CORREIO
De Fernando Gomes da Costa:
Confissões de comedor de hambúrgueres
(“Size me up” ou “dumb me down”?)
Embora ciente do que isso significa como cedência ao poder económico/yankee dominante, confesso que costumo com alguma regularidade comer nos McDonald’s. Tenho no entanto fé (ups! estou a entrar por caminhos perigosos…), queria antes dizer, convicção, que tal fraqueza não será por enquanto motivo para me vedar o caminho a algum cargo público relevante ou mesmo a um qualquer lugar no Parlamento Europeu, e por isso lá arranjei coragem para escrever este testemunho.
Ainda não experimentei, não sei se por falta de imaginação se por falta de apetite, fazer como o protagonista e realizador do filme “Size me up”. Para quem não tem ouvido ou lido alguns dos nossos meios de comunicação que declaradamente o veneram, explico que se trata da última coqueluche na área dos filmes/propaganda/ensaboadela progressista ultimamente muito em voga.
O argumento, de uma densidade profunda e só igualada pela sua objectividade científica, consiste na metamorfose (Kafka não faria melhor) de um indivíduo que, por razões ponderosas, resolve durante um mês inteiro fazer um regime com três refeições por dia de apenas hambúrgueres e batatas fritas (versão super-menu quase sempre).
No final, num volte-face inesperado, o herói não morre, o que pode levar os mais malévolos a insinuar que afinal os Mac não são assim tão perigosos. Imagine-se, por exemplo, o que lhe fariam 30 dias de um regime muito mais português e muito menos globalizante de farturas e vinho, ou coiratos e enchidos, ou mesmo feijoada e jeropiga… Mas a verdade é que ele sai da aventura algo combalido, segundo parece com 13 quilos a mais e um colesterol elevado, embora os médicos que o seguiam atentamente nesta missão de alto risco não suspendessem a experiência, não sabemos se por ambicionarem ter o primeiro mártir artista/cientista da História, se por ele gostar mesmo muito de hambúrgueres e batatas fritas.
Não tendo sido o filme da minha vida, talvez por eu não ser um Eduardo Prado Coelho, confesso que me deixou a pensar. Por que razão irei eu aos McDonalds? Será que, mesmo sendo médico, tenho uma compulsão freudiana que não detecto? Será que a terrível dominação dos interesses económicos me obriga subliminarmente a mim e a tantos inocentes a lá ir comer? Será da adrenalina que causam as actividades de alto risco? Será que é por ser barato, rápido, saboroso, e não fazer mal de maior desde que, como com qualquer outra comida, não se abuse? (esta hipótese claro que é falsa). Não sei. Se calhar é porque, como diz um amigo meu, é a única situação em que ao mesmo tempo que se mata a fome e se pode ter o gozo de se estar publicamente a mandar aquela parte os sermões do progressismo revolucionário/chic e os fundamentalistas das sociedades alternativas. Se eu fosse publicitário, sugeria mesmo à McDonald’s o slogan “a única comida que também é ideologia”.
Pensando bem, acho que afinal a minha motivação principal é acreditar que sempre é melhor submeter-se ao pronto-a-comer do que ao pronto-a-pensar.
Fernando Gomes da Costa
(Nota destinada a todos os que generosamente zelam pela nossa liberdade, segurança, e nos protegem dos males da globalização e de outros maus caminhos: o autor destas linhas comunica publicamente que não foi, não é, nem nunca será accionista da McDonalds (embora gostasse…) ou de qualquer outro modo beneficiário de algum dos milhões de dólares que esta multinacional diariamente factura (com muita pena sua)).
Confissões de comedor de hambúrgueres
(“Size me up” ou “dumb me down”?)
Embora ciente do que isso significa como cedência ao poder económico/yankee dominante, confesso que costumo com alguma regularidade comer nos McDonald’s. Tenho no entanto fé (ups! estou a entrar por caminhos perigosos…), queria antes dizer, convicção, que tal fraqueza não será por enquanto motivo para me vedar o caminho a algum cargo público relevante ou mesmo a um qualquer lugar no Parlamento Europeu, e por isso lá arranjei coragem para escrever este testemunho.
Ainda não experimentei, não sei se por falta de imaginação se por falta de apetite, fazer como o protagonista e realizador do filme “Size me up”. Para quem não tem ouvido ou lido alguns dos nossos meios de comunicação que declaradamente o veneram, explico que se trata da última coqueluche na área dos filmes/propaganda/ensaboadela progressista ultimamente muito em voga.
O argumento, de uma densidade profunda e só igualada pela sua objectividade científica, consiste na metamorfose (Kafka não faria melhor) de um indivíduo que, por razões ponderosas, resolve durante um mês inteiro fazer um regime com três refeições por dia de apenas hambúrgueres e batatas fritas (versão super-menu quase sempre).
No final, num volte-face inesperado, o herói não morre, o que pode levar os mais malévolos a insinuar que afinal os Mac não são assim tão perigosos. Imagine-se, por exemplo, o que lhe fariam 30 dias de um regime muito mais português e muito menos globalizante de farturas e vinho, ou coiratos e enchidos, ou mesmo feijoada e jeropiga… Mas a verdade é que ele sai da aventura algo combalido, segundo parece com 13 quilos a mais e um colesterol elevado, embora os médicos que o seguiam atentamente nesta missão de alto risco não suspendessem a experiência, não sabemos se por ambicionarem ter o primeiro mártir artista/cientista da História, se por ele gostar mesmo muito de hambúrgueres e batatas fritas.
Não tendo sido o filme da minha vida, talvez por eu não ser um Eduardo Prado Coelho, confesso que me deixou a pensar. Por que razão irei eu aos McDonalds? Será que, mesmo sendo médico, tenho uma compulsão freudiana que não detecto? Será que a terrível dominação dos interesses económicos me obriga subliminarmente a mim e a tantos inocentes a lá ir comer? Será da adrenalina que causam as actividades de alto risco? Será que é por ser barato, rápido, saboroso, e não fazer mal de maior desde que, como com qualquer outra comida, não se abuse? (esta hipótese claro que é falsa). Não sei. Se calhar é porque, como diz um amigo meu, é a única situação em que ao mesmo tempo que se mata a fome e se pode ter o gozo de se estar publicamente a mandar aquela parte os sermões do progressismo revolucionário/chic e os fundamentalistas das sociedades alternativas. Se eu fosse publicitário, sugeria mesmo à McDonald’s o slogan “a única comida que também é ideologia”.
Pensando bem, acho que afinal a minha motivação principal é acreditar que sempre é melhor submeter-se ao pronto-a-comer do que ao pronto-a-pensar.
Fernando Gomes da Costa
(Nota destinada a todos os que generosamente zelam pela nossa liberdade, segurança, e nos protegem dos males da globalização e de outros maus caminhos: o autor destas linhas comunica publicamente que não foi, não é, nem nunca será accionista da McDonalds (embora gostasse…) ou de qualquer outro modo beneficiário de algum dos milhões de dólares que esta multinacional diariamente factura (com muita pena sua)).
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