DEAL WITH IT
Um grupo de jornalistas portugueses foi assaltado perto de Bassorá, no sul do Iraque. Um deles foi baleado, outro raptado. Ossos do ofício, dirão alguns. Imprudência, dirão outros. Óscar Mascarenhas, presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, não foi em cantigas. Poucas horas depois do incidente, não tinha dúvidas: a culpa era do governo português.
Há muito que Óscar Mascarenhas nos habitou àquele que parece ser o seu exercício preferido: afirmar, de vez em quando, umas tolices com o ar mais sério do mundo. Duvido que, passadas poucas horas do incidente, Óscar Mascarenhas soubesse de tudo. Óscar Mascarenhas desconhecia que tipo de acordo havia sido estabelecido entre as autoridades portuguesas e os jornalistas (se incluiria, por exemplo, escolta permanente). Não sabia se os jornalistas, por sua conta e risco, consciente ou inconscientemente, haviam descuidado as mais elementares regras de prudência ou de segurança. Não sabia em que circunstâncias aquele assalto havia sido perpetrado. E parecia esquecer que o Iraque não é propriamente o palco de um conflito clássico, opondo forças de uma coligação a forças perfeitamente identificáveis, devidamente organizadas, com uma conduta correcta do ponto de vista do respeito pelas convenções que obrigam, entre outras coisas, a respeitar o trabalho dos jornalistas. Não sabia mas foi expedito em acusar o governo. É fácil, é barato e aproveita-se para bater no bode expiatório do costume.
Mas mesmo que o soubesse, Óscar Mascarenhas deveria saber que a profissão de jornalista, em teatro de guerra, é uma profissão de alto risco, sujeita ao imponderável e ao livre arbítrio de forças sobre as quais não é exercido qualquer tipo de controlo. Existem zonas do Iraque que foram tomadas de assalto por uma horda de malfeitores, salteadores e terroristas que não respeitam ninguém. Nem mesmo jornalistas. A situação é perigosa e os jornalistas sabem-no. Ou, pelo menos, deveriam sabê-lo.
Toda esta questão remete-nos para uma diferença de atitude e de postura entre os jovens jornalistas de agora e o jornalistas de há trinta, cinquenta, setenta anos atrás. Perdoem-me se estou a ser injusto com a generalização, mas longe vão os tempos em que os jornalistas eram homens de «barba rija», com espírito de missão e aventura. Homens que não hesitavam em se responsabilizar pelos seus actos, principalmente quando arriscavam e ultrapassavam a barreira do que era aconselhável, ou seja, nunca culpando terceiros por infortúnios avulsos ou ameaças reais à sua integridade física. Alguém imagina o Cronkite a queixar-se, na CBS, da falta de apoio ou protecção do governo dos EUA? Ou o Mário Rui de Carvalho a culpar o governo norte-americano por ter sido preso no Líbano? Alguém imagina o Fernando Pessa, aos microfones da BBC, lamentando-se “caros ouvintes, hoje ia-me caindo uma bomba em cima e o presidente do conselho não mexeu uma palha para o evitar”?
Eu sei que estou a esticar a corda, mas a sensação com que se fica, depois de escutar certas intervenções de certos profissionais do ramo – os quais, supostamente, representam a corporação - é a de que, hoje em dia, certos jornalistas (e digo ‘certos’ para ser mais justo) fazem questão de exigir uma espécie de «tapete vermelho» para que possam fazer a cobertura do conflito. Uma espécie de «abram alas que somos jornalistas». A esses, seria pertinente sussurrar-lhes ao ouvido: deal with it!
Um grupo de jornalistas portugueses foi assaltado perto de Bassorá, no sul do Iraque. Um deles foi baleado, outro raptado. Ossos do ofício, dirão alguns. Imprudência, dirão outros. Óscar Mascarenhas, presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, não foi em cantigas. Poucas horas depois do incidente, não tinha dúvidas: a culpa era do governo português.
Há muito que Óscar Mascarenhas nos habitou àquele que parece ser o seu exercício preferido: afirmar, de vez em quando, umas tolices com o ar mais sério do mundo. Duvido que, passadas poucas horas do incidente, Óscar Mascarenhas soubesse de tudo. Óscar Mascarenhas desconhecia que tipo de acordo havia sido estabelecido entre as autoridades portuguesas e os jornalistas (se incluiria, por exemplo, escolta permanente). Não sabia se os jornalistas, por sua conta e risco, consciente ou inconscientemente, haviam descuidado as mais elementares regras de prudência ou de segurança. Não sabia em que circunstâncias aquele assalto havia sido perpetrado. E parecia esquecer que o Iraque não é propriamente o palco de um conflito clássico, opondo forças de uma coligação a forças perfeitamente identificáveis, devidamente organizadas, com uma conduta correcta do ponto de vista do respeito pelas convenções que obrigam, entre outras coisas, a respeitar o trabalho dos jornalistas. Não sabia mas foi expedito em acusar o governo. É fácil, é barato e aproveita-se para bater no bode expiatório do costume.
Mas mesmo que o soubesse, Óscar Mascarenhas deveria saber que a profissão de jornalista, em teatro de guerra, é uma profissão de alto risco, sujeita ao imponderável e ao livre arbítrio de forças sobre as quais não é exercido qualquer tipo de controlo. Existem zonas do Iraque que foram tomadas de assalto por uma horda de malfeitores, salteadores e terroristas que não respeitam ninguém. Nem mesmo jornalistas. A situação é perigosa e os jornalistas sabem-no. Ou, pelo menos, deveriam sabê-lo.
Toda esta questão remete-nos para uma diferença de atitude e de postura entre os jovens jornalistas de agora e o jornalistas de há trinta, cinquenta, setenta anos atrás. Perdoem-me se estou a ser injusto com a generalização, mas longe vão os tempos em que os jornalistas eram homens de «barba rija», com espírito de missão e aventura. Homens que não hesitavam em se responsabilizar pelos seus actos, principalmente quando arriscavam e ultrapassavam a barreira do que era aconselhável, ou seja, nunca culpando terceiros por infortúnios avulsos ou ameaças reais à sua integridade física. Alguém imagina o Cronkite a queixar-se, na CBS, da falta de apoio ou protecção do governo dos EUA? Ou o Mário Rui de Carvalho a culpar o governo norte-americano por ter sido preso no Líbano? Alguém imagina o Fernando Pessa, aos microfones da BBC, lamentando-se “caros ouvintes, hoje ia-me caindo uma bomba em cima e o presidente do conselho não mexeu uma palha para o evitar”?
Eu sei que estou a esticar a corda, mas a sensação com que se fica, depois de escutar certas intervenções de certos profissionais do ramo – os quais, supostamente, representam a corporação - é a de que, hoje em dia, certos jornalistas (e digo ‘certos’ para ser mais justo) fazem questão de exigir uma espécie de «tapete vermelho» para que possam fazer a cobertura do conflito. Uma espécie de «abram alas que somos jornalistas». A esses, seria pertinente sussurrar-lhes ao ouvido: deal with it!
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