O que para aí vai
O Daniel que me desculpe, mas este post é inacreditavelmente parvo. E, penso, potencialmente ofensivo para quem sofreu, na pele, o regime opressivo, estupidificante, irascível, do Estado Novo.
Não há comparação possível entre um regime ditatorial, seja ele 'mild' ou brutal, e a democracia em que vivemos. Nenhuma.
Entendamo-nos. Seria incivil mostrar um optimismo bacoco pelo momento actual. Ou fazer crer que este governo tem feito do bom e do melhor para ultrapassar a crise em que mergulhámos. Temos o direito, e nalguns casos o dever cívico, de nos manifestar e de exigir, deste poder, respeito, competência, dedicação à causa pública (até em coisas aparentemente simples, como o dever de um ministro explicar, ao povo, a opção política A ou B). Podemos discordar, ou achar insuportável, o carácter pusilânime ou tacanho das intervenções do Presidente da República. Podemos considerar que a tecnocracia manga-de-alpaca do ministro da Finanças é estupidamente rígida, ortodoxa, casmurra. Podemos, até, esquecer, para efeitos de retórica ideológica, que Portugal está sujeito a um espartilho de opções políticas, que advém do aperto económico-financeiro ditado pelo programa de resgate (que impõe metas e medidas, conducentes ao seu cumprimento). Não será curial, mas não é, certamente, grave.
Mas há limites. E um limite pode ser este: não estamos a sofrer, nem por sombras, o que os nossos compatriotas sofreram no pré-25 de Abril. Não podemos convocar o tipo de heroísmo e de resistência que manifestaram, então, para fazer a ponte com a «luta» contra as políticas de que discordamos, agora.
Há mais de 39 anos, os portugueses eram encarceradas, sujeitos a tortura, nalguns casos assassinados. Os jornais, as peças de teatro, os livros, as manifestações culturais, eram objecto de censura. Aliado ao medo da perseguição, por delito de opinião, sedimentava-se o silêncio e a auto-censura. Vivia-se num clima de medo: não o medo de perder o emprego ou de perder um subsídio de férias, mas o medo de perder um filho ou um familiar, de acabar preso, torturado ou no convés de um navio, a caminho de uma guerra estúpida.
Pela memória dessa gente, haja pudor no que se diz e no que se evoca. Nem tudo pode servir de arma de arremesso político.
E viva o 25 de Abril.
Não há comparação possível entre um regime ditatorial, seja ele 'mild' ou brutal, e a democracia em que vivemos. Nenhuma.
Entendamo-nos. Seria incivil mostrar um optimismo bacoco pelo momento actual. Ou fazer crer que este governo tem feito do bom e do melhor para ultrapassar a crise em que mergulhámos. Temos o direito, e nalguns casos o dever cívico, de nos manifestar e de exigir, deste poder, respeito, competência, dedicação à causa pública (até em coisas aparentemente simples, como o dever de um ministro explicar, ao povo, a opção política A ou B). Podemos discordar, ou achar insuportável, o carácter pusilânime ou tacanho das intervenções do Presidente da República. Podemos considerar que a tecnocracia manga-de-alpaca do ministro da Finanças é estupidamente rígida, ortodoxa, casmurra. Podemos, até, esquecer, para efeitos de retórica ideológica, que Portugal está sujeito a um espartilho de opções políticas, que advém do aperto económico-financeiro ditado pelo programa de resgate (que impõe metas e medidas, conducentes ao seu cumprimento). Não será curial, mas não é, certamente, grave.
Mas há limites. E um limite pode ser este: não estamos a sofrer, nem por sombras, o que os nossos compatriotas sofreram no pré-25 de Abril. Não podemos convocar o tipo de heroísmo e de resistência que manifestaram, então, para fazer a ponte com a «luta» contra as políticas de que discordamos, agora.
Há mais de 39 anos, os portugueses eram encarceradas, sujeitos a tortura, nalguns casos assassinados. Os jornais, as peças de teatro, os livros, as manifestações culturais, eram objecto de censura. Aliado ao medo da perseguição, por delito de opinião, sedimentava-se o silêncio e a auto-censura. Vivia-se num clima de medo: não o medo de perder o emprego ou de perder um subsídio de férias, mas o medo de perder um filho ou um familiar, de acabar preso, torturado ou no convés de um navio, a caminho de uma guerra estúpida.
Pela memória dessa gente, haja pudor no que se diz e no que se evoca. Nem tudo pode servir de arma de arremesso político.
E viva o 25 de Abril.
1 Comentários:
Parabéns por esta resposta, a melhor que li nos últimos tempos em relação a uma certa linha de pensamento, pensamento esse que nos trouxe à situação actual e mais não digo porque os comentários são moderados :-)
Como é sabido, o autor do post em causa, Daniel Oliveira, cujo blog também está nos meus favoritos, está num processo de reajuste partidário, o que tolda, certamente, a sua idiossincrasia.
José Manuel Nunes
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