É simples
O maradona explica:
Com Bruno de Carvalho, seremos nós a cair
"A vitória de Bruno de Carvalho nas eleições para o conselho directivo do Sporting Clube de Portugal representa a recusa dos seus sócios e adeptos em assistir à degradação, corrupção e eventual aniquilação do clube segundo os moldes que até agora nos foram propostos. Soubemos, felizmente, optar por uma decadência digna: teremos como presidente um dos nossos, um gajo que vive o clube disparatadamente, e não segundo o filtro do lazer, do passatempo, da "experiência nova", do conforto, do camarote bem posicionado e do diletantismo aristocrata (e nem vou entrar pelo lodo dos "interesses"). Não se trata apenas das estupendas burrice e estupidez dos mandatos de Bettencourt e Godinho, ou do lirismo idiota simultaneamente serôdio e futurista de Dias da Cunha ou Soares Franco; no desporto, sabemos que a distância entre competência e incompetência depende de uma distribuição de factores e condições em grande parte incompreensíveis ao edifício lógico, mais próximas da irregularidade caótica do bom-senso, da intuição e de uma sensibilidade especial com a alma humana e com a passagem do tempo; para nosso prejuízo, o sportinguista é um ser conhecedor e compreensivo com a inverosimilhança da realidade desportiva, especialmente quando a camisola é às riscas verdes; mas o que o sportinguista tem direito a exigir, e nestes últimos anos quase que nos roubavam essa derradeira dignidade, é de sermos nós a cair. Há década e meia pegaram no nosso clube e viajaram com ele para um local tão distante do adepto que quase nem nos sentíamos legitimados a sofrer: o "modelo de negócio", a "estrutura", o "projecto empresarial", "plantel profissional do sporting", ou a puta da "SAD" e os seus esotéricos comunicados à "CMVM", foram entrelaçando-se numa impenetrável malha de sujeitos a quem cabiam as responsabilidades de cada derrota, que nos substituiam na humilhação, que se envergonhavam por nós de cada vez que o Gelson Fernandes enviava um centro para trás da baliza. O mais grave da transformação do sportinguista de actor do que se passa em campo, para mero espectador de uma coreografia desportiva subsidiária de "modelos gestão", não será tanto a consequente dormência e anestesia, mas algo que argumento poder ser mais profundo: o estabelecimento de uma distância definitiva em relação à própria responsabilidade de sentir culpa, vergonha, raiva ou ódio. Durante os últimos anos o sportinguismo percorreu a quase totalidade da estrada que, no seu fim, inocenta o adepto de desenhar uma intimidade particular e privada perante o que sucede no campo de futebol, por mais corrupta ou infiel que nos pareça à identidade que imaginamos propriamente sportinguista. Para mim, isto não tem perdão; a alma pode ser recuperada tantas vezes quantas as que a percamos, mas se abandonarmos o instinto que nos informa da utilidade de demonstrar vontade colectiva, e onde é que devemos procurar para a encontrar e mobilizar, então sucede algo pior que a morte: o esquecimento; e se calha a esquecermo-nos de que estamos mortos, então, meu amigos, então não há zeus que nos salve. Na eventualidade provável de Bruno de Carvalho não ser a nossa redenção (já nem sonho com a glória, só com o perdão), contudo levar-nos-à por caminhos que inevitavelmente nos recordarão o que seria necessário, na posse da sorte e da força que antes demonstrámos, para voltarmos a ser o que nos criou."
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