Por partes, Besugo
Seguindo a sua ordem:
1. Eu não meti Cunhal no mesmo saco de Hitler, Pol Pot, Mao ou Estaline. O contexto e o sentido, Besugo: são muito importantes. Quando trouxe à colação esse grupo de benfeitores, foi com o intuito de explanar uma coisa aterradoramente simples: aludir à «coerência» ou às «convicções» como forma de elogio, não interessa nem ao menino Jesus. Ser-se «coerente» ou «convicto», por si só, não garante nada. A «coerência» e as «convicções» não podem ser tomadas como fins. Daí, repito, ter insinuado o óbvio ululante: a História está repleta de «coerentes» e «convictos» que espalharam o terror e a morte.
2. «Independentemente»? Nunca «independentemente». Nunca.
3. Ninguém negou importância ao que de admirável pode ter a coragem ou a capacidade de resistência. «Cagão» é puxar desses galões, como se um homem se pudesse reduzir a isso. De resto, há cobardias com as quais me identifico, e coragens que me envergonham.
4. Mais uma vez, depende. Depende do contexto, do timing, etc. A luta e a resistência de Cunhal foram, a partir de certa altura, o seu pior inimigo. Atraiçoaram-no. Levaram-na à caricatura de si mesmo. E à fossilização. Lutar «assim», ou resistir «assim», não foram sinónimos de «lutar bem».
No meu caso, não se tratou de «conversa global». «Conserva global» é essa: a do «lutou assim, resistiu assado, esqueçamos o resto». Contra argumentos não há factos? Ou contra factos não há argumentos? O facto de Cunhal ter resistido corajosamente (dou de barato isso) contra a ditadura, não o iliba: a) das suas ideias políticas (que eu tenho a liberdade e a «convicção» de achar profundamente erradas); b) das suas ligações ao aparelho soviético e da forma como branqueou a História, negando, ou desvalorizando, os atentados contra a humanidade perpetrados pelo seu modelo político e social (como se a História seguisse um curso inexorável, pontuada por inevitáveis «danos colaterais» sobre os quais se devia e, pelos vistos, deve desviar o olhar); 3) do seu papel e das suas intenções no PREC e no pós-PREC.
Desconstruir? Precisamente, Besugo: trata-se de desconstruir uma construção fabulosa e mitológica, baseada numa bravata de clichés e ideias feitas (a que não é alheia a supranormalização de termos como «coragem», «resistência» e «luta»), por sua vez ligada a uma ignóbil complacência para com o marxismo-leninismo - como se, ao fim de tantos anos, o marxismo-leninismo continuasse a encerrar uma suposta pureza moral e uma etérea nobreza de princípios, que encantou gerações apesar dos factos e contra a História.
«Olha logo quem», não é Besugo? Olha logo o campeão da auto-estima e das certezas, a tomar-se por «desgraçadinho». Deixe-se de tretas, está bem? Resista à presunção e à má-fé. Se, por um momento, tivesse querido «despachá-lo», não estaria agora a responder-lhe. Nem a agradecer-lhe a declarada e agradabilíssima intenção de me sobreviver. Você leva-se e leva-me demasiado a sério.
1. Eu não meti Cunhal no mesmo saco de Hitler, Pol Pot, Mao ou Estaline. O contexto e o sentido, Besugo: são muito importantes. Quando trouxe à colação esse grupo de benfeitores, foi com o intuito de explanar uma coisa aterradoramente simples: aludir à «coerência» ou às «convicções» como forma de elogio, não interessa nem ao menino Jesus. Ser-se «coerente» ou «convicto», por si só, não garante nada. A «coerência» e as «convicções» não podem ser tomadas como fins. Daí, repito, ter insinuado o óbvio ululante: a História está repleta de «coerentes» e «convictos» que espalharam o terror e a morte.
2. «Independentemente»? Nunca «independentemente». Nunca.
3. Ninguém negou importância ao que de admirável pode ter a coragem ou a capacidade de resistência. «Cagão» é puxar desses galões, como se um homem se pudesse reduzir a isso. De resto, há cobardias com as quais me identifico, e coragens que me envergonham.
4. Mais uma vez, depende. Depende do contexto, do timing, etc. A luta e a resistência de Cunhal foram, a partir de certa altura, o seu pior inimigo. Atraiçoaram-no. Levaram-na à caricatura de si mesmo. E à fossilização. Lutar «assim», ou resistir «assim», não foram sinónimos de «lutar bem».
No meu caso, não se tratou de «conversa global». «Conserva global» é essa: a do «lutou assim, resistiu assado, esqueçamos o resto». Contra argumentos não há factos? Ou contra factos não há argumentos? O facto de Cunhal ter resistido corajosamente (dou de barato isso) contra a ditadura, não o iliba: a) das suas ideias políticas (que eu tenho a liberdade e a «convicção» de achar profundamente erradas); b) das suas ligações ao aparelho soviético e da forma como branqueou a História, negando, ou desvalorizando, os atentados contra a humanidade perpetrados pelo seu modelo político e social (como se a História seguisse um curso inexorável, pontuada por inevitáveis «danos colaterais» sobre os quais se devia e, pelos vistos, deve desviar o olhar); 3) do seu papel e das suas intenções no PREC e no pós-PREC.
Desconstruir? Precisamente, Besugo: trata-se de desconstruir uma construção fabulosa e mitológica, baseada numa bravata de clichés e ideias feitas (a que não é alheia a supranormalização de termos como «coragem», «resistência» e «luta»), por sua vez ligada a uma ignóbil complacência para com o marxismo-leninismo - como se, ao fim de tantos anos, o marxismo-leninismo continuasse a encerrar uma suposta pureza moral e uma etérea nobreza de princípios, que encantou gerações apesar dos factos e contra a História.
«Olha logo quem», não é Besugo? Olha logo o campeão da auto-estima e das certezas, a tomar-se por «desgraçadinho». Deixe-se de tretas, está bem? Resista à presunção e à má-fé. Se, por um momento, tivesse querido «despachá-lo», não estaria agora a responder-lhe. Nem a agradecer-lhe a declarada e agradabilíssima intenção de me sobreviver. Você leva-se e leva-me demasiado a sério.
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