Não vejo melhor forma de dizer isto
(ou Mai’Nada!)
“Vão-me desculpar, mas não vejo melhor forma de dizer isto: há-de ser necessário ter uma vida muito próxima do estado vegetativo – trabalhar como fiel num armazém em Trondheim, ser especialista em nutrição de «hamsters» siberianos, estar a preparar um mestrado acerca dos rituais de acasalamento das trilobites no Paleozóico – para achar que as canções dos Belle and Sebastian podem ser vagamente interessantes, imaginar que, depois dos Smiths, elas foram a melhor oferenda dos céus àquela tribo de jovens intelectuais linfáticos que deprimem profundamente perante a devastadora visão do pacote de «cornflakes» vazio ou até – coloquemos as coisas mais claramente – supor que se trata daquilo a que nos habituámos a chamar pop. Não, a música dos Belle and Sebastian é apenas o equivalente musical da «literatura» embaraçosa que habitualmente se aloja nas páginas dos diários privados de adolescência e que, nos casos mais benignos, é rapidamente incinerada em auto-de-fé assim que o Clearasil começa a surtir efeito. E, num casamento particularmente feliz de forma e conteúdo, vertida para o interior de uma morna canjinha sonora que, aparentemente, consola os corações sensíveis e apazigua os dois-dóis sentimentais (…).”
João Lisboa in Expresso 10-6-2005
“Vão-me desculpar, mas não vejo melhor forma de dizer isto: há-de ser necessário ter uma vida muito próxima do estado vegetativo – trabalhar como fiel num armazém em Trondheim, ser especialista em nutrição de «hamsters» siberianos, estar a preparar um mestrado acerca dos rituais de acasalamento das trilobites no Paleozóico – para achar que as canções dos Belle and Sebastian podem ser vagamente interessantes, imaginar que, depois dos Smiths, elas foram a melhor oferenda dos céus àquela tribo de jovens intelectuais linfáticos que deprimem profundamente perante a devastadora visão do pacote de «cornflakes» vazio ou até – coloquemos as coisas mais claramente – supor que se trata daquilo a que nos habituámos a chamar pop. Não, a música dos Belle and Sebastian é apenas o equivalente musical da «literatura» embaraçosa que habitualmente se aloja nas páginas dos diários privados de adolescência e que, nos casos mais benignos, é rapidamente incinerada em auto-de-fé assim que o Clearasil começa a surtir efeito. E, num casamento particularmente feliz de forma e conteúdo, vertida para o interior de uma morna canjinha sonora que, aparentemente, consola os corações sensíveis e apazigua os dois-dóis sentimentais (…).”
João Lisboa in Expresso 10-6-2005
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