O MacGuffin: Replica

quinta-feira, maio 05, 2011

Replica

Caro Henrique,

Entenda-me: eu estive, e estou, consigo na crítica a uma certa escola portuguesa de comentário político, bafientazinha na sua mesquinhez, contentinha com o seu umbigo e medrosa quando toca a melindrar o poder. Apenas contestei, especificamente, o seu reparo à converseta dos «tiros nos pés». Os tiros ocorreram. Cometeram-se erros, nalguns casos não propriamente despicientes (e que se podem pagar caro). Falar disso é útil, legítimo e inevitável, dado o aflitivo diferimento, que parece de natureza perene, do aumento das intenções de voto no principal partido alternativa ao Partido Socialista. Não me parece razoável, para não dizer exequível, que o desnível de ordem moral entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho, que é notório e nos meus argumentos nunca esteve em causa, possa servir como moeda de troca para extinguir ou desvalorizar as críticas às pontuais mas aflitivas inépcias políticas deste PSD. Não está em causa, nem foi sobre isso que aqui falei, a desonestidade inerente a qualquer equivalência moral entre a demagogia, o cinismo e a conduta absolutamente cretina de José Sócrates, e a ingenuidade/falta de jeito/amadorismo de Pedro Passos Coelho. A diferença de que se deve falar não é esta – que é incontestável e tem o seu peso – mas outra: a que respeita à eficácia do discurso político, que passa, também, pela boa e sábia utilização do espaço público (que é livre quanto baste). Manuela Ferreira Leite perdeu umas eleições carregada de razão e de moral. Não gostaria que a história se repetisse. É a diferença entre saber que se tem razão e convencer os outros de que se tem razão, mesmo, ou sobretudo, no mar imenso de desonestidade no debate público (que é o coeficiente linear nesta equação).

Por último, não defendi uma total incompatibilidade entre uma certa ideia de liberalismo e a sociedade portuguesa. O que eu digo é que um bom político (no mais nobre sentido do termo, e não no sentido manhoso do Eng. Pinto de Sousa) é também aquele que sabe em que sociedade está inserido e para quem está a falar. A mudança de uma sociedade tendencialmente «conservadora» (aqui como adjectivo e no sentido de «atrasada») para uma sociedade «liberal» (no sentido da crescente e decisiva emancipação da sociedade civil relativamente ao Estado e às suas instituições) fará o seu curso lento e sinuoso, se necessário for contra os discursos voluntariamente «inovadores» e parcos em prudência.

Abraço,

Carlos

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