O MacGuffin: Moderado tipo quê?

sábado, junho 20, 2009

Moderado tipo quê?

Vai para aí grande comoção, subgénero inquietação, em torno do resultado das eleições no Irão. Segundo se lê ou depreende das conjecturas e do grave trabalho intelectual dos especialistas, há um bravo e justo candidato – apelidado de «o moderado» - que foi, aparentemente, derrotado por uma putativa manobra burlosa encetada, claro está, pelo candidato «radical» ou, se quiserem, «imoderado» - o tal que se encontrava em funções e que ardilosamente controlava ou dominava o «sistema». Ahmadinejad – é este o nome do pulha – terá ganho as eleições de forma fraudulenta, coarctando ao Irão a possibilidade de abraçar o clube dos países civilizados, tolerantes, amantes da liberdade, do rule of law e do princípio da separação de poderes. Não se sabe ao certo como e em que condições se deu a tramóia. Em bom rigor, parte-se do princípio de que houve «quase certamente uma vitória eleitoral fraudulenta», nas palavras de Lee Sustar, do Socialist Worker (cujas fontes são também «quase certamente» fidedignas) porque «a rua» está ao rubro e «a rua» raramente se engana, sobretudo quando apoia os justos. Os apoiantes de Mir-Hossein Moussavi, elevado entretanto à categoria de «Ghandi Persa» ou «Martinho Lutero Rei do Islão» (as expressões são minhas, atenção), reclamam por estes dias vitória e berram com absoluto vigor e comovente convicção «houve vigarice!»

Sem querer perturbar a razão dos plumitivos e melindrar aquele que se afigura como um sinal de «mudança» e de «esperança» para os iranianos, gostava muito que me explicassem duas ou três coisas.

Moussavi é um «moderado». A sério? Moderado em que sentido? Defende, segundo consta, mais direitos para as mulheres. Quais direitos e com que alcance? Que tipo de intervenção preconiza Moussavi para as mulheres iranianas? Poderem alugar apartamentos sozinhas? Viajar para o estrangeiro sem ter que passar pela casa "dá-me licença maridinho»? Exibir o cabelo?

Em relação ao nuclear, o que pensa Moussavi fazer: pôr termo ao programa nuclear de Ahmadinejad?

Em relação a Israel: o espírito moderado que supostamente lhe corre, purificador e redentor, nas veias, impeliria Moussavi a reconhecer Israel como um Estado soberano e legítimo? E em relação ao Holocausto: Moussavi insitiria na tese de Ahmadinejad, segundo a qual o Holocausto não passou de uma fantasia histórica engendrada pelos judeus «controleiros» ou, pelo contrário, reconheceria publicamente ter sido uma tragédia medonha concreta que atingiu o povo judeu?

E sobre os judeus: Moussavi já não os quereria ver afogadinhos no mar? Como moderado, contentar-se-ia apenas em os vergastar?

Pronto. Desculpem lá qualquer coisinha. A luta continua. Ahmadinejad para a rua!

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