ERRADO E BÁSICO, DISSE ELA
Lolita, do blogue Blogame Mucho (de quem sou, agora, intimo), critica a forma "básica" e "desapropriada" (face ao momento "histórico-político" (sic)) como critiquei Mário Soares. Afirma, entre outras coisas, que eu não passei das adjectivações e que não terei dado o benefício da dúvida face a uma frase "se calhar" mal dita, afocinhando num infantil e indignado “facilitismo demagógico” (sic).
Com a devida vénia, e para encerrar, de uma vez por todas, a questão "Soares", quem não esteve à altura do momento "histórico-político" (sic) foi Mário Soares com aquela frase. Não fui eu. Que eu saiba, Mário Soares não clarificou, ou esclareceu, a posteriori, as suas afirmações. Nesse sentido, estou de acordo com a Lolita: o momento "histórico-político" (sic) exigia, de facto, menos demagogia. Soares deveria sabê-lo.
Partimos, então, de pontos diferentes. Lolita acha que a frase não foi intencional, ou seja, que escapou, inocente, da boca de Mário Soares, num momento que era difícil, de consternação. Eu, que já conheço a «personagem» de há muitos anos, e que sobre ela já escrevi muita ‘posta’, ponho em causa a candura e irreflexão dessa gaffe casual. É isso que me separa da Lolita, e não qualquer tipo de "facilitismo demagógico" (mas se ela insistir, também pode ser). Não é de agora aquilo que penso de Mário Soares. Talvez por isso não possa, nesta altura do campeonato, i. e., tendo em conta o Soares de hoje, conceder-lhe o benefício da dúvida.
Por último, e para acabar de vez com a cultura, deixo um excerto de uma das muitas 'postas' que, nestes últimos doze meses, dediquei à figura enigmática (que o é) do Dr. Soares.
"Mário Soares é uma figura incontornável da história portuguesa contemporânea. Falo de uma pessoa que influenciou para sempre o destino do pais – antes e depois de 74. A ele, embora não só, devemos a instauração de um regime democrático. Devemos à sua perseverança e coragem - bem como à de Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, Ramalho Eanes e outras figuras de back-office - a travagem que impediu a estalinização e militarização de Portugal (no PREC e no seu aftermath). Também a ele devemos a boa negociação que permitiu a entrada de Portugal na então CEE. Como governante, Soares não teve tarefa fácil. Governou em períodos conturbados, com o pais em constantes derrapagens orçamentais e financeiras. Mais tarde, assistimos a um Soares em grande forma, a arrecadar de forma surpreendente a corrida para a presidência da república. Sobre o cargo, pode hoje dizer-se que o desempenhou de forma mais ou menos pacífica, tendo sido um apologista da tolerância e da pacificação entre órgãos de soberania. Entre alfinetadas aos governos de Cavaco – umas vezes injustas, outras vezes justíssimas - lá foi levando a sua água ao moinho. Foi sempre corajoso, e certo, na forma como tem afrontado o regime de Angola. Tudo isto corporizado numa figura bonacheira, simpática, com uma postura fleumática e denotando, por vezes, um excelente sentido de humor. Este é, em traços gerais, o retrato rosáceo de um político que todos se habituaram a respeitar e, nalguns casos, a venerar. Uma espécie de referência do Portugal democrático.
Mas, em Mário Soares, existe um outro lado. Existe um lado mais obscuro, difuso, incerto e, certamente, menos pacífico. E é esse o lado que Mário Soares tem dado a conhecer, de há uns anos a esta parte. NO fundo, o Soares de agora – o da defesa da corporação ‘Soarista’, o da anti-globalização e do anti-americanismo mais primário, o do esquerdismo radical-chic, o dos "tumores" dirigido a adversários políticos - sempre existiu. É o Soares da vaidade e da presunção. É o Soares da boa e velha «ética republicana», reminiscência de um «velho mundo»: um mundo lodoso de amigalhaços e intocáveis; um mundo de sombras e influências; um mundo de pequenos favores, de telefonemas oportunos, de tacticismo e de eminências pardas; um mundo onde é totalmente inconcebível que um «puto» de trinta e poucos anos, juiz de Direito, que tem por hábito envergar uns ténis e uma t-shirt, decrete a prisão preventiva de um amigalhaço, ou autorize a escuta dos telefonemas de outro. Neste mundo não se toleram tamanhas ousadias e alarvidades. É um mundo onde perdura e reina um respeitinho reverencial e uma babugem em torno dos chefes.
Poderão dizer que Soares é hoje um homem livre e que, como tal, ousa exprimir aos sete ventos a sua cosmovisão sobre o mundo e as suas convicções mais profundas. Pessoalmente, não dou um tostão por essa tese. Aquilo a que assistimos é a uma tentativa desenfreada de protagonismo paternalista. Uma tentativa de realinhamento e de resgate de um mundo em vias de extinção. Mete dó assistir ao desnorte de um ‘senador’. Mas, infelizmente, Mário Soares parece empenhado em destruir o que resta da sua imagem de estadista, de homem de bom senso, contrário a radicalismos e a maniqueísmos de pacotilha. É pena. Alguém o deveria avisar que o mundo mudou. E que, muito provavelmente, este já não lhe pertence."
Lolita, do blogue Blogame Mucho (de quem sou, agora, intimo), critica a forma "básica" e "desapropriada" (face ao momento "histórico-político" (sic)) como critiquei Mário Soares. Afirma, entre outras coisas, que eu não passei das adjectivações e que não terei dado o benefício da dúvida face a uma frase "se calhar" mal dita, afocinhando num infantil e indignado “facilitismo demagógico” (sic).
Com a devida vénia, e para encerrar, de uma vez por todas, a questão "Soares", quem não esteve à altura do momento "histórico-político" (sic) foi Mário Soares com aquela frase. Não fui eu. Que eu saiba, Mário Soares não clarificou, ou esclareceu, a posteriori, as suas afirmações. Nesse sentido, estou de acordo com a Lolita: o momento "histórico-político" (sic) exigia, de facto, menos demagogia. Soares deveria sabê-lo.
Partimos, então, de pontos diferentes. Lolita acha que a frase não foi intencional, ou seja, que escapou, inocente, da boca de Mário Soares, num momento que era difícil, de consternação. Eu, que já conheço a «personagem» de há muitos anos, e que sobre ela já escrevi muita ‘posta’, ponho em causa a candura e irreflexão dessa gaffe casual. É isso que me separa da Lolita, e não qualquer tipo de "facilitismo demagógico" (mas se ela insistir, também pode ser). Não é de agora aquilo que penso de Mário Soares. Talvez por isso não possa, nesta altura do campeonato, i. e., tendo em conta o Soares de hoje, conceder-lhe o benefício da dúvida.
Por último, e para acabar de vez com a cultura, deixo um excerto de uma das muitas 'postas' que, nestes últimos doze meses, dediquei à figura enigmática (que o é) do Dr. Soares.
"Mário Soares é uma figura incontornável da história portuguesa contemporânea. Falo de uma pessoa que influenciou para sempre o destino do pais – antes e depois de 74. A ele, embora não só, devemos a instauração de um regime democrático. Devemos à sua perseverança e coragem - bem como à de Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, Ramalho Eanes e outras figuras de back-office - a travagem que impediu a estalinização e militarização de Portugal (no PREC e no seu aftermath). Também a ele devemos a boa negociação que permitiu a entrada de Portugal na então CEE. Como governante, Soares não teve tarefa fácil. Governou em períodos conturbados, com o pais em constantes derrapagens orçamentais e financeiras. Mais tarde, assistimos a um Soares em grande forma, a arrecadar de forma surpreendente a corrida para a presidência da república. Sobre o cargo, pode hoje dizer-se que o desempenhou de forma mais ou menos pacífica, tendo sido um apologista da tolerância e da pacificação entre órgãos de soberania. Entre alfinetadas aos governos de Cavaco – umas vezes injustas, outras vezes justíssimas - lá foi levando a sua água ao moinho. Foi sempre corajoso, e certo, na forma como tem afrontado o regime de Angola. Tudo isto corporizado numa figura bonacheira, simpática, com uma postura fleumática e denotando, por vezes, um excelente sentido de humor. Este é, em traços gerais, o retrato rosáceo de um político que todos se habituaram a respeitar e, nalguns casos, a venerar. Uma espécie de referência do Portugal democrático.
Mas, em Mário Soares, existe um outro lado. Existe um lado mais obscuro, difuso, incerto e, certamente, menos pacífico. E é esse o lado que Mário Soares tem dado a conhecer, de há uns anos a esta parte. NO fundo, o Soares de agora – o da defesa da corporação ‘Soarista’, o da anti-globalização e do anti-americanismo mais primário, o do esquerdismo radical-chic, o dos "tumores" dirigido a adversários políticos - sempre existiu. É o Soares da vaidade e da presunção. É o Soares da boa e velha «ética republicana», reminiscência de um «velho mundo»: um mundo lodoso de amigalhaços e intocáveis; um mundo de sombras e influências; um mundo de pequenos favores, de telefonemas oportunos, de tacticismo e de eminências pardas; um mundo onde é totalmente inconcebível que um «puto» de trinta e poucos anos, juiz de Direito, que tem por hábito envergar uns ténis e uma t-shirt, decrete a prisão preventiva de um amigalhaço, ou autorize a escuta dos telefonemas de outro. Neste mundo não se toleram tamanhas ousadias e alarvidades. É um mundo onde perdura e reina um respeitinho reverencial e uma babugem em torno dos chefes.
Poderão dizer que Soares é hoje um homem livre e que, como tal, ousa exprimir aos sete ventos a sua cosmovisão sobre o mundo e as suas convicções mais profundas. Pessoalmente, não dou um tostão por essa tese. Aquilo a que assistimos é a uma tentativa desenfreada de protagonismo paternalista. Uma tentativa de realinhamento e de resgate de um mundo em vias de extinção. Mete dó assistir ao desnorte de um ‘senador’. Mas, infelizmente, Mário Soares parece empenhado em destruir o que resta da sua imagem de estadista, de homem de bom senso, contrário a radicalismos e a maniqueísmos de pacotilha. É pena. Alguém o deveria avisar que o mundo mudou. E que, muito provavelmente, este já não lhe pertence."
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