O MacGuffin

quarta-feira, julho 16, 2003

AINDA HOBBES

Bruno Alves, do recém inaugurado Desesperada Esperança, considera acertada a comparação entre a política externa norte-americana e a filosofia política de Hobbes. E são duas as razões: a administração Bush é pessimista em relação à natureza humana; a administração Bush considera o sistema internacional um sistema instável e tendencialmente anárquico (considerá-lo-á Bruno Alves uma aproximação do Hobbesiano «state of nature»?). Daí que tenha optado, depois do 11 de Setembro, por uma política intervencionista - pró-activa e com objectivos preventivos. Para início de discussão, dou de barato que sim. Mas, é bom lembrar, Hobbes não foi o primeiro, e, seguramente, o último filósofo pessimista. Por outro lado, como o próprio Bruno Alves reconhece, os EUA estão simplesmente a defender os seus interesses e a tentar aniquilar os focos de irracionalidade e instabilidade político-religiosos que possam vir a produzir mais anti-corpos contra o way of life ocidental/liberal. Partindo deste pressuposto, parece-me forçada a comparação a Hobbes. Já que estamos em matéria de paralelos, em vez de Hobbes, porque não falar em Carl Schmitt? Foi precisamente Carl Schmitt que em “The Nomos of the Earth” alinhavou uma História de relações internacionais baseada no conflito e na inimizade, como consequência da crescente habilidade do homem para se deslocar e para instituir novos centros de influência e de instabilidade à escala global – uma das principais causas, segundo Schmitt, para a dissolução das soberanias e do sistema tradicional de esferas. O extremar dessas tendências, levaria ao despoletar de guerras, levadas a cabo por determinados países contra inimigos absolutos (difusos ou não). Guerras essas guiadas por princípios morais universais. Em suma, parece-me incorrecta, ou, no mínimo, fraca, a equivalência entre a real politik norte-americana e o universo Hobbesiano. Caso contrário, o velho Hobbes passaria a servir de muleta e justificação a qualquer conflito bélico que ousasse estabelecer uma determinada «ordem». Convenhamos, caro Bruno: as coisas não são assim tão lineares e liquidas. Como diria o José Manuel Fernandes, às vezes é preciso ligar o «complicador» para evitar paralelismos simplistas.

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