O MacGuffin

quinta-feira, agosto 28, 2003

INQUIETAÇÕES DE UM LUSO-PAPAGAIO BRUTO
Na mais recente visita ao Glória Fácil, deparo com um ‘post’ de João Pedro Henriques onde se alinhavam umas considerações sobre o conflito israelo-palestiniano. Dirigindo-se ao Francisco José Viegas, João Pedro Henriques escreve: ”Alguma vez escreveste que é rigorosamente impossível a paz no Médio Oriente com Sharon a primeiro-ministro de Israel? Ou que a paz no Médio Oriente passa, necessariamente, pela democrática eliminação de Sharon como figura de primeira grandeza em Israel?”

A esta pergunta eu responderia: alguma vez João Pedro Henriques escreverá que será rigorosamente impossível a paz no Médio Oriente com Yasser Arafat?

Esta questão inquieta-me, na medida em que contínua a ser espantosa a forma como certos «especialistas», jornalistas e «opinion makers» insistem em omitir ou silenciar a verdadeira natureza do líder palestiniano. Paira no ar uma espécie de intocável e tácita respeitabilidade pela figura de Arafat.

João Pedro Henriques (JPH) fala da “democrática eliminação de Sharon”. Ainda bem que JPH sabe que, em Israel, os governantes mudam por força da chamada democracia representativa e do sufrágio universal (apesar da tão apregoada teocracia...). Uns mais moderados, outros mais «duros», os governos vão sendo sucessiva e “democraticamente eliminados”. E do lado de lá: pode esperar-se o mesmo? Não.

Em 1974 Yasser Arafat era sagrado como único e legitimo representante do povo da Palestina e, desde então, nada mais se alterou (sabe-se que, mesmo agora, é Arafat que mexe os cordelinhos). Há décadas que a sua imagem de “chefe de Estado”, respeitável e respeitado, ou de quase-mártir pela causa de um povo, é vendida, à escala mundial. A ONU, por exemplo, comprou-a de olhos fechados. E pagou o preço. A figura de Arafat tornou-se numa inevitabilidade histórica com direito, en passant, a Nobel da Paz.

Fala-se e vocifera-se muito contra Sharon – o qual, é bom que se diga, se assemelha a um elefante numa loja de porcelanas. Mas Sharon herdou uma situação que vinha de Barak, o qual, por sua vez, a herdou de Netanyahu, que por sua vez a herdou de Peres, etc. etc. Mas todos eles a herdaram do mesmo interlocutor de há décadas: Arafat. No mínimo uma figura difusa e sinistra.

Ao contrário do que o silêncio de uns, e a hipocrisia de outros, parecem fazer crer, Arafat não tem, nunca teve, noção alguma do que significa governar, para o desenvolvimento, um país e um povo. Por entre tímidas ou teatrais declarações de indignação e tristeza pelas acções das organizações terroristas palestinianas (muitas delas parte integrante da sua OLP), a sua grande aspiração continua a ser a de uma grande Palestina, sem um empecilho chamado Israel. Com ele no poder, é claro. Coisa, aliás, coerentíssima com a abordagem árabe para a região, desde a década de 30.

O Hamas, a Jihad, os Mártires atacam mas, onde estão as condenações? Onde estão as prisões? Onde está, por mais ínfimo que fosse, o eco do que poderá ser um futuro Estado de Direito palestiniano – um Estado que condene judicialmente os assassinos e as organizações terroristas?
Pode sempre dizer-se que Sharon dá argumentos aos terroristas e perturba as tréguas com incursões militares selectivas. É fácil. Mas será que JPH pretende convencer-nos de que as organizações terroristas nunca perturbaram as tréguas? Que o empurrão é sempre dado pelos israelitas? Que o Hamas apenas se limita a retaliar? É caso para perguntar: terá João Pedro Henriques a coragem de nos dizer que, quem tem sempre lançado a primeira pedra, têm sido os israelitas?

Que tal se os auto-proclamados “moderados e racionais” retirassem as palas e olhassem imparcialmente para todos os lados? Ah, já sei: é difícil ser imparcial neste conflito. Pois é...

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial

Powered by Blogger Licença Creative Commons
Esta obra está licenciado sob uma Licença Creative Commons.