Sobre o congresso
Vasco Pulido Valente, no jornal Público de 25/03/2012
Tristezas
"O congresso de um partido, de qualquer partido, mesmo visto à distância (pela televisão) deixa deprimida e doente uma pessoa normal. Não só pelo arzinho autogratulatório da coisa, pelo espanejamento das "notabilidades" ou antigas "notabilidades" da tribo, pela ridícula apologia dos "poderes" da casa, mas sobretudo pela irredimível vacuidade do exercício. Horas sem fim as galinhas cacarejam e a capoeira bate palmas por nada e para nada. Para cúmulo, o espectáculo costuma ser acompanhado e "analisado" por um bando de comentadores, que repetem com grande gravidade o que ouviram e se esforçam por descobrir um sentido qualquer a um ritual sobre o pindérico e manifestamente sem sentido nenhum. O PSD já vai em 34 congressos sem dar sinais de melhorar.
Anteontem, os "trabalhos" (se a palavra se aplica) foram, por assim dizer, "abertos" por um interminável discurso de Pedro Passos Coelho. Fora uma ameaça ao PS de uma completa inconsequência, o discurso tornou a informar o partido e os portugueses do que o "chefe" pensava e que, de resto, já tinha dito em vários tons que pensava na Assembleia da República e em centenas de outras declarações por todo o país e pelo mundo inteiro. Parece que Portugal vai cumprir os compromissos com a troika e que não vai pedir mais tempo, nem dinheiro, doa o que doer ao "lombo" dos nativos, por quem Passos Coelho, como lhe compete, nutre uma especial ternura. Lá em casa, ficámos naturalmente contentíssimos com a resolução e o afecto do "chefe" e, por uma vez, conseguimos dormir em paz.
A terceira parte da peroração foi sobre o aparente objectivo do Congresso: o novo programa do PSD. Esse programa, congeminado pelo magnífico doutor Aguiar Branco, proclama o PSD como um irremovível sustentáculo da "social-democracia à portuguesa", um conceito até hoje desconhecido, mas que reafirma numa Europa confusa a nossa perspicácia e originalidade. Tanto quanto percebi a "social-democracia à portuguesa" é intransigentemente "humanista" e "personalista"; e quer, do fundo do coração, salvar o Estado Social e libertar os portugueses da tutela do Estado. Passos Coelho, por exemplo, não aceita (e não tenciona tolerar) que o Estado se aproprie indefinidamente de 50 por cento do PIB. Isto, em princípio, consola muito, se ninguém perceber que "salvar o Estado Social" custa pelos menos 50 por cento do PIB. Mas Passos Coelho garantiu e tornou a garantir que era um "realista" e nós devemos confiar."
2 Comentários:
mas isto estava a ir tao bem.
30dias a espreitar e nada de novo.
esperamos regresso. um abraco
aguardo por mais posts e citações das boas
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