussão de pontos de vista nem troca de argumentos, uma vez que, à partida, está definido quem tem razão. Tolerar uma ideia, em vez de a respeitar, é no fundo uma narcisista posição de magnanimidade de quem está convencido de que às suas certezas apenas se opõem os erros dos outros, tal como o estavam os Torquemadas, Hitlers e Estalines da História.
Quando um médico, por exemplo, manifesta perante colegas a sua opinião sobre a maneira de tratar um determinado doente, não interessa que tolerem a sua opinião, mas que o ouçam e discutam, com ele, as razões por que ela pode estar certa ou errada. É o caminho mais seguro para escolher como tratar o doente. E a verdade é que a sociedade está doente…”
Confirma-se: ainda há gente de bom senso e lúcida neste país. Obrigado Fernando. Escreva sempre.
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