CÁ VAMOS NÓS OUTRA VEZ
(Actualizado)
Miguel Sousa Tavares volta hoje, nas páginas do Público, ao seu desporto favorito: cascar em George W. Bush. Teses? Várias: (1) Bush veio para “transformar o superavit herdado de Clinton em novo deficit galopante”; (2) Bush “desprezou qualquer preocupação ambiental, em benefício das indústrias poluentes”; (3) gastou “em armamento e no Iraque o que poderia ter gasto em educação, em saúde e assistência social, interrompendo drasticamente a revolução silenciosa a favor dos deserdados da América que Clinton tinha posto em marcha”; (4) é cobarde e não passa do “mais banal dos homens”: basta observar a sua reacção ao 11 de Setembro, fugindo e “embarcando no Air Force One durante longas horas, nas quais a América pareceu completamente à mercê dos terroristas”; (5) “a decisão de invadir e ocupar o Iraque estava tomada desde o primeiro dia da governação de Bush e não teve nada que ver com a ameaça terrorista ou com o embuste das pretensas armas de destruição maciça prontas a serem activadas em 45 minutos”; (6) Bush “queria uma guerra, uma que pudesse ganhar e que lhe desenhasse a imagem de "tough guy", tão cara ao eleitor-tipo americano”; (7) a resposta ao problema do terrorismo “é política e ideológica e assenta na superioridade moral e cívica das democracias sobre os fanatismos, do Estado de direito sobre o terrorismo”; (8) "Não há só os bons e os maus - há também maus que podem ter algumas boas razões e bons que podem ter comportamentos maus", escreve, no final, Sousa Tavares.
Miguel Sousa Tavares volta a criar-me um problema: não resistir a comentar estas «verdades inabaláveis» e, ao mesmo tempo, correr o risco de ser atirado para a prateleira dos «belicistas», «bushistas» e outros palavrões do género. Que se lixe.
(1) Falso. Não foi Bush que transformou o superavit em deficit. Está visto que MST não percebe patavina de economia. Nunca terá ouvido falar em ciclos económicos. Esqueceu-se de voltar um pouquinho atrás no tempo para perceber que, ainda no mandato de Clinton, havia sinais claros de que o período de vacas gordas que os EUA atravessavam estava condenado a acabar. O que aconteceu na era Bush foi previsto pelos mais eminentes economistas, ainda com Clinton na Casa Branca. E, depois, aconteceu uma coisa chamada “9/11”. Coisa pouca, não é?
(2) Se a desprezou, desprezou-a no mesmo sentido que Clinton. Aliás, essa ideia de que entre Clinton e Bush há diferenças abissais é um logro. No essencial, os EUA têm mantido uma coerência notável (e o "notável" aqui não contém juízos de valor)que só os mais distraídos teimam em não reconhecer.
(3) Demagogia. Pura demagogia. Faz lembrar a afirmação de Durão Barroso quando dizia, em plena campanha eleitoral, que “o dinheiro do TGV seria aplicado na Saúde e na Educação”. Como se os meios e as dotações orçamentais se pudessem trocar como quem troca de camisa.
(4) A opção tomada nos minutos e horas que se seguiram fazia parte de uma estratégia de segurança mais do que estudada, face a situações limite. Uma estratégia dirigida ao Presidente dos Estados Unidos da América - fosse ele Bush, Clinton, Al Gore, etc. De resto, a cadeia de comando funcionou. Mais um argumento da treta.
(5) Que tenha sido com Bill Clinton (elevado, entretanto, à categoria de “O Saudoso”) que o Senado aprovou o “Iraq Liberation Act”, ou tenha dado luz verde à intervenção no Kosovo (haveria lá petróleo?), não interessa. Como diria Orwell: “The truth, it is felt, becomes untruth when your enemy utters it”.
(6) Eis uma explicação deveras sensacional: Bush & Ca., com a ajuda do Senado e, no limite, com a aquiescência do povo americano (por definição ‘estúpido’ e ‘inculto’), conduziram milhares de soldados e milhões de dólares em meios e armamento para o Iraque com a intenção de, tchan tchan, promover a imagem de «tough guy» de Bush. Tipo Marvel Comics. Melhor é impossível.
(7) Eu gostava, a sério que gostava, que Miguel Sousa Tavares explicasse o que é isso de uma “solução política” para o terrorismo. Convidar Bin Laden a debater, em Camp David, as condições e termos de um armistício? Pedir ao Dr. Soares para organizar uma acção de formação dirigida a fanáticos religiosos e terroristas encartados, sob o lema "As vantagens do Estado de Direito e da Democracia"? Convencer os dirigentes do Hamas a renunciar ao terror, oferecendo-lhes, em contrapartida, terrenos e novas instalações para os seus serviços de acção social? Dar a outra face como sinal de superioridade moral? Ah, pois: mas porque é que há terroristas? Porque existe gente má chamada Sharon, Bush e __________ (espaço para preencher). Tão simples, não é?
(8) E que tal se Miguel Sousa Tavares fizesse uso deste aforismo e o aplicasse a... George Walker Bush? É óbvio que não porque, como ele próprio escreve: “Isso está para além da capacidade de compreensão de George W. Bush: basta olhar para ele.” Eis a má-fé de que Paulo Tunhas falava na sua resposta a Villaverde Cabral, hoje, no Cartaz do Expresso, e já anteriormente na obra "Impasses" (Europa-América 2003).
(Actualizado)
Miguel Sousa Tavares volta hoje, nas páginas do Público, ao seu desporto favorito: cascar em George W. Bush. Teses? Várias: (1) Bush veio para “transformar o superavit herdado de Clinton em novo deficit galopante”; (2) Bush “desprezou qualquer preocupação ambiental, em benefício das indústrias poluentes”; (3) gastou “em armamento e no Iraque o que poderia ter gasto em educação, em saúde e assistência social, interrompendo drasticamente a revolução silenciosa a favor dos deserdados da América que Clinton tinha posto em marcha”; (4) é cobarde e não passa do “mais banal dos homens”: basta observar a sua reacção ao 11 de Setembro, fugindo e “embarcando no Air Force One durante longas horas, nas quais a América pareceu completamente à mercê dos terroristas”; (5) “a decisão de invadir e ocupar o Iraque estava tomada desde o primeiro dia da governação de Bush e não teve nada que ver com a ameaça terrorista ou com o embuste das pretensas armas de destruição maciça prontas a serem activadas em 45 minutos”; (6) Bush “queria uma guerra, uma que pudesse ganhar e que lhe desenhasse a imagem de "tough guy", tão cara ao eleitor-tipo americano”; (7) a resposta ao problema do terrorismo “é política e ideológica e assenta na superioridade moral e cívica das democracias sobre os fanatismos, do Estado de direito sobre o terrorismo”; (8) "Não há só os bons e os maus - há também maus que podem ter algumas boas razões e bons que podem ter comportamentos maus", escreve, no final, Sousa Tavares.
Miguel Sousa Tavares volta a criar-me um problema: não resistir a comentar estas «verdades inabaláveis» e, ao mesmo tempo, correr o risco de ser atirado para a prateleira dos «belicistas», «bushistas» e outros palavrões do género. Que se lixe.
(1) Falso. Não foi Bush que transformou o superavit em deficit. Está visto que MST não percebe patavina de economia. Nunca terá ouvido falar em ciclos económicos. Esqueceu-se de voltar um pouquinho atrás no tempo para perceber que, ainda no mandato de Clinton, havia sinais claros de que o período de vacas gordas que os EUA atravessavam estava condenado a acabar. O que aconteceu na era Bush foi previsto pelos mais eminentes economistas, ainda com Clinton na Casa Branca. E, depois, aconteceu uma coisa chamada “9/11”. Coisa pouca, não é?
(2) Se a desprezou, desprezou-a no mesmo sentido que Clinton. Aliás, essa ideia de que entre Clinton e Bush há diferenças abissais é um logro. No essencial, os EUA têm mantido uma coerência notável (e o "notável" aqui não contém juízos de valor)que só os mais distraídos teimam em não reconhecer.
(3) Demagogia. Pura demagogia. Faz lembrar a afirmação de Durão Barroso quando dizia, em plena campanha eleitoral, que “o dinheiro do TGV seria aplicado na Saúde e na Educação”. Como se os meios e as dotações orçamentais se pudessem trocar como quem troca de camisa.
(4) A opção tomada nos minutos e horas que se seguiram fazia parte de uma estratégia de segurança mais do que estudada, face a situações limite. Uma estratégia dirigida ao Presidente dos Estados Unidos da América - fosse ele Bush, Clinton, Al Gore, etc. De resto, a cadeia de comando funcionou. Mais um argumento da treta.
(5) Que tenha sido com Bill Clinton (elevado, entretanto, à categoria de “O Saudoso”) que o Senado aprovou o “Iraq Liberation Act”, ou tenha dado luz verde à intervenção no Kosovo (haveria lá petróleo?), não interessa. Como diria Orwell: “The truth, it is felt, becomes untruth when your enemy utters it”.
(6) Eis uma explicação deveras sensacional: Bush & Ca., com a ajuda do Senado e, no limite, com a aquiescência do povo americano (por definição ‘estúpido’ e ‘inculto’), conduziram milhares de soldados e milhões de dólares em meios e armamento para o Iraque com a intenção de, tchan tchan, promover a imagem de «tough guy» de Bush. Tipo Marvel Comics. Melhor é impossível.
(7) Eu gostava, a sério que gostava, que Miguel Sousa Tavares explicasse o que é isso de uma “solução política” para o terrorismo. Convidar Bin Laden a debater, em Camp David, as condições e termos de um armistício? Pedir ao Dr. Soares para organizar uma acção de formação dirigida a fanáticos religiosos e terroristas encartados, sob o lema "As vantagens do Estado de Direito e da Democracia"? Convencer os dirigentes do Hamas a renunciar ao terror, oferecendo-lhes, em contrapartida, terrenos e novas instalações para os seus serviços de acção social? Dar a outra face como sinal de superioridade moral? Ah, pois: mas porque é que há terroristas? Porque existe gente má chamada Sharon, Bush e __________ (espaço para preencher). Tão simples, não é?
(8) E que tal se Miguel Sousa Tavares fizesse uso deste aforismo e o aplicasse a... George Walker Bush? É óbvio que não porque, como ele próprio escreve: “Isso está para além da capacidade de compreensão de George W. Bush: basta olhar para ele.” Eis a má-fé de que Paulo Tunhas falava na sua resposta a Villaverde Cabral, hoje, no Cartaz do Expresso, e já anteriormente na obra "Impasses" (Europa-América 2003).
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