O MacGuffin

sábado, março 22, 2003

COMENTÁRIOS AO BLOG

Comentário de Francisco Mendes da Silva (por sinal o primeiro da história deste blog):
Parabéns e obrigado pelo novo blog. É bom saber que somos cada vez mais a ler Oakeshott & co.. Qualquer dia já não cabemos numa cabine telefónica! Permita-me, no entanto, o raspanete: isto de citar o Waugh filho para justificar uma aversão endémica à classe política e às jotas é muito bonito, mas a figura que se faz é a mesma da Europa pacifista, colaboracionista e preguiçosa a criticar os americanos, quando estes se sacrificam em todo o mundo pelos nossos valores. Há alguns anos que sou militante e dirigente de ma juventude partidária e, por muito que lhe custe acreditar, sou suficientemente polido para assinar a Spectator, ler o Telegraph e saber de cor algumas assagens de Oakeshott, Scruton, Tocqueville, Berlin, Eliot, Hayek, etc. Mas, para além disso, arranjo ainda tempo para que essas ideias saiam do papel, enfim, para que a política se faça de passos pequenos, mas seguros, para que o Estado tenha um papel subsidiário perante o indivíduo e as famílias. Por isso, sei bem melhor do que o MacGuffin de que falamos quando falamos dos políticos portugueses. É que eu como com eles à mesa, sempre o mesmo lombo de porco, sempre o mesmo vinho duvidoso, sempre a mesma conversa vazia. Não é um trabalho fácil, mas alguém tem de fazê-lo. Seria com certeza mais divertido se mais MacGuffins, JPCs, Mexias e PLs decidissem ajudar. Para que perceba melhor, dou-lhe com o Confúcio: "Quando na montanha não há leão, o macaco torna-se rei". Amigos?

Caro Francisco: obrigado pelo seu comentário e pelas suas palavras. E obrigado, também, pelo «raspanete». Percebo e aceito o seu ponto de vista. Admito que tenha sido injusto em colocar tudo e todos no mesmo saco. Assim como há bons e maus engenheiros, gestores, médicos ou advogados, existem bons e maus políticos. Admito, igualmente, que é inconsequentemente cómodo estar aqui, do lado de cá, a «malhar» indiscriminadamente sobre toda uma classe. Criticar é sempre fácil. Devo, contudo, dizer-lhe o seguinte: não tenho da política, nem dos políticos, uma opinião negativa. Pelo contrário. Mas, convenhamos, a classe política portuguesa parece estar sempre a pedi-las. Daí que seja habitual o já clássico queixume do ‘milieu’ relativamente ao “dizer mal”. “Dizer mal” é, invariavelmente, o comentário de muito bom político quando confrontado com o exercício da critica ou com a exposição do pessimismo, relativamente à ‘praxis’ política. O que muitos políticos desta praça ainda não perceberam (não estou a dizer ser esse o seu caso) é que, por detrás deste pessimismo, o «dizer mal» implica sempre «dizer bem», só que não dos seus actos ou da sua sofrível competência no desempenho das suas funções. O que eles não entendem é que o pessimista relata um mundo real e palpável (negativo do desejável), que raramente coincide com o imaginário do político – sempre povoado de triunfo, de «obra feita», de sucesso e optimismo. Nem reparam que, antropologicamente, a postura, por vezes patética, do optimista de serviço nunca foi causa de desenvolvimento social e económico.

Assiste-nos o direito de “dizer mal” sem que daí surja qualquer obrigação «pró-activa» (que palavra tão em voga...). Assiste-nos o direito de manifestar o nosso inconformismo face às meias-tintas e à mediocridade do “deixa estar, podias estar pior” ou o “faz-se assim, que já não é mau”, sem ter que necessariamente provar o que quer que seja. É útil e necessário que haja gente do «lado de fora», «cumprindo» o seu papel, mesmo sem papel formal. Até porque, como deve compreender, nem todos têm vocação e paciência para enfrentar as intricadas e obtusas máquinas partidárias.

Em suma, caro Francisco, não me peça para “participar”, “agir”, “associar” ou “ingerir”. Peça-me, antes, para, de forma não pretensiosa, desinteressada e livre, «morder» nas canelas dos políticos, ainda que por vezes injustamente. Nestas, como noutras coisas, é preferível pecar por excesso que por defeito.

Amigos? Claro!

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