TOURADAS
Fui recentemente convidado a assistir a uma tourada de morte, em Badajoz (Espanha). Ontem recebi, em mão, um convite para assistir à corrida de touros comemorativa dos 40 anos do Grupo de Forcados Amadores de Évora (GFAE). Talvez por culpa do meu confesso conservadorismo e do corte de cabelo à «betinho», pensarão que eu gosto destas coisas da “tradição tauromáquica”. Enganam-se. Por uma questão de sanidade mental, declinei os dois convites, não sem antes, obviamente, os agradecer e felicitar o GFAE pelo aniversário.
Confesso: sou contra as touradas – quer as de morte, quer as outras. Atenção: respeito quem delas gosta. Nunca me viram, por aí, a espumar da boca, de punho erguido, vociferando contra quem gosta dos «touros». Não pretendo conduzir uma cruzada contra as touradas e proibir o que quer que seja (as coisas não se mudam assim, de forma abrupta e por decreto). Aceito, de bom grado, o epíteto de «politicamente correcto» ou de «intolerante». Mas nesta questão sou teimosamente inflexível.
Vejo as coisas nestes termos: a tourada é um espectáculo que se enquadra no grupo de actividades humanas que desrespeita os animais e os coloca numa situação humilhante – como, por exemplo, a caça entendida como desporto. Matar ou torturar animais em nome de um desporto ou de um espectáculo é imoral e inumano. Dêem-lhes as voltas que quiserem dar, a tourada é, na sua essência, um espectáculo sanguinolento. Não é uma arte, como muitos advogam, nem sequer uma forma bela, digna ou inocente (a morte terá alguma coisa de belo?) de matar um animal. É um exercício macabro, onde se tortura um animal - infligido-lhe golpes e espetando-lhe farpas que, a cada movimento, vão dilacerando a sua carne, aumentando o seu sofrimento. Ao longo de vários minutos, o animal corre, ofegante e febril, tentando atingir aquele que lhe causou o mal. A «bravura da besta» não é mais do que a reacção natural do sistema nervoso central de um animal que, para além de se encontrar stressado, acabou de ser violentado. No meio das palmas, da música, dos gritos, da luz e do aparato geral, é esta a essência da «festa» e é esta a sua côr: vermelha, de sangue.
Chegados a este ponto, parece que estou a ouvir o famoso argumento da “Hipocrisia”, uma vez que nos alimentamos de carne. Acontece que a morte nos matadouros não foi rodeada de festividade, nem serviu para júbilo, prazer ou diversão. Levada a cabo num local próprio, foi, à partida e em princípio, executada sem nenhuma tortura prévia, de forma fulminante e sem mais rodeios. Ao menos isso, acrescento eu. E este ponto faz toda a diferença. Pode-se discutir as condições, por vezes deploráveis, em que se encontram os nossos matadouros; a forma claustrofóbica como os animais são aprovisionados e transportados; a forma selvagem como são tratados por certos funcionários. Mas estes problemas – que deverão ser reduzidos ao máximo possível - não podem servir para desculpar ou justificar outros. Sempre entendi que justificar uma violência com outra violência é, não só incorrecto, como desonesto.
De pouco vale, também, o argumento, segundo o qual, os touros de lide são uma raça que nasce, vive e morre ao serviço da industria tauromáquica. Terminada esta, extinguir-se-iam os animais. Valerá a pena manter uma «raça» de animais sob o pretexto de alimentar uma industria que, por sua vez, os acaba a maltratar?
O problema é ancestral e permanece actual: em nome de certas tradições e ritos, muita crueldade e muitas atrocidades têm sido infligidas em animais (e, por vezes, em seres humanos). Mesmo reconhecendo que, em muitos casos, os ritos só acabam por vontade do povo, e não por decreto, acredito que, mais tarde ou mais cedo, caminharemos para um patamar civilizacional no qual se respeitarão os animais ao ponto de não serem usados em desportos ou espectáculos que envolvam a sua tortura, para gáudio de uns e regozijo de outros. Este é o exemplo acabado de como o ser humano ainda se encontra, em certos aspectos, pouco «humanizado» para perceber que, neste como noutros casos, a sua superioridade racional e de meios faz deles o elo mais forte, invariavelmente contra um elo mais fraco. Continuará a ser cobarde e imoral o mau trato de animais para acalentar festas e entretenimento humanos.
Vá lá: chamem-me de hipócrita ou de ser politicamente correcto. E eu digo: por vezes, já começa a ser politicamente correcto ser politicamente incorrecto...
Fui recentemente convidado a assistir a uma tourada de morte, em Badajoz (Espanha). Ontem recebi, em mão, um convite para assistir à corrida de touros comemorativa dos 40 anos do Grupo de Forcados Amadores de Évora (GFAE). Talvez por culpa do meu confesso conservadorismo e do corte de cabelo à «betinho», pensarão que eu gosto destas coisas da “tradição tauromáquica”. Enganam-se. Por uma questão de sanidade mental, declinei os dois convites, não sem antes, obviamente, os agradecer e felicitar o GFAE pelo aniversário.
Confesso: sou contra as touradas – quer as de morte, quer as outras. Atenção: respeito quem delas gosta. Nunca me viram, por aí, a espumar da boca, de punho erguido, vociferando contra quem gosta dos «touros». Não pretendo conduzir uma cruzada contra as touradas e proibir o que quer que seja (as coisas não se mudam assim, de forma abrupta e por decreto). Aceito, de bom grado, o epíteto de «politicamente correcto» ou de «intolerante». Mas nesta questão sou teimosamente inflexível.
Vejo as coisas nestes termos: a tourada é um espectáculo que se enquadra no grupo de actividades humanas que desrespeita os animais e os coloca numa situação humilhante – como, por exemplo, a caça entendida como desporto. Matar ou torturar animais em nome de um desporto ou de um espectáculo é imoral e inumano. Dêem-lhes as voltas que quiserem dar, a tourada é, na sua essência, um espectáculo sanguinolento. Não é uma arte, como muitos advogam, nem sequer uma forma bela, digna ou inocente (a morte terá alguma coisa de belo?) de matar um animal. É um exercício macabro, onde se tortura um animal - infligido-lhe golpes e espetando-lhe farpas que, a cada movimento, vão dilacerando a sua carne, aumentando o seu sofrimento. Ao longo de vários minutos, o animal corre, ofegante e febril, tentando atingir aquele que lhe causou o mal. A «bravura da besta» não é mais do que a reacção natural do sistema nervoso central de um animal que, para além de se encontrar stressado, acabou de ser violentado. No meio das palmas, da música, dos gritos, da luz e do aparato geral, é esta a essência da «festa» e é esta a sua côr: vermelha, de sangue.
Chegados a este ponto, parece que estou a ouvir o famoso argumento da “Hipocrisia”, uma vez que nos alimentamos de carne. Acontece que a morte nos matadouros não foi rodeada de festividade, nem serviu para júbilo, prazer ou diversão. Levada a cabo num local próprio, foi, à partida e em princípio, executada sem nenhuma tortura prévia, de forma fulminante e sem mais rodeios. Ao menos isso, acrescento eu. E este ponto faz toda a diferença. Pode-se discutir as condições, por vezes deploráveis, em que se encontram os nossos matadouros; a forma claustrofóbica como os animais são aprovisionados e transportados; a forma selvagem como são tratados por certos funcionários. Mas estes problemas – que deverão ser reduzidos ao máximo possível - não podem servir para desculpar ou justificar outros. Sempre entendi que justificar uma violência com outra violência é, não só incorrecto, como desonesto.
De pouco vale, também, o argumento, segundo o qual, os touros de lide são uma raça que nasce, vive e morre ao serviço da industria tauromáquica. Terminada esta, extinguir-se-iam os animais. Valerá a pena manter uma «raça» de animais sob o pretexto de alimentar uma industria que, por sua vez, os acaba a maltratar?
O problema é ancestral e permanece actual: em nome de certas tradições e ritos, muita crueldade e muitas atrocidades têm sido infligidas em animais (e, por vezes, em seres humanos). Mesmo reconhecendo que, em muitos casos, os ritos só acabam por vontade do povo, e não por decreto, acredito que, mais tarde ou mais cedo, caminharemos para um patamar civilizacional no qual se respeitarão os animais ao ponto de não serem usados em desportos ou espectáculos que envolvam a sua tortura, para gáudio de uns e regozijo de outros. Este é o exemplo acabado de como o ser humano ainda se encontra, em certos aspectos, pouco «humanizado» para perceber que, neste como noutros casos, a sua superioridade racional e de meios faz deles o elo mais forte, invariavelmente contra um elo mais fraco. Continuará a ser cobarde e imoral o mau trato de animais para acalentar festas e entretenimento humanos.
Vá lá: chamem-me de hipócrita ou de ser politicamente correcto. E eu digo: por vezes, já começa a ser politicamente correcto ser politicamente incorrecto...
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