HALIFAX E CHAMBERLAIN
Sobre o excelente post do Luciano, dirigido ao André Belo (do Barnabé), recomendo, de facto, a leitura do texto de Isaiah Berlin (o link está no blogue do Luciano), que poderá (eu diria "deverá") ser encontrado em “Personal Impressions” (Pimlico, 1998). Contudo, o livro a ler, acima de tudo (já que o assunto é a relação Churchill-Chamberlain e a famosa doutrina do appeasement), é o brilhante ”Five Days in London” de John Lukacs (Yale University Press, 2001). Nele são reproduzidas, com um detalhe surpreendente e esclarecedor, as movimentações que opuseram as várias sensibilidades no seio do governo inglês, naqueles que foram os anos mais decisivos para o desfecho da II Guerra. Fala-se muito em Chamberlain, mas esquece-se sempre que o appeaser mor foi Halifax. Nele encontramos a quinta-essência do denominado appeasement - expressão que está longe de ser um chavão mais ou menos difuso ou infundado. Foi a substituição de Eden por Halifax (para o cargo de foreign secretary), conduzida por Chamberlain, que precipitou muita coisa e, numa primeira fase, tirou o sono a Churchill. Não nos podemos esquecer que, das muitas visitas que prestou a Hitler, Halifax passou a considerar Goebbels uma pessoa “francamente atractiva”, um tipo “extremamente simpático e interessante”. Chegou a dizer que o “misticismo” de Hitler era idêntico ao de Gandhi. Em Novembro de 1937, Halifax escreveu a Chamberlain para lhe transmitir que, após reunião com Hitler, achava que a questão que eventualmente oponha a Inglaterra à Alemanha era meramente “colonial” e não europeia (uma ideia totalmente errada). Halifax tentou, em determinadas alturas, manipular a imprensa no sentido de não «afrontar» Hitler e a Alemanha. Após a visita de Wiedemann, adjunto de Hitler, a Inglaterra, sugeriu que “gostaria de ver, como culminar do seu trabalho diplomático, o Führer a entrar em Londres, ao lado do rei e aclamado pelo povo inglês”. Halifx foi, certamente, a personagem que mais contribuiu para alimentar uma atitude de benevolência para com Hitler, permitindo a edificação de uma espécie de cortina de fumo sobre a verdadeira natureza e as verdadeiras intenções de Hitler para a Europa. Não que Halifx fosse cúmplice de Hitler, ou simpatizante do modus operandi nazi. Provavelmente, as razões eram nobres e vinham no seguimento da ideia da "injustiça Versalheana" (injustiça, diga-se, bastante discutível). Mas a melhor razão terá sido resumida por Oliver Harvey: “Halifax parece cegar-se a si próprio quando é confrontado com factos desagradáveis e é ingénuo e jesuítico na forma como circunda os cantos mais obscuros da sua mente”. Neste, como noutros aspectos, Churchill era de outra linhagem. O resto, é História.
Sobre o excelente post do Luciano, dirigido ao André Belo (do Barnabé), recomendo, de facto, a leitura do texto de Isaiah Berlin (o link está no blogue do Luciano), que poderá (eu diria "deverá") ser encontrado em “Personal Impressions” (Pimlico, 1998). Contudo, o livro a ler, acima de tudo (já que o assunto é a relação Churchill-Chamberlain e a famosa doutrina do appeasement), é o brilhante ”Five Days in London” de John Lukacs (Yale University Press, 2001). Nele são reproduzidas, com um detalhe surpreendente e esclarecedor, as movimentações que opuseram as várias sensibilidades no seio do governo inglês, naqueles que foram os anos mais decisivos para o desfecho da II Guerra. Fala-se muito em Chamberlain, mas esquece-se sempre que o appeaser mor foi Halifax. Nele encontramos a quinta-essência do denominado appeasement - expressão que está longe de ser um chavão mais ou menos difuso ou infundado. Foi a substituição de Eden por Halifax (para o cargo de foreign secretary), conduzida por Chamberlain, que precipitou muita coisa e, numa primeira fase, tirou o sono a Churchill. Não nos podemos esquecer que, das muitas visitas que prestou a Hitler, Halifax passou a considerar Goebbels uma pessoa “francamente atractiva”, um tipo “extremamente simpático e interessante”. Chegou a dizer que o “misticismo” de Hitler era idêntico ao de Gandhi. Em Novembro de 1937, Halifax escreveu a Chamberlain para lhe transmitir que, após reunião com Hitler, achava que a questão que eventualmente oponha a Inglaterra à Alemanha era meramente “colonial” e não europeia (uma ideia totalmente errada). Halifax tentou, em determinadas alturas, manipular a imprensa no sentido de não «afrontar» Hitler e a Alemanha. Após a visita de Wiedemann, adjunto de Hitler, a Inglaterra, sugeriu que “gostaria de ver, como culminar do seu trabalho diplomático, o Führer a entrar em Londres, ao lado do rei e aclamado pelo povo inglês”. Halifx foi, certamente, a personagem que mais contribuiu para alimentar uma atitude de benevolência para com Hitler, permitindo a edificação de uma espécie de cortina de fumo sobre a verdadeira natureza e as verdadeiras intenções de Hitler para a Europa. Não que Halifx fosse cúmplice de Hitler, ou simpatizante do modus operandi nazi. Provavelmente, as razões eram nobres e vinham no seguimento da ideia da "injustiça Versalheana" (injustiça, diga-se, bastante discutível). Mas a melhor razão terá sido resumida por Oliver Harvey: “Halifax parece cegar-se a si próprio quando é confrontado com factos desagradáveis e é ingénuo e jesuítico na forma como circunda os cantos mais obscuros da sua mente”. Neste, como noutros aspectos, Churchill era de outra linhagem. O resto, é História.
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