O MacGuffin: The Life Aquatic With Steve Zissou

quarta-feira, abril 13, 2005

The Life Aquatic With Steve Zissou

Um cão pirata sem uma perna; um trovador brasileiro (Seu Jorge) versado em covers de Bowie; um alemão (Willem Dafoe) não-estereotipado, sedento de um pai e com um nível de auto-estima abaixo de cão; um suposto explorador aquático (o fabuloso Bill Murray) com tiques de misantropia, sentido de orientação nulo, conhecimentos científicos duvidosos, armado em Jacques Cousteau e dono de um decrépito barco chamado Belafonte onde tudo parece funcionar à beira de um ataque de fusíveis; uma cientista filantropa (Angelica Huston), filha de bilionários, companheira de Zissou e ex-mulher de um pintas (Jeff Goldblum) que não é mais do que o nemesis do explorador armado em Jacques-Cousteau; um amigo perdido na boca de um tubarão-jaguar que ninguém sabe se existe; um suposto filho tardio (Owen Wilson) que não desperta grandes instintos paternais em Zissou, apesar da boa vontade de ambos (à imagem, aliás, de Royal Tenebaum/Gene Hackman); uma jornalista grávida (Cate Blanchett), vértice de um triangulo com pai e filho; um promotor/benfeitor (Michael Gambon) que tenta, a todo o custo, manter a empresa Zissou à tona de água.

Eis o universo andersoniano em todo o seu esplendor: familias disfuncionais, personagens deslocadas, exuberantes, excêntricas até na sua própria inocência, em cena num palco pincelado por um estilo barroco à lá 70’s, que confere ao filme uma aura revivalista e, ao mesmo tempo, nostálgica. Uma comédia, sim, mas uma comédia que recusa atirar-se à gargalhada fácil, procurando e estimulando, antes, o mais tímido e emotivo dos sorrisos. Se em The Royal Tenenbaums o filme tomava a forma de um livro, desta vez toma a forma de um documentário démodé sobre a vida marinha, onde os crustáceos são listados e os peixes de plasticina. Um mundo perdido, extinto, onde o analógico ainda vencia o digital, o amadorismo real suplantava o profissionalismo asséptico; onde se bebia Campari on the rocks ao som de um sintetizador Casio; onde se usava sneakers Adidas Superstar e fatos de treino de cores garridas; onde Bowie se travestia de Ziggy Stardust a caminho de Marte.

Anderson é um perfeccionista, um meticuloso artesão de ambientes em jeito de fábula, recheados de personagens ricas que se insinuam sobre nós de forma perfeita. Mais uma vez, por entre o formalismo, a plasticidade, a sátira e o bizarro, Anderson volta a tocar-nos como só ele o sabe fazer.


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