É A CULTURA, ESTÚPIDO! - EDIÇÃO 02/2004
Moderador: Anabela Mota Ribeiro
Críticos literários: José Mário Silva e Pedro Mexia
Jornalistas: João Miguel Tavares (cinema) e Nuno Costa Santos (música)
Política: Daniel Oliveira e Pedro Lomba
Stand-up comedian: Luis Filipe Borges.
Convidado: António-Pedro Vasconcelos
Estive, pela segunda vez, no “É a Cultura, Estúpido!”, mais uma vez realizado no lindíssimo Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz. O convidado desta edição era o realizador de cinema António-Pedro Vasconcelos. Assisti, na rua, à sua chegada: 1,90 m a sair de um taxi, envergando uma gabardina creme e um chapéu de feltro. Grande pinta. O APV é um gentleman. É uma pessoa cultíssima e um contador de histórias nato - ingredientes suficientes para fazer dele um convidado excepcional. Para inicio de conversa, Anabela Mota Ribeiro fez-lhe uma pergunta em jeito de provocação: seria APV um escritor frustrado, tendo encontrado no cinema o escape preferencial para as suas frustrações? APV respondeu peremptoriamente que não. Muito pragmaticamente, APV afirmou que a escrita é uma tortura e que há poucos romancistas felizes. “A literatura está cheia de cadáveres”, disse o cineasta. Francamente, não sei se isso não passa de um mito – o do escritor angustiado, solitário, pobretanas e de coração partido. Não haverá estivadores, escriturários, cineastas ou pintores infelizes? Se o critério é o da infelicidade, o problema, a meu ver, é que existe gente infeliz a mais no mundo. “Qual é, então, a diferença entre literatura e cinema?”, perguntou a doce Anabela. “O cinema filma a vida directamente, sem filtros”. Uma espécie de WYSIWYG: what you see is what you get. E as adaptações cinematográficas das grandes obras literárias? APV defende a ideia de que os grandes livros raramente são bem adaptados. Qualquer filme fica invariavelmente aquém do livro e, regra geral, acabam por ser obras menores no currículo de qualquer cineasta. Uma excepção? Lolita de Kubrick, a adaptação do romance de Nabokov (houve uma outra adaptação realizada por Adrian Lyne, mas não falemos de lixo por agora). Neste ponto, estou inteiramente de acordo com APV. Penso até que qualquer realizador de cinema que se preze sentirá sempre uma espécie de respeito angustiante quando está em causa a adaptação de um grande livro, especialmente de um livro do seu contentamento. Haverá sempre uma tendência para sacralizar a obra e o autor e isso nunca será um bom presságio. A maioria dos grandes filmes partiram de obras «menores» (pelo menos pouco relevantes) ou feitas à medida do filme. APV deu como exemplo To Have and Have Not de Howard Hawks, uma adaptação de um livro medíocre de Hemingway. Curiosidade: APV afirmou que trocava toda a sua obra cinematográfica pela autoria do Le Rouge et Le Noir...
(Por falar nisso, tinha comprado, minutos antes, um dos filmes da minha vida (à conta do qual se produziu uma troca de correspondência entre mim e o João Benard da Costa nas páginas do Independente), e uma das maiores obras da história do cinema: A Matter of Life and Death de Michael Powell e Emeric Pressburger. Segundo consta, não foi baseado numa grande obra: o argumento foi inteiramente made to measure.)
Seguiram-se Pedro Mexia e José Mário Silva – sempre impecáveis. Falaram dos livros que andam a ler e dos que não andam a ler. Na secção “não ando a ler”, e voltando a falar de lixo, Pedro Mexia desfez, como não podia deixar de ser, o livro de poemas do bardo Pedro Barroso. Não era preciso muito: bastava ler duas ou três «estrofes». Foi o segundo momento BNC: “bater no ceguinho”. O primeiro aconteceu com José Mário Silva, a propósito dessa grande obra Causas de Cultura, de Pedro Santana Lopes. Contudo, confesso, caro José Mário, que a piadinha sobre os concertos para violino de Chopin já está estafadita...
João Miguel Tavares falou de Óscares e, neste particular, não gostei do início. JMT afirmou qualquer coisa como “Nos Óscares nunca lá estão os nossos filmes” ou “Os melhores filmes nunca vão aos Óscares”. Discordo. Podemos ser críticos relativamente à natureza mainstream da Academia, à estética do evento, etc. etc. - mas parece-me inconsequente e injusto recorrer ao cliché que é «bater» nos Óscares. Olhando para a sua história e para o seu presente, nos Óscares de Hollywood não houve um só ano em que não estivessem presentes grandes filmes. Este ano, por exemplo, está lá Mystic River (grandioso filme) e Clint Eastwood, Lost in Translation, etc. (embora seja verdade que Spike Lee e a sua 25th Hour não estarão presentes). Como estiveram, no passado, Coppola, Scorcese, Woody Allen, Wyler, Kazan, Mankiewicz, Wilder, Ford...
Bem diferente é dizer que nem sempre os melhores (ou aqueles da nossa preferência) ganham. Fair enough. Tenho para mim que, ao longo de quase oitenta anos, os Óscares premiaram alguns filmes sofríveis e outros medíocres, mas estou igualmente convicto de que passaram (e ainda passam) por lá os melhores realizadores e os filmes que ficaram nos “anais da história da sétima arte”. Quer gostemos, quer não, os Óscares simbolizam, para todos os efeitos, o cinema. Todo o cinema. E representam aquilo que de melhor se faz nos EUA: conciliar apelativamente valores culturais de referência obrigatória com a chamada cultura «popular». Ao longo de décadas, em registo maioritariamente mainstream, foram muitos os realizadores, produtores e actores que desenvolveram um trabalho meritório de raiz popular – digamos “comercial” – de mão dada com o génio. Coisa que requer inteligência, trabalho e humildade. A que acresce uma sensação que APV também referiu: o cinema americano pode ter piores argumentos (adaptados ou originais), mas sempre soube contar melhor uma história.
JMT fez, ainda, referência à diferença de estatuto entre os actores de hoje e os actores de «antigamente». Antigamente os actores confundiam-se com as suas próprias personagens. Bogart fazia de Bogart, John Wayne fazia sempre o mesmo papel, Cooper também, Cagney idem. Certos actores nunca podiam morrer (o caso de Wayne), outros morriam sempre no fim (o caso de Cagney). Francamente, não sei se é esse o caso. Nelson Rodrigues escreveu um dia: “O mal do actor é que ele funciona como tal. Representando Shakespeare, Sófocles ou O’Neill, sabe que está ali apenas como actor, isto é, como cidadão que tem um salário, uma carteira profissional, um sindicato. Eis o equívoco desesperador: o actor jamais se desembaraça de sim mesmo para ser o personagem que está encarnando”. JMT acha que, hoje em dia, os actores multiplicam-se em papeis, cada um mais diferente do outro - facto que baralha eventuais sobreposições entre personagem/actor. De acordo. Sem dúvida que, hoje em dia, o actor é aparentemente mais versátil, o que se traduz num aumento da criatividade, diversidade e do «trabalho de campo». Mas não será um sinal de que são cada vez menos os actores a conseguirem “desembaraçar-se” da sua condição de stars e de assalariados?
Nuno Costa Santos falou-nos da BSO de Lost in Translation e de Gary Jules (aquele tipo que canta aquela musica do “mad, mad world”). Ok, Nuno: a BSO é porreira, mas Gary Jules...nããã.
Finalmente, Pedro Lomba e Daniel Oliveira debruçaram-se (mas não caíram) sobre a imigração, a propósito do livro de Rui Pena Pires Migrações e Integração (Celta). Primeira conclusão: Daniel Oliveira é perigosamente bom. Tem uma linha de raciocínio clara, é eloquente e nota-se que prepara meticulosamente a suas intervenções. Um blogtrotter (repararam no trocadilho?). Tem o péssimo hábito de interromper os outros e de não deixar mais ninguém falar, mas isso, meus amigos, é próprio da... (vocês sabem). De resto, amigos reaças, é destes esquerdistas que vale a pena ter medo! Pedro Lomba fez-me lembrar o autor destas linhas: sabe pensar (modéstia à parte), sabe o que quer, tem convicções mas exprime-as de forma um pouco atabalhoada e sem o ritmo alucinante do seu antagonista. Pelo menos, não tinha a lição tão bem estudada. E falhou em explorar o ponto fraco da tese do Daniel, que é: como é impossível evitar a migração de pessoas, ou seja, como eles (os imigrantes) acabarão sempre por conseguir entrar (por ar, terra ou mar), a única solução é... escancarar as portas, nacionalizar toda a gente e abolir, se necessário, o conceito de estado-nação. No plano dos princípios, e tal como o Pedro Lomba, estou de acordo com o Daniel quando ele afirma que a imigração é uma coisa intrinsecamente positiva. E não é, à partida, um problema. Por enquanto, acrescento eu. Parece-me redutor e simplista partir de uma inevitabilidade (“eles entrarão sempre”) e, a partir daí, defender a desregulamentação, o facilitismo, etc. Desde logo porque não me parece liquido que a maioria dos imigrantes venha com a intenção de ficar. Por outro lado, e para sermos perfeitamente honestos, a oferta de trabalho não é elástica. Ou seja, é razoável pensar que o clima de coabitação pacífica entre imigrantes e população nativa se possa deteriorar, transitando para um clima menos favorável se o nível de imigrantes, em relação à população activa, por exemplo, duplicar. Qualquer governo terá sempre de equacionar eventuais tensões futuras, por força do aumento do desemprego e, simultaneamente, do fluxo de imigrantes. Por enquanto, com base nos dados disponíveis, a imigração em Portugal continua a ser de baixa intensidade. Mas só por agora. É de prever que, a este ritmo, surjam os primeiros focos de tensão e se agravem os problemas de integração pela via do aumento do desemprego e pela sensação de que os imigrantes começam a ameaçar os postos de trabalho de quem aqui nasceu (uma sensação que não deixa de ser legítima, mesmo levando em linha de conta o facto de muitos imigrantes virem fazer o trabalho que a população nativa não quer fazer). A grande questão é a de saber se se poderá enveredar por uma política restritiva – que controle minimamente os fluxos de imigração (a meu ver uma prerrogativa inalienável de qualquer Estado) – sem com isso beliscar os direitos e garantias a que qualquer cidadão do mundo civilizado tem direito. E, por favor: não acusemos de incoerência a defesa da livre circulação de mercadorias e de capitais com a defesa de um mínimo de controlo sobre os fluxos migratórios das pessoas. São coisas distintas. Até porque estou com o Vasco Pulido Valente: o que nos poderá salvar, como país, é emigrarmos durante uns tempos para a civilização para, passado outro tempo, voltarmos com a lição bem aprendida...
Houve ainda tempo para APV referir a pobreza das traduções em Portugal, dando como exemplo um livro em que traduziram sistematicamente Rule of Law (Estado de Direito) por "regra da lei"...
Falhei o número de stand-up comedy. Tive de sair mais cedo.
Moderador: Anabela Mota Ribeiro
Críticos literários: José Mário Silva e Pedro Mexia
Jornalistas: João Miguel Tavares (cinema) e Nuno Costa Santos (música)
Política: Daniel Oliveira e Pedro Lomba
Stand-up comedian: Luis Filipe Borges.
Convidado: António-Pedro Vasconcelos
Estive, pela segunda vez, no “É a Cultura, Estúpido!”, mais uma vez realizado no lindíssimo Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz. O convidado desta edição era o realizador de cinema António-Pedro Vasconcelos. Assisti, na rua, à sua chegada: 1,90 m a sair de um taxi, envergando uma gabardina creme e um chapéu de feltro. Grande pinta. O APV é um gentleman. É uma pessoa cultíssima e um contador de histórias nato - ingredientes suficientes para fazer dele um convidado excepcional. Para inicio de conversa, Anabela Mota Ribeiro fez-lhe uma pergunta em jeito de provocação: seria APV um escritor frustrado, tendo encontrado no cinema o escape preferencial para as suas frustrações? APV respondeu peremptoriamente que não. Muito pragmaticamente, APV afirmou que a escrita é uma tortura e que há poucos romancistas felizes. “A literatura está cheia de cadáveres”, disse o cineasta. Francamente, não sei se isso não passa de um mito – o do escritor angustiado, solitário, pobretanas e de coração partido. Não haverá estivadores, escriturários, cineastas ou pintores infelizes? Se o critério é o da infelicidade, o problema, a meu ver, é que existe gente infeliz a mais no mundo. “Qual é, então, a diferença entre literatura e cinema?”, perguntou a doce Anabela. “O cinema filma a vida directamente, sem filtros”. Uma espécie de WYSIWYG: what you see is what you get. E as adaptações cinematográficas das grandes obras literárias? APV defende a ideia de que os grandes livros raramente são bem adaptados. Qualquer filme fica invariavelmente aquém do livro e, regra geral, acabam por ser obras menores no currículo de qualquer cineasta. Uma excepção? Lolita de Kubrick, a adaptação do romance de Nabokov (houve uma outra adaptação realizada por Adrian Lyne, mas não falemos de lixo por agora). Neste ponto, estou inteiramente de acordo com APV. Penso até que qualquer realizador de cinema que se preze sentirá sempre uma espécie de respeito angustiante quando está em causa a adaptação de um grande livro, especialmente de um livro do seu contentamento. Haverá sempre uma tendência para sacralizar a obra e o autor e isso nunca será um bom presságio. A maioria dos grandes filmes partiram de obras «menores» (pelo menos pouco relevantes) ou feitas à medida do filme. APV deu como exemplo To Have and Have Not de Howard Hawks, uma adaptação de um livro medíocre de Hemingway. Curiosidade: APV afirmou que trocava toda a sua obra cinematográfica pela autoria do Le Rouge et Le Noir...
(Por falar nisso, tinha comprado, minutos antes, um dos filmes da minha vida (à conta do qual se produziu uma troca de correspondência entre mim e o João Benard da Costa nas páginas do Independente), e uma das maiores obras da história do cinema: A Matter of Life and Death de Michael Powell e Emeric Pressburger. Segundo consta, não foi baseado numa grande obra: o argumento foi inteiramente made to measure.)
Seguiram-se Pedro Mexia e José Mário Silva – sempre impecáveis. Falaram dos livros que andam a ler e dos que não andam a ler. Na secção “não ando a ler”, e voltando a falar de lixo, Pedro Mexia desfez, como não podia deixar de ser, o livro de poemas do bardo Pedro Barroso. Não era preciso muito: bastava ler duas ou três «estrofes». Foi o segundo momento BNC: “bater no ceguinho”. O primeiro aconteceu com José Mário Silva, a propósito dessa grande obra Causas de Cultura, de Pedro Santana Lopes. Contudo, confesso, caro José Mário, que a piadinha sobre os concertos para violino de Chopin já está estafadita...
João Miguel Tavares falou de Óscares e, neste particular, não gostei do início. JMT afirmou qualquer coisa como “Nos Óscares nunca lá estão os nossos filmes” ou “Os melhores filmes nunca vão aos Óscares”. Discordo. Podemos ser críticos relativamente à natureza mainstream da Academia, à estética do evento, etc. etc. - mas parece-me inconsequente e injusto recorrer ao cliché que é «bater» nos Óscares. Olhando para a sua história e para o seu presente, nos Óscares de Hollywood não houve um só ano em que não estivessem presentes grandes filmes. Este ano, por exemplo, está lá Mystic River (grandioso filme) e Clint Eastwood, Lost in Translation, etc. (embora seja verdade que Spike Lee e a sua 25th Hour não estarão presentes). Como estiveram, no passado, Coppola, Scorcese, Woody Allen, Wyler, Kazan, Mankiewicz, Wilder, Ford...
Bem diferente é dizer que nem sempre os melhores (ou aqueles da nossa preferência) ganham. Fair enough. Tenho para mim que, ao longo de quase oitenta anos, os Óscares premiaram alguns filmes sofríveis e outros medíocres, mas estou igualmente convicto de que passaram (e ainda passam) por lá os melhores realizadores e os filmes que ficaram nos “anais da história da sétima arte”. Quer gostemos, quer não, os Óscares simbolizam, para todos os efeitos, o cinema. Todo o cinema. E representam aquilo que de melhor se faz nos EUA: conciliar apelativamente valores culturais de referência obrigatória com a chamada cultura «popular». Ao longo de décadas, em registo maioritariamente mainstream, foram muitos os realizadores, produtores e actores que desenvolveram um trabalho meritório de raiz popular – digamos “comercial” – de mão dada com o génio. Coisa que requer inteligência, trabalho e humildade. A que acresce uma sensação que APV também referiu: o cinema americano pode ter piores argumentos (adaptados ou originais), mas sempre soube contar melhor uma história.
JMT fez, ainda, referência à diferença de estatuto entre os actores de hoje e os actores de «antigamente». Antigamente os actores confundiam-se com as suas próprias personagens. Bogart fazia de Bogart, John Wayne fazia sempre o mesmo papel, Cooper também, Cagney idem. Certos actores nunca podiam morrer (o caso de Wayne), outros morriam sempre no fim (o caso de Cagney). Francamente, não sei se é esse o caso. Nelson Rodrigues escreveu um dia: “O mal do actor é que ele funciona como tal. Representando Shakespeare, Sófocles ou O’Neill, sabe que está ali apenas como actor, isto é, como cidadão que tem um salário, uma carteira profissional, um sindicato. Eis o equívoco desesperador: o actor jamais se desembaraça de sim mesmo para ser o personagem que está encarnando”. JMT acha que, hoje em dia, os actores multiplicam-se em papeis, cada um mais diferente do outro - facto que baralha eventuais sobreposições entre personagem/actor. De acordo. Sem dúvida que, hoje em dia, o actor é aparentemente mais versátil, o que se traduz num aumento da criatividade, diversidade e do «trabalho de campo». Mas não será um sinal de que são cada vez menos os actores a conseguirem “desembaraçar-se” da sua condição de stars e de assalariados?
Nuno Costa Santos falou-nos da BSO de Lost in Translation e de Gary Jules (aquele tipo que canta aquela musica do “mad, mad world”). Ok, Nuno: a BSO é porreira, mas Gary Jules...nããã.
Finalmente, Pedro Lomba e Daniel Oliveira debruçaram-se (mas não caíram) sobre a imigração, a propósito do livro de Rui Pena Pires Migrações e Integração (Celta). Primeira conclusão: Daniel Oliveira é perigosamente bom. Tem uma linha de raciocínio clara, é eloquente e nota-se que prepara meticulosamente a suas intervenções. Um blogtrotter (repararam no trocadilho?). Tem o péssimo hábito de interromper os outros e de não deixar mais ninguém falar, mas isso, meus amigos, é próprio da... (vocês sabem). De resto, amigos reaças, é destes esquerdistas que vale a pena ter medo! Pedro Lomba fez-me lembrar o autor destas linhas: sabe pensar (modéstia à parte), sabe o que quer, tem convicções mas exprime-as de forma um pouco atabalhoada e sem o ritmo alucinante do seu antagonista. Pelo menos, não tinha a lição tão bem estudada. E falhou em explorar o ponto fraco da tese do Daniel, que é: como é impossível evitar a migração de pessoas, ou seja, como eles (os imigrantes) acabarão sempre por conseguir entrar (por ar, terra ou mar), a única solução é... escancarar as portas, nacionalizar toda a gente e abolir, se necessário, o conceito de estado-nação. No plano dos princípios, e tal como o Pedro Lomba, estou de acordo com o Daniel quando ele afirma que a imigração é uma coisa intrinsecamente positiva. E não é, à partida, um problema. Por enquanto, acrescento eu. Parece-me redutor e simplista partir de uma inevitabilidade (“eles entrarão sempre”) e, a partir daí, defender a desregulamentação, o facilitismo, etc. Desde logo porque não me parece liquido que a maioria dos imigrantes venha com a intenção de ficar. Por outro lado, e para sermos perfeitamente honestos, a oferta de trabalho não é elástica. Ou seja, é razoável pensar que o clima de coabitação pacífica entre imigrantes e população nativa se possa deteriorar, transitando para um clima menos favorável se o nível de imigrantes, em relação à população activa, por exemplo, duplicar. Qualquer governo terá sempre de equacionar eventuais tensões futuras, por força do aumento do desemprego e, simultaneamente, do fluxo de imigrantes. Por enquanto, com base nos dados disponíveis, a imigração em Portugal continua a ser de baixa intensidade. Mas só por agora. É de prever que, a este ritmo, surjam os primeiros focos de tensão e se agravem os problemas de integração pela via do aumento do desemprego e pela sensação de que os imigrantes começam a ameaçar os postos de trabalho de quem aqui nasceu (uma sensação que não deixa de ser legítima, mesmo levando em linha de conta o facto de muitos imigrantes virem fazer o trabalho que a população nativa não quer fazer). A grande questão é a de saber se se poderá enveredar por uma política restritiva – que controle minimamente os fluxos de imigração (a meu ver uma prerrogativa inalienável de qualquer Estado) – sem com isso beliscar os direitos e garantias a que qualquer cidadão do mundo civilizado tem direito. E, por favor: não acusemos de incoerência a defesa da livre circulação de mercadorias e de capitais com a defesa de um mínimo de controlo sobre os fluxos migratórios das pessoas. São coisas distintas. Até porque estou com o Vasco Pulido Valente: o que nos poderá salvar, como país, é emigrarmos durante uns tempos para a civilização para, passado outro tempo, voltarmos com a lição bem aprendida...
Houve ainda tempo para APV referir a pobreza das traduções em Portugal, dando como exemplo um livro em que traduziram sistematicamente Rule of Law (Estado de Direito) por "regra da lei"...
Falhei o número de stand-up comedy. Tive de sair mais cedo.
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