LIVROS, PARA QUE VOS QUERO
Na mais recente edição da revista Literary Review, Paul Johnson fala-nos sobre as diferentes abordagens do homem e da mulher em relação aos livros. Admitindo que os homens e as mulheres lêem e escrevem livros de forma mais ou menos idêntica, Johnson parece encontrar as grandes diferenças a outro nível: na forma como se compram, tratam, arrumam, armazenam e classificam os livros. Segundo Johnson, a atitude do homem em relação aos mesmos é, acima de tudo, emocional, sentimental, possessiva, romântica. Para o ‘macho’ bibliófilo, os livros são colonizadores que estabelecem inicialmente uma ponte para, com o tempo, avançarem com a ocupação do espaço. Ocupação esta a que os homens assistem de sorriso nos lábios. As mulheres são, pelo contrário, bem mais práticas. Para estas, os livros são para se usar. Quando essa função cessa, passam irremediavelmente à prosaica categoria de receptáculos de pó. Há, por isso, que os colocar a salvo da luz, da humidade, do pó e, melhor ainda, da vista – não se vá dar o caso de se voltarem a desarrumar.
Anthony Powell, por exemplo, na sua declarada paixão pelos livros, achava que os mesmos serviam também de mobília ou de objecto de decoração. Paul Johnson cita, ainda, o caso de Gladstone para evidenciar como a relação quase obsessiva com os livros, conduz inclusivamente a certos rituais e a certas «especializações». O estadista inglês era um exímio leitor e coleccionador de livros (mais de 20.000 volumes referidos ao longo dos seus diários), com um olho de tal forma experiente para a sua estética e física que lhe permitia calcular, através de um olhar fugaz, quantos livros caberiam em determinado espaço. Chegava, olhava e o veredicto era quase imediato: “nesta sala poderá arrumar cerca de 2.320 livros.”
No particular e modesto caso deste vosso bloguista, a situação é, em todo, similar. Não na parte que toca a cálculos - nem sequer tenho a noção exacta de quantos livros possuo (a última vez o número atirava-se para os novecentos e tal...) - mas no que respeita ao tratamento e acondicionamento dos mesmos. Sem mostrar a mais leve resistência, deixei que os livros tomassem literalmente de assalto a minha casa. É vê-los, por todo o lado: no quarto (chão e móveis), na cozinha, na sala (chão e móveis), na casa-de-banho (!). Quanto à posição feminina, o habitual: estou invariavelmente a levar nas orelhas (não que as tenha grandes, como as do MEC, mas para lá caminham com os puxões).
Pois eu digo: saquem-me a televisão, o DVD, o amplificador, o gira-discos, o leitor e respectivos CD’s; tirem-me os quadros, o aparador, a mesa, os cortinados, os bibelots, as bugigangas, os tapetes; penhorem-me a cadeira Corbusier, o espremedor de citrinos estupidamente estilizado, os candeeiros Artemide, etc. etc. Desde que não levem os meus livros e o meu velho e bom sofá, tudo bem. E, já agora, a cama também não. Um gajo tem de dormir umas horas, de quando em vez.
Na mais recente edição da revista Literary Review, Paul Johnson fala-nos sobre as diferentes abordagens do homem e da mulher em relação aos livros. Admitindo que os homens e as mulheres lêem e escrevem livros de forma mais ou menos idêntica, Johnson parece encontrar as grandes diferenças a outro nível: na forma como se compram, tratam, arrumam, armazenam e classificam os livros. Segundo Johnson, a atitude do homem em relação aos mesmos é, acima de tudo, emocional, sentimental, possessiva, romântica. Para o ‘macho’ bibliófilo, os livros são colonizadores que estabelecem inicialmente uma ponte para, com o tempo, avançarem com a ocupação do espaço. Ocupação esta a que os homens assistem de sorriso nos lábios. As mulheres são, pelo contrário, bem mais práticas. Para estas, os livros são para se usar. Quando essa função cessa, passam irremediavelmente à prosaica categoria de receptáculos de pó. Há, por isso, que os colocar a salvo da luz, da humidade, do pó e, melhor ainda, da vista – não se vá dar o caso de se voltarem a desarrumar.
Anthony Powell, por exemplo, na sua declarada paixão pelos livros, achava que os mesmos serviam também de mobília ou de objecto de decoração. Paul Johnson cita, ainda, o caso de Gladstone para evidenciar como a relação quase obsessiva com os livros, conduz inclusivamente a certos rituais e a certas «especializações». O estadista inglês era um exímio leitor e coleccionador de livros (mais de 20.000 volumes referidos ao longo dos seus diários), com um olho de tal forma experiente para a sua estética e física que lhe permitia calcular, através de um olhar fugaz, quantos livros caberiam em determinado espaço. Chegava, olhava e o veredicto era quase imediato: “nesta sala poderá arrumar cerca de 2.320 livros.”
No particular e modesto caso deste vosso bloguista, a situação é, em todo, similar. Não na parte que toca a cálculos - nem sequer tenho a noção exacta de quantos livros possuo (a última vez o número atirava-se para os novecentos e tal...) - mas no que respeita ao tratamento e acondicionamento dos mesmos. Sem mostrar a mais leve resistência, deixei que os livros tomassem literalmente de assalto a minha casa. É vê-los, por todo o lado: no quarto (chão e móveis), na cozinha, na sala (chão e móveis), na casa-de-banho (!). Quanto à posição feminina, o habitual: estou invariavelmente a levar nas orelhas (não que as tenha grandes, como as do MEC, mas para lá caminham com os puxões).
Pois eu digo: saquem-me a televisão, o DVD, o amplificador, o gira-discos, o leitor e respectivos CD’s; tirem-me os quadros, o aparador, a mesa, os cortinados, os bibelots, as bugigangas, os tapetes; penhorem-me a cadeira Corbusier, o espremedor de citrinos estupidamente estilizado, os candeeiros Artemide, etc. etc. Desde que não levem os meus livros e o meu velho e bom sofá, tudo bem. E, já agora, a cama também não. Um gajo tem de dormir umas horas, de quando em vez.
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