O MacGuffin

sábado, abril 17, 2004

IRONIA, A FINA

racismo. [de raça + ismo] S. m. 1. Tendência do pensamento, ou modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas. 2. Qualquer teoria que afirma ou se baseia na hipótese da validade cientifica do conceito de raça e da pertinência deste para o estudo dos fenómenos humanos; 3. Qualquer teoria ou doutrina que considera que as características culturais humanas são determinadas hereditariamente, pressupondo a existência de algum tipo de correlação entre as características ditas «raciais» (isto é, físicas e morfológicas) e aquelas culturais (inclusive atributos mentais, morais, etc.) dos indivíduos, grupos sociais ou populações. 4. P. Ext. Qualquer doutrina que sustenta a superioridade biológica, cultural e/ou moral de determinada raça, ou de determinada população, povo ou grupo social considerado como raça. 5. Qualidade ou sentimento de indivíduo racista; esp., atitude preconceituosa ou descriminatória em relação a indivíduo(s) considerado(s) de outra raça.

No Cruzes Canhoto, como aqui, no Contra, a ironia é «muito lá de casa». Ainda bem. Repare-se no “[o MacGuffin] Mostrando mais uma vez o seu impecável sentido de humor “… dirigido a moi même. A razão? Simples: foi aqui transcrito o artigo de um senhor chamado Alan M. Dershowitz (um judeu), onde se relatava o assassinato premeditado e cirúrgico de um judeu, enquanto fazia jogging, pelas brigadas de Al-Aqsa, só porque esse jovem era judeu (como refere Dershowitz, a Al-Aqsa “sent the assassin to murder a Jew – any Jew, so long as he was a Jew”). Dershowitz conclui que o assassínio selectivo e orquestrado de judeus apenas pelo simples facto de serem judeus - levado a cabo por “terroristas palestinianos” (Dershowitz refere-se, mais do que uma vez, aos “terroristas” e ao “terrorrismo” palestiniano, e não aos palestinianos em geral) - é um claro acto de racismo.

É óbvio que uma afirmação destas cai profundamente mal em certos sectores da esquerda (e, provavelmente, da direita) porque os desfavorecidos, os pobres e os oprimidos –numa palavra: os fracos – nunca poderão ser racistas. Mais: o «racismo» não encaixa na temática das «causas» do terrorismo, porque as «causas» explicam tudo e tudo justificam. Daí a fina ironia aliada à latente «indignação».

E, neste caso, quais são as «causas»? A opressão sionista, a ocupação de uma ínfima parte da Cisjordânia por colonatos israelitas, o horrendo muro e as políticas de «segregação» israelitas. O facto de haver, nos países árabes, legislação que descrimina judeus (na Jordânia, por exemplo, existe um preceito legal que nega cidadania a “qualquer judeu”); o facto de, nesses mesmos países, se ensinar às crianças que os judeus são uma raça “a abater”; o facto de circular nos meios árabes o boato de que os judeus utilizam o sangue do sacrifício de bebés para cozinhar bolinhos; o facto de o Mein Kampf e os Protocolos (livros que, como se sabe, não incitam nada a sentimentos racistas) venderem que nem papo-secos no seio de certas franjas da sociedade árabe e nalgumas comunidades muçulmanas na Europa; nada disso impressiona a malta do Cruzes Canhoto.

Convém, por isso, dizer o seguinte: o Cruzes Canhoto é livre de insinuar, ou afirmar, que os judeus (ou certos judeus) são racistas para com os palestinianos. Mas negar, ficar incomodado ou achar hilariante que um judeu relate o contrário, dando como exemplo aquilo que foi um gritante e brutal acto de racismo por parte de um grupo de radicais palestinianos contra um judeu, ou, ainda, que o anti-semitismo é, ele próprio, uma forma de racismo, já me parece um caso de ignorância ou de má-fé. Mas quem sou eu...

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