O MacGuffin

terça-feira, abril 27, 2004

AS AVENTURAS DE RICARDINHO
A minha filha anda a ler um livro intitulado “Para Onde Foi o Zezinho?”, da autoria de Nicholas Allan. Conta a história de um espermatozóide que vivia dentro do senhor Nuno, com mais 300 milhões de companheiros. O Zezinho não era lá muito bom a fazer contas, mas era óptimo a nadar. O dia da Grande Competição de Natação aproximava-se e, apesar de exímio nessa arte, Zezinho nunca deixou de a praticar todos os dias. Ele sabia que teria de nadar muito rápido para ganhar o prémio: um lindo óvulo redondinho. No final da corrida, aconteceria algo de maravilhoso, algo simplesmente mágico: a fecundação.

Ricardo de Araújo Pereira escreveu um pequeno texto sobre o 25 de Abril, que foi publicado no Barnabé. Escreveu o Ricardo:

“Nasci no dia 28 de Abril de 1974, três dias depois da Revolução (ou, como se diz agora, para não aborrecer ninguém, da Evolução) dos Cravos. Por isso, a minha experiência do 25 de Abril é exactamente igual à da generalidade das pessoas de direita que viveram naquela época: não mexi uma palha para que a Revolução se desse, não a desejei e não estava minimamente convencido de que fosse necessária.”

Antevejo, desde já, um sucesso estonteante para a história que neste pequeno mas genial texto se vê esboçada: “As aventuras de Ricardinho: o primeiro espermatozóide que, ainda nas bolsas do escroto e, mais tarde, já depois da fecundação, na barriga da mãe, se aventurou no mundo das sondagens. Ricardinho, o espermatozóide, cedo revelou apetência para a matemática, sendo, simultaneamente, um óptimo nadador. ‘Distribuição binominal, de Poisson ou polinomial’, ‘análise combinatória’, ‘distribuição amostral das proporções’, ‘distribuições amostrais de diferenças, somas e médias’, ‘intervalos de confiança’ – tudo era canja para o Ricardinho. Influenciado pelo Prof. Bonaventura, um velho e sábio espermatozóide (péssimo nadador), Ricardinho enveredou pela investigação social, trabalhando naquela que foi a sua primeira e mais famosa tese: A Insustentável Estupidez e Boçalidade dos Homens e das Mulheres de Direita (repare-se como Ricardinho, o espermatozóide, estava avançado para a época, fazendo já uma leitura perfeita do politicamente correcto ao mencionar os dois géneros). Após aturado estudo, com a ajuda de um sofisticado dispositivo intra-testicular e intra-uterino que lhe permitia sondar os que lá fora, no outro mundo, se movimentavam, Ricardinho, o espermatozóide, cedo confirmou uma curva de tendência que lhe permitiu chegar a três conclusões: 1) as pessoas de direita não desejavam acabar com o ancien régime; 2) não mexiam uma palha para que uma mudança revolucionária eclodisse; 3) achavam que a vidinha lhes corria bem e, como tal, não era preciso mudar nada. Tudo confirmado até ao seu nascimento, uma vez que Ricardinho, durante mais de dois anos, entrou dentro da cabeça desses papalvos (metaforicamente), razão pela qual a ficha técnica da sua mega-sondagem registou um desvio padrão próximo dos 0,000001%.

Ricardo de Araújo Pereira faz amanhã (quarta-feira) 30 anos. Os meus parabéns ao Ricardo: um ser humano de eleição (desculpa arruinar-te a reputação, Ricardo) e um dos melhores humoristas portugueses.

O Saddam, por coincidência, também faz anos amanhã. A esse, repescando a b-word, digo-lhe: bardamerda.

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