SAI UMA RUA ALBERTO-A-DIAS PARA A MESA DO CANTO!
A opinião lúdica
por Alberto Gonçalves
“Todos os dias, as televisões mostram-nos atentados ou confrontos no Iraque. Todos os dias, as televisões insistem em sublinhar que o Iraque vive imerso num tenebroso caos - decerto por oposição à estabilidade que o país se habituara a gozar. A maioria das vezes, as televisões sugerem que a responsabilidade cabe aos Estados Unidos, o império sedento de petróleo que a "opinião pública mundial" cedo desmascarou.
Justamente, há cerca de um ano, o próprio Saddam confessava profunda identificação com a "opinião pública mundial", confiante de que essa valente instituição impediria a guerra. Por manifesta infelicidade, os EUA exibiram lamentável autismo, e, em curtos meses, o Grande Líder desceu da bazófia ao buraco. A "opinião pública", porém, jamais calou a revolta, e não se tem cansado de berrar contra o satã americano e a conspiração sionista, sua natural aliada. Os "pacifistas" apontam para o pandemónio iraquiano e denunciam: "Vêem? Eles causaram isto."
Resta saber o que "isto" significa. Sendo do género cínico, podemos discutir se o povo do Iraque ganhou na transferência de um regime totalitário e particularmente assassino para uma relativa anarquia, alimentada por bandos vários (por acaso não americanos) e cujo fim é incerto. Mas também conviria olhar em volta e notar que, somente nas últimas semanas, o "coronel" Kadhafi deu sinais de abdicar do terrorismo; têm decorrido encontros mais ou menos assumidos entre Israel e dirigentes líbios, sírios e iranianos; o Irão ameaça uma revolução social que será interessante acompanhar.
A "isto", a "opinião pública" (no fundo a esquerda maluca, o anti-semitismo tradicional e o jornalismo de "causas") não tem prestado a devida atenção. Percebe-se: a mera hipótese de que a intervenção aliada contribua para um mundo mais decente é demasiado dolorosa para ser encarada. Muito preferível é fingir sarcasmo e perguntar pelas armas de destruição massiva. As tais que os EUA iriam com certeza forjar, para ilusão dos simples.
E se, como talvez fosse evidente desde o princípio, as armas químicas não passassem de um pretexto barato para a invasão do Iraque, a remoção de Saddam e, afinal de contas, a instalação no Médio Oriente de uma força dissuasória capaz de impor, de dentro, um mínimo de civilidade na zona? Há quem não goste? Milhões, pelos vistos. Eles lá sabem, mas é sempre engraçado observar o empenho dos "pacifistas" em combater a paz.”
in Correio da Manhã 17/01/2004
A opinião lúdica
por Alberto Gonçalves
“Todos os dias, as televisões mostram-nos atentados ou confrontos no Iraque. Todos os dias, as televisões insistem em sublinhar que o Iraque vive imerso num tenebroso caos - decerto por oposição à estabilidade que o país se habituara a gozar. A maioria das vezes, as televisões sugerem que a responsabilidade cabe aos Estados Unidos, o império sedento de petróleo que a "opinião pública mundial" cedo desmascarou.
Justamente, há cerca de um ano, o próprio Saddam confessava profunda identificação com a "opinião pública mundial", confiante de que essa valente instituição impediria a guerra. Por manifesta infelicidade, os EUA exibiram lamentável autismo, e, em curtos meses, o Grande Líder desceu da bazófia ao buraco. A "opinião pública", porém, jamais calou a revolta, e não se tem cansado de berrar contra o satã americano e a conspiração sionista, sua natural aliada. Os "pacifistas" apontam para o pandemónio iraquiano e denunciam: "Vêem? Eles causaram isto."
Resta saber o que "isto" significa. Sendo do género cínico, podemos discutir se o povo do Iraque ganhou na transferência de um regime totalitário e particularmente assassino para uma relativa anarquia, alimentada por bandos vários (por acaso não americanos) e cujo fim é incerto. Mas também conviria olhar em volta e notar que, somente nas últimas semanas, o "coronel" Kadhafi deu sinais de abdicar do terrorismo; têm decorrido encontros mais ou menos assumidos entre Israel e dirigentes líbios, sírios e iranianos; o Irão ameaça uma revolução social que será interessante acompanhar.
A "isto", a "opinião pública" (no fundo a esquerda maluca, o anti-semitismo tradicional e o jornalismo de "causas") não tem prestado a devida atenção. Percebe-se: a mera hipótese de que a intervenção aliada contribua para um mundo mais decente é demasiado dolorosa para ser encarada. Muito preferível é fingir sarcasmo e perguntar pelas armas de destruição massiva. As tais que os EUA iriam com certeza forjar, para ilusão dos simples.
E se, como talvez fosse evidente desde o princípio, as armas químicas não passassem de um pretexto barato para a invasão do Iraque, a remoção de Saddam e, afinal de contas, a instalação no Médio Oriente de uma força dissuasória capaz de impor, de dentro, um mínimo de civilidade na zona? Há quem não goste? Milhões, pelos vistos. Eles lá sabem, mas é sempre engraçado observar o empenho dos "pacifistas" em combater a paz.”
in Correio da Manhã 17/01/2004
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