O MacGuffin: Incurável demagogia

domingo, setembro 20, 2009

Incurável demagogia

Por Vasco Pulido Valente in Público 20/09/2009

Invenções

O ministro do Fomento do governo Zapatero, José Blanco, repetiu esta semana uma evidência: ninguém por lá quer que Portugal seja uma província espanhola. Não custa perceber porquê. Portugal é um país pobre, economicamente indesejável; e a absorção de Portugal iria complicar o problema das nacionalidades, já de si quase irresolúvel. É preferível investir no pouco que temos de rentável ou comprar o que não aproveitamos, sem qualquer compromisso ou envolvimento político. Mas não fosse isso, o tempo da anexação territorial, de direito ou de facto, já passou e a "Europa", pelo menos no Ocidente, tende em toda a parte para a autonomia regional. Manuela Ferreira Leite não desconhece esta realidade elementar e não imagina com certeza que a Espanha (ou mais propriamente Castela) alimenta o desígnio diabólico de acabar com a nossa independência.

Quando num debate disse a célebre frase "Portugal não é uma província espanhola" pretendia evidentemente dizer que no caso do TGV se guiaria pelo nosso interesse doméstico e não pelo interesse da Espanha. Nada que não façam os 27 membros da "União". Só que a incurável demagogia do PS (e da esquerda) resolveu transformar essa observação inócua e mais do que vulgar num sinal gravíssimo e profundo do conservadorismo da senhora. De repente ela é "salazarista" e "retrógrada" e pretende ressuscitar os "mitos" do Estado Novo (ou de que o Estado Novo se serviu). Sócrates pergunta ao bom povo se prefere "recuar" ou "avançar" e jornalistas de que, em princípio, se esperava algum juízo acusam o PSD de "populismo" - ou, no calão da seita, de "fascismo".

Assim se inventou um "caso" que não existe e uma personagem imaginária, a que Sócrates se pode contrapor, sem tropeçar na incompetência imperdoável do seu mandato. Segundo a versão oficial, Manuela Ferreira Leite levaria o país para o isolamento e as trevas do "antigo regime", enquanto Sócrates nos promete e jura um caminho de modernidade e de abundância. Do TGV não se fala, porque as razões para o adiar não recomendam o realismo de Sócrates. Mas por muito que se tente torcer e retorcer a questão, a fantasia do "antiespanholismo" de Ferreira Leite não esconde o estado miserável do Portugal que o PS nos lega. As pessoas estão mesmo fartas de poses, de aventuras, de mentiras. Fartas.

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