O MacGuffin: Xiii, as eleições… já foram há tanto tempo

terça-feira, janeiro 31, 2006

Xiii, as eleições… já foram há tanto tempo

Soares
Há por aí uma edificante e comovedora tese segundo a qual o Dr. Soares foi enganado, usado, maltratado, mal aconselhado, etc., por amigos (genuínos e da onça), séquitos, jotinhas e povo socialista em geral. Há, até, aqueles que tendo votado Cavaco, declaram, agora, pesarosos, já evidenciando um excesso de fluido a caminho dos dutos nasolacrimais, que o «homem não merecia aquilo». Recorrem, por exemplo, à «digna» e «exemplar» declaração final, na noite das eleições e, como não podia deixar de ser, ao pedigree político do Dr. Soares. Longe de mim interromper o drama – que, como se sabe, faz parte do devir lusitano – mas convinha analisar a coisa com a devida prudência e, já agora, que se faz tarde, sem excrescências de novela barata. Prometo ser sintético. Primeiro: o Dr. Soares meteu-se no atoleiro de livre vontade. Foi ele que, magnânimo, mandou avisar Sócrates da sua «disponibilidade». Ninguém o empurrou para o palanque. Segundo: muitos houve que, junto dele, o avisaram. Crer que toda a minha gente o apoiou incondicionalmente e desde a primeira hora, é, no top-five da ingenuidade, o mesmo que acreditar que Alegre se candidatou exclusivamente por via das «convicções». Ou seja, uma treta. Terceiro: o Soares da «digna» declaração final é o mesmíssimo Soares do “ele nem faz ideia do que dizem dele, lá, em Bruxelas, sim que eu tenho amigos que me contam e, no fundo, ele não tem categoria, não tem formação, é um rígido, uma esfinge, e não passa de um economista razoável sem cultura que me pode vir a tirar o sono”. Quarto: Soares nada disse durante a campanha. Não adiantou uma só ideia sobre o cargo que propunha ocupar. Nem sobre o momento actual (lamentar não chega), nem sobre a Europa (sobre a falência do seu querido modelo social), nem sobre o mundo (descontando a habitual ladainha anti-bushista e anti-imperialista). Não evitou, por incapacidade ou casmurrice, o mais bafiento e requentado vocabulário ideológico. Para «animal político» com pedigree, Soares revelou-se uma nulidade. Ou, se quiserem, uma sombra de si mesmo. Quinto: a importância que, durante a campanha, Soares deu a Alegre (cuja mediocridade do discurso deveria ser mais do que suficiente para o remeter à sua condição de politico sofrível e inócuo) não só concorreu para a fatalidade como reflectiu a inexorabilidade da passagem do tempo sobre a cabeça do «senador».

Alegre
Em qualquer país com uma cultura política minimamente elevada (há poucos, eu sei), Alegre não teria passado da fasquia dos 10%. O discurso das «convicções» e do «anti-sistema» (logo ele…), aliado à imagem ficcionada de outsider com ideias próprias, teria sido chumbado à nascença. De cada vez que Alegre abriu a boca sobre questões concretas, saiu desconhecimento, disparate e ingenuidade. Mas, lá está: o povo sempre apreciou estes assomos de heroísmo com direito a «movimento de cidadãos». O velho «deslarguem-me que eu tenho que falar!»

Louçã
O discurso da noite eleitoral diz tudo sobre a personagem: um fino demagogo, dono de um palavreado elaborado que, à superfície, aparenta bom-senso, a dose q.b. de «convicção» (ai as benditas convicções!) e um razoável sentido de justiça. Na aparência, tudo aquilo funciona bem. O pior vem depois, quando se começa a dissecar o arrazoado e se percebe que tudo aquilo é fogo fátuo. Destas eleições resulta o seguinte: o BE já deu o que tinha a dar. E Louçã revelou sabê-lo enquanto insistia na propaganda histriónica, já a noite ia longa e a festa tinha acabado.

Jerónimo
Um gajo porreiro.

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