O MacGuffin

sábado, março 22, 2003

UNIDADE EUROPEIA

Anda meio mundo preocupado com a actual desunião europeia. Apela-se ao consenso e à unidade, criticando, de passagem, os países que se colocaram ao lado dos EUA, alegadamente desrespeitando a posição «comum». Ainda não percebi a utilidade deste consenso, muito menos a paranóia pela «unidade». Lá dizia o Nelson Rodrigues: “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa de pensar”.

Sobre esta questão, houve já quem tivesse dito que Portugal, Espanha, Inglaterra e Dinamarca poderão ser alvo de «represálias» indirectas por parte da EU. Que ficarão «mal vistos». Que ficarão isolados. Brrrr...

Pergunto: que posição europeia? Que unidade? Aliás, que Europa? A Europa do eixo franco-alemão? Os ingénuos do costume ainda acreditam que existe uma Europa. É cada vez mais claro que “Europa” não passa de substantivo geográfico. O que este conflito veio demonstrar é o carácter artificial e frágil do projecto europeu. Convém lembrar que, até à data, a UE tem sido pouco mais do que um espaço económico e comercial. Está a milhas de ser um espaço homogéneo e congregador de consensos, princípios ou entendimentos de índole não economicista. É, hoje em dia, um corpo híbrido, impotente e inflexível em torno da prometida e essencial coesão social. Os actuais protagonistas da construção europeia, herdeiros directos dos anteriores em tudo o que se tem revelado de inconsequente, continuam a demonstrar uma inépcia confrangedora no que respeita a aspectos essenciais de caracter social e político. A UE atravessa um impasse que angustia quem no futuro pensa e decepciona quem no presente assiste. E a coisa vai piorar com o alargamento.

Lições? Várias. Em primeiro lugar, em matéria de política externa, é cada vez mais claro que cada país tem a sua e muito dificilmente se poderá sair daqui. Sem um exército comum, sem um directório para a Defesa com peso político e com «história», a Europa não irá a lado nenhum.

Enquanto a Europa insistir em evitar chatices e assobiar para o lado; enquanto a Europa não apostar numa estrutura militar comum e condigna que lhe permita ter força e poder, tendo a coragem de alocar para o efeito meios; enquanto isso acontecer, terão os norte-americanos de voltar a ser chamados, nem que seja para resolver assuntos internos (Kosovo). Em suma: se a Europa, o Dr. Jorge Sampaio, o Sr. Schröder e o Sr. Chirac quiserem emancipar-se da asa protectora dos EUA (que são ciclicamente presos por ter cão e não ter), terão de arregaçar as mangas e calçar as galochas. Lama e porcaria é o que por aí não falta.

Mas convém perguntar: quererão eles ter esse trabalho e essa tarefa, ombro a ombro com a potência «imperial»? Quererão eles correr o risco de ser acusados de provocar “danos colaterais” em populações civis? Quererão eles correr o risco de ser confundidos com a «corja» americana? Quererão eles correr o risco de ficar mal vistos aos olhos do Islão? Não me lixem.

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