MAIS UM DO HOMEM COM UM 'PENTEADO ASSIM'
A estrela de Belém
"Enquanto programa de candidatura, eis um modelo deliciosamente nulo, à rigorosa medida de um PR que se preze. Santana deseja ser o presidente de todos os portugueses – que votaram nos partidos do Governo. E só.
Alguns lamentam que as eleições presidenciais ocupem, a dois anos de distância, uns setenta por cento da “discussão” política vigente. Estranha-se o espanto, dado os trinta por cento que sobram. Dr. Louçã à parte, digamos que debater o haxixe ou o aborto não mobiliza ninguém.
Verdade que, no nosso particular regime, o cargo de chefe de Estado é algo dúbio. À semelhança dos EUA, toda a gente conhece o respectivo titular; à semelhança da Suíça, ninguém sabe ao certo para que serve. Não importa: no caso português, a popularidade do lugar sobrepõe-se sem problemas à irrelevância do mesmo. Para todos os efeitos, ao contrário dos partidos, o PR é um único indivíduo, ou seja, uma potencial celebridade. E os portugueses, como se pode constatar nas bancas de revistas, apreciam celebridades.
Por coincidência, o único candidato declarado às presidenciais de 2006, até ver, cumpre à partida os requisitos da função, o que explica o frenesim em curso: pelos padrões contemporâneos, Santana Lopes é célebre e produz aquela mistura de espalhafato e inconsequência que, ao que parece, constitui a essência do “carisma”. Pela capacidade de habitar o vazio sem ocupar espaço, Santana Lopes é o dr. Carrilho do (PPD) PSD. E, pode-se acrescentar com à-vontade, do PP.
Donde o dilema do momento: é o candidato ideal da direita? Se o calculismo mandar, não é, visto que as sondagens favorecem Cavaco. À direita, porém, convirá decidir o melhor para o País, e perceber que, tirando vaga aura sebastianista, Cavaco é homem de sisudez e balancetes, atributos de duvidoso proveito em Belém. Face a Santana, perde de goleada nas autênticas exigências do cargo. Se avançar, Cavaco terá fatalmente um programa, repleto de recomendações para a economia (que o PR influencia tanto quanto um vogal da junta de Algés) e uma ou outra alucinação (lembrar a polémica “religiosa” das presidenciais de 1996).
Santana, é o próprio a jurá-lo, não tem nada, e quer ser presidente apenas para “salvar” a coligação governamental. Ignora-se se a coligação precisa de salvamento, ou sequer se interessaria salvá-la. Mas, enquanto programa de candidatura, eis um modelo deliciosamente nulo, à rigorosa medida de um PR que se preze. Santana deseja ser o presidente de todos os portugueses – que votaram nos partidos do Governo. E só. Num mundo perfeito, esta equívoca franqueza deveria valer-lhe automaticamente a eleição para um equívoco cargo. No mundo real, entretém e diverte-nos. Bem precisamos."
Alberto Gonçalves, in Correio da Manhã
A estrela de Belém
"Enquanto programa de candidatura, eis um modelo deliciosamente nulo, à rigorosa medida de um PR que se preze. Santana deseja ser o presidente de todos os portugueses – que votaram nos partidos do Governo. E só.
Alguns lamentam que as eleições presidenciais ocupem, a dois anos de distância, uns setenta por cento da “discussão” política vigente. Estranha-se o espanto, dado os trinta por cento que sobram. Dr. Louçã à parte, digamos que debater o haxixe ou o aborto não mobiliza ninguém.
Verdade que, no nosso particular regime, o cargo de chefe de Estado é algo dúbio. À semelhança dos EUA, toda a gente conhece o respectivo titular; à semelhança da Suíça, ninguém sabe ao certo para que serve. Não importa: no caso português, a popularidade do lugar sobrepõe-se sem problemas à irrelevância do mesmo. Para todos os efeitos, ao contrário dos partidos, o PR é um único indivíduo, ou seja, uma potencial celebridade. E os portugueses, como se pode constatar nas bancas de revistas, apreciam celebridades.
Por coincidência, o único candidato declarado às presidenciais de 2006, até ver, cumpre à partida os requisitos da função, o que explica o frenesim em curso: pelos padrões contemporâneos, Santana Lopes é célebre e produz aquela mistura de espalhafato e inconsequência que, ao que parece, constitui a essência do “carisma”. Pela capacidade de habitar o vazio sem ocupar espaço, Santana Lopes é o dr. Carrilho do (PPD) PSD. E, pode-se acrescentar com à-vontade, do PP.
Donde o dilema do momento: é o candidato ideal da direita? Se o calculismo mandar, não é, visto que as sondagens favorecem Cavaco. À direita, porém, convirá decidir o melhor para o País, e perceber que, tirando vaga aura sebastianista, Cavaco é homem de sisudez e balancetes, atributos de duvidoso proveito em Belém. Face a Santana, perde de goleada nas autênticas exigências do cargo. Se avançar, Cavaco terá fatalmente um programa, repleto de recomendações para a economia (que o PR influencia tanto quanto um vogal da junta de Algés) e uma ou outra alucinação (lembrar a polémica “religiosa” das presidenciais de 1996).
Santana, é o próprio a jurá-lo, não tem nada, e quer ser presidente apenas para “salvar” a coligação governamental. Ignora-se se a coligação precisa de salvamento, ou sequer se interessaria salvá-la. Mas, enquanto programa de candidatura, eis um modelo deliciosamente nulo, à rigorosa medida de um PR que se preze. Santana deseja ser o presidente de todos os portugueses – que votaram nos partidos do Governo. E só. Num mundo perfeito, esta equívoca franqueza deveria valer-lhe automaticamente a eleição para um equívoco cargo. No mundo real, entretém e diverte-nos. Bem precisamos."
Alberto Gonçalves, in Correio da Manhã
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