O MacGuffin

quinta-feira, maio 22, 2003

TRISTES FIGURAS

Tristes figuras a de Ferro Rodrigues e de alguns dirigentes e deputados do Partido Socialista, face aos mais recentes acontecimentos no caso de pedofilia.

É penoso ver o líder do maior partido da oposição afirmar-se “indignado” e falar em “cabalas”, “montagens”, “falhas” e “descredibilização da justiça” agora que lhe tocam no menino de ouro, para, logo a seguir, com o ar mais sério do mundo, dizer “Atenção: eu não tenciono pressionar o juiz nem a justiça neste processo”.

O PS, até terça-feira, acreditava na Justiça e não colocava em hipótese a existência de uma cabala para incriminar Carlos Cruz, Jorge Ritto, Ferreira Dinis ou Hugo Marçal. Embora inocentes até prova em contrário, a Justiça portuguesa estava a desempenhar o seu papel. O processo tinha de seguir os seus trâmites e havia que esperar pelo seu tempo (que é um tempo diferente do tempo do circo mediático). Dirigentes socialistas apelavam para a serenidade e para a confiança no sistema judiciário.

Ontem, tudo mudou. O que era deixou de ser. O que não era passou a ser. O que não é, também, de admirar. Há muito que Ferro Rodrigues deixou estalar o verniz que o ajudava a vender uma imagem de pessoa séria, discreta, contida e responsável. Desde o caso Moderna, passando pela guerra no Iraque e, agora, no caso Paulo Pedroso, passámos a ver um líder demagógico, moralista, de punho fechado, dedinho em riste e aos gritos por dá cá aquela palha. Agora até já ataca o «sistema» - o qual, é bom não esquecer, foi aquele que o seu partido e o PSD criaram ao longo dos últimos vinte anos. Com alguns defeitos, mas certamente mais virtudes (caso contrário seriamos uma Argentina europeia), este é o «sistema» que temos e há que respeitá-lo. Crticá-lo, é certo, mas respeitá-lo. No mínimo, evitar os gestos largos, as atitudes de “profunda” indignação e as suspeitas gratuitas de maquinações ou conluios.

Mas não. Julgará Ferro Rodrigues que os nossos magistrados, o Ministério Público, a Polícia Judiciária e o pato Donald são todos a mesma coisa? Pensará Ferro Rodrigues que estas instituições estão repletas de tótós, incapazes de destinguir o que é um indício aceitável e minimamente credível de um indício falso ou forjado? O contraditório será assim tão fraco?

Se podemos falar em presunção da inocência até trânsito em julgado, que é feito, Dr. Ferro Rodrigues, da presunção da competência e isenção da justiça portuguesa? É esta a confiança que o líder do maior partido da oposição, e potencial candidato a primeiro-ministro de todos os portugueses, deposita na justiça portuguesa? Que é feito da serenidade, contenção e sentido de Estado que é necessário preservar por todos aqueles que detêm cargos políticos de relevância?

Quer um conselho, caro Dr.? Esteja calado.

PS: ontem, Luis Nazaré dizia, na SIC Notícias, que era para si estranho um juiz combinar com jornalistas a sua entrada no Parlamento. Como hoje me sinto particularmente generoso, vou dar um conselho ao Sr. Nazaré: esteja calado.

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