O João Marcelino é que sabe
A defesa apaixonada do Wikileaks feita por João Marcelino, parte do seguinte pressuposto: tudo às claras, desde que não toquem nas minhas fontes e nas minhas conversas «off the record». Ou seja, na minha (dele) esfera privada ninguém toca. Porquê? Porque, tenho a certeza, João Marcelino decreta-la-á de desinteresse público. Critério dele, claro. Os «arautos da verdade» são os outros, que têm «preconceitos», «medos» ou «dependências». O João Marcelino, não. O director do DN afasta-se, assim e em definitivo, da seita dos «arautos» quando decreta: tudo é do interesse público e ninguém tem o direito de decidir o que não é. A Verdade do João Marcelino está, definitivamente, acima das verdades dos «arautos».
Muito bem: eu acho (bom, se calhar não posso achar nada, se o João Marcelino me decretar um «arauto») que é do interesse público saber até que ponto João Marcelino e o jornal que dirige é permeável e conivente com o poder instituído. Há muito que se lança esse terrível anátema sobre a direcção de um importante jornal nacional. Tenho um amigo hacker que, para a semana, vai prestar um inestimável serviço à liberdade de expressão, sacando todos os emails trocados entre o director, chefes de redacção e jornalistas do Diário de Notícias, e membros ou assessores de imprensa do governo.
PS: João Marcelino invoca «preconceitos» e «dependências». É a saída fácil: as «dependências» e os «preconceitos» têm mau nome na praça. Quem se atreve a desdizer um clamor por mais objectividade e independência? João Marcelino ignora, esquece ou desvaloriza um «pequeno» pormenor: toda a civilização ocidental assenta (no sentido de condição necessária) em preconceitos e dependências. Exemplo: o papel de escrutínio do poder (económico e político), atribuído ao jornalismo, parte de um preconceito: o de que o poder corrompe, perverte, tende para a dissimulação. Ou seja, há preconceitos e preconceitos. Ou como disse Mark Twain, “I know I am prejudiced on this matter, but I would be ashamed of myself if I were not.” O problema é que a questão Wikileaks tem muito pouco que ver com «preconceitos» ou «dependências». Tem que ver com a arrogante e egoísta tendência dos que, em nome do «racionalismo» e da «verdade» (a sua verdade, auto-validada), fazem tabula rasa de valores, conceitos (não preconceitos) e preceitos de ordem moral que, até há bem pouco tempo, se consideravam «absolutos» por via da aceitação colectiva e tácita de realidades metafísicas: a privacidade; o sigiloso; a hipocrisia ao serviço do civismo e das convenções sociais. Discutir as revelações do Wikileaks sem perceber que há coisas que interessa saber, outras que nem por isso e outras que importa não revelar, é não perceber nada.
Muito bem: eu acho (bom, se calhar não posso achar nada, se o João Marcelino me decretar um «arauto») que é do interesse público saber até que ponto João Marcelino e o jornal que dirige é permeável e conivente com o poder instituído. Há muito que se lança esse terrível anátema sobre a direcção de um importante jornal nacional. Tenho um amigo hacker que, para a semana, vai prestar um inestimável serviço à liberdade de expressão, sacando todos os emails trocados entre o director, chefes de redacção e jornalistas do Diário de Notícias, e membros ou assessores de imprensa do governo.
Pode ser João Marcelino? Não há limites, pois não? Óptimo.
PS: João Marcelino invoca «preconceitos» e «dependências». É a saída fácil: as «dependências» e os «preconceitos» têm mau nome na praça. Quem se atreve a desdizer um clamor por mais objectividade e independência? João Marcelino ignora, esquece ou desvaloriza um «pequeno» pormenor: toda a civilização ocidental assenta (no sentido de condição necessária) em preconceitos e dependências. Exemplo: o papel de escrutínio do poder (económico e político), atribuído ao jornalismo, parte de um preconceito: o de que o poder corrompe, perverte, tende para a dissimulação. Ou seja, há preconceitos e preconceitos. Ou como disse Mark Twain, “I know I am prejudiced on this matter, but I would be ashamed of myself if I were not.” O problema é que a questão Wikileaks tem muito pouco que ver com «preconceitos» ou «dependências». Tem que ver com a arrogante e egoísta tendência dos que, em nome do «racionalismo» e da «verdade» (a sua verdade, auto-validada), fazem tabula rasa de valores, conceitos (não preconceitos) e preceitos de ordem moral que, até há bem pouco tempo, se consideravam «absolutos» por via da aceitação colectiva e tácita de realidades metafísicas: a privacidade; o sigiloso; a hipocrisia ao serviço do civismo e das convenções sociais. Discutir as revelações do Wikileaks sem perceber que há coisas que interessa saber, outras que nem por isso e outras que importa não revelar, é não perceber nada.
2 Comentários:
Belo e corajoso texto. Parabéns!
Muito obrigado.
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