O MacGuffin

segunda-feira, maio 19, 2003

IMAGINEMOS, IRMÃOS

RTP2, 17 de Maio, Sábado à tarde. O Dr. Mário Soares vira-se para o Dr. Pacheco Pereira e, com o intuito de pôr os “seus [de JPP] neurónios a trabalhar”(sic) pergunta-lhe: “mas imagine que os EUA deixam de ser assim tão democráticos [Pacheco Pereira tinha, minutos antes, afirmado que os EUA são uma democracia e que isso tem que significar alguma coisa].”

A pergunta insere-se na estafada tese de Soares: os EUA têm de ser «confrontados» (a Europa deveria fazer esse papel) porque o mundo não pode ficar refém de uma hiper-potência, imperialista e neo-colonialista, servida por um texano idiota, evangélico e extremista. Daí o exercício: “imagine o senhor”...

Já que estamos em matéria de «imaginações», imagine o senhor, Dr. Mário Soares, que a hiperpotência se chamava URSS. Imagine o senhor que o mundo, tal como o conhecemos, deixaria de contar com a presença dos EUA e da Inglaterra. Imagine o senhor que o fundamentalismo islâmico decidia expandir-se por todo o mundo. Imagine o senhor que o Sr. Kim se sentia livre e não ameaçado para prosseguir a sua visão futurista da humanidade e do mundo. Imagine o senhor que a França teria, nas suas mãos, o poder militar dos EUA, e que em vez de Bush o mundo estaria à mercê desse humanista chamado Xiraque. Imagine...

O problema é que o Dr. Soares já não imagina que os EUA não são uma democracia. Ele tem a certeza que a administração Bush transformou os EUA numa ditadura, que se prepara para tomar o mundo. O Congresso, o Supremo Tribunal, o Senado, os tribunais, o “rule of law”, a constituição americana, o povo americano? O facto de ter sido no seio da sua querida e abstracta «Europa», e não nos EUA, que nasceram os totalitarismos ocidentais no Sec. XX (o fascismo, o nazismo e o comunismo)? Nada disso interessa. A História, as evidências e a realidade: tudo deve ser mandado às malvas porque, para o Dr. Soares, o que importa é imaginar.

“Imagine que os EUA não são assim tão democráticos”. Pois... Imagine o Dr. Mário Soares que a minha avó tinha rodas: diga lá se não seria parecida com um autocarro?

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