O MacGuffin

quinta-feira, dezembro 04, 2003

DEVO ESTAR ENGANADO
Ganhei um excelente antagonista no Barnabé. Estava enganado em relação a Rui Tavares (e eu sei que ele vai fazer um esforço para não me desiludir). Para quem, inicialmente, entrou «a matar», não deixa de ser surpreendente a forma como, agora, já ousa tratar-me por “caro” e dar-me “de barato” certas coisas (deve ser o espírito natalício). Não deixou, contudo, de resistir à tentação de entremear nos seus textos umas alfinetadas avulsas.
Na sua resposta a um ‘post’ meu sobre a «suposta» (passo o pleonasmo das aspas) prevalência do anti-semitismo na esquerda - tese, aliás, que eu miseravelmente defendo e que o blogger Jorge considera um insulto (como se eu alguma vez tivesse dito que a totalidade ou a maioria dos esquerdistas fossem anti-semitas; e logo ele, que apelida o Statler de “besta”) - não resistiu a informar-me que o jornal Forward pertence à “esquerda liberal”, esperando ao mesmo tempo que tal facto “não seja um problema”(sic) para mim. Só posso sorrir perante estas afirmações. Partindo do pressuposto de que Rui Tavares não está a brincar, interrogo-me: pensará Rui Tavares que eu só consumo o cânone direitista? Pensará Rui Tavares que na minha casa só entra gente, livros e publicações com a chancela da direita? Pensará Rui Tavares que eu ando em cruzada contra a esquerda? Adiante.
Caro Rui: desgraçadamente, eu não tenho provas. Não estou tão bem documentado como provavelmente o Rui está. A minha percepção de que o anti-semitismo está, hoje em dia, mais difundido nas hostes da esquerda não passa disso mesmo: de uma reles percepção. Sei, no entanto, duas ou três coisas. Que o facto de ter sido Cohn-Bendit, um “anarco-eco-esquerdista” (palavras suas), a reclamar pela publicação do relatório, não absolve de nada os seus correligionários de esquerda que sejam anti-semitas (e, é bom recordá-lo, o “anti-semitismo” que refiro é dirigido aos judeus, não aos árabes), nem sequer atenua determinada tendência. Que, por outro lado, existem movimentos de extrema direita profundamente anti-semitas, assim como existe gente da suposta "direita moderada" que também o é. Por último, não posso negar, porque Rui Tavares o parece exigir, aquilo que, da minha experiência (em conversas de café, em tertúlias, em debates sobre o assunto e nas conversas que mantenho com amigos e conhecidos), me parece evidente: há, actualmente, uma correspondência (ou, se quiser, uma mais forte correlação) entre os ecos do ódio latente e quase irracional em relação aos judeus e o posicionamento ideológico à esquerda. Mas, lá está: não tenho provas. Não estou, como se costuma dizer, «documentado». E, ainda por cima, reproduzo citações «truncadas». Como tal, devo estar redondamente enganado.

PS: Reparo, contudo, numa coisa: o artigo do jornal Forward faz apenas referência a um excerto de um draft de uma cópia do relatório obtida pelo Financial Times. Se calhar, o melhor mesmo é esperar pelo dito documento, dando, para já, o benefício da dúvida a Cwajgenbaum: “antisemitism in Europe [is] multifaceted, coming from traditional extreme-right circles and far-left groups as well as a radicalized Muslim minority.”

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