É A CULTURA, ESTÚPIDO
Assisti, pela primeira, a mais uma edição (terceira) do evento/tertúlia “É a cultura, estúpido”, no assombroso espaço do Teatro S. Luis. Estiveram presentes, entre outros, Pedro Mexia, José Mário Silva, Anabela Mota Ribeiro, Ricardo de Araújo Pereira e Nuno Miguel Guedes. Ausentes: João Pereira Coutinho, Pacheco Pereira (os grandes ausentes) e Miss CHArlotte (as melhoras querida Charlotte!). Eis as minhas impressões:
Moderação. Pode dizer-se, com total segurança, que Anabela Mota Ribeiro tem uma presença radiante e estimulante (!). Mas não há bela sem senão: falta-lhe a garra e o discernimento suficientes para formular as questões mais pertinentes. Cabia-lhe a ela o papel de espicaçar o debate e instigar a discussão, nem que, para isso, tivesse que interromper, chatear, perturbar qualquer dissertação sobre este ou aquele assunto. Mas não. Esteve um pouco chocha. A espaços, as suas perguntas pareciam, até, algo insípidas e redundantes. Seria nervosismo?
Temas. Blogosfera e literatura. O debate sobre a blogosfera foi interessante. Previsíveis foram as intervenções do género “quantos livros deixaste de ler por estares na blogosfera?” ou “a blogosfera é uma alternativa aos jornais mainstream – poucos e desinteressantes”. The usual stuff. Ninguém, no seu perfeito juízo, substitui a leitura de um livro pela blogosfera. E quem diz a blogosfera, diz por um jornal, revista, uma ida ao cinema, etc. Mais: pela quantidade de livros que são mencionados em alguns blogs, só um «perfeito anormal» não sente curiosidade em comprar e ler mais livros. Depois, há uma questão que ninguém parece discutir quando se toca no assunto: valerá a pena trocar a blogosfera, os jornais ou a habitual ida ao cinema, por certos livros? Caramba: há livros perigosos, estupidificantes, boçais. Arrisco uma pergunta: quantos Dostoievskis, Nabokovs, Tchekhovs ou Calvinos deixou João Miguel Tavares (quem levantou a questão) de ler, para se dedicar àqueles obscuros volumes?
Very typical é, também, a vertigem para a intelectualização, abstracção e catalogação ou classificação de tudo o que seja diferente ou ‘off the mainstream’. Nesse sentido, as intervenções de Pedro Mexia e Tiago Cavaco (em louvável registo low-profile) foram úteis: fizeram baixar a questão para um nível bem mais terreno. A blogosfera é, acima de tudo, um espaço de liberdade onde, cada um, alinhava uma espécie de diário inconsequente, sobre os mais diversos temas: política, amor, literatura, futebol, cinema, suinicultura, etc. É um espaço de comunhão, afectos, humor, vaidade (muita vaidade!), ódios. É um meio de comunicação efémero: não sendo palpável, como o são as folhas de um livro, jornal ou revista, nem um recorte se guarda. Vai tudo ficando para trás, por entre links e links de arquivo, que nunca mais se lerão. Terá o seu tempo, que pode ser de meses, anos ou décadas. Não é alternativa a nada, nem se substitui a nada. Como dizem os políticos, em relação às sondagens, “vale o que vale.”
No que respeita aos comentários/críticas a livros, não posso disfarçar o meu incómodo sempre que observo os críticos literários ou o comum dos mortais a discorrer sobre um livro da sua preferência. Eu até apoio a masturbação, mas em público não cai bem. É um pouco o que acontece quando convidam um poeta para falar de poesia. Falar do quê: do “processo criativo”? da musa inspiradora? das preferências poéticas? Tudo demasiado pornográfico para o meu gosto.
Nota final: hilariante o comentário de José Mário Silva a um livro de Alexandra Solnado (não importa mesmo nada qual), embora, a partir de certa altura, me tenha parecido estar-se a bater no ceguinho...
Os intervenientes. Pedro Mexia: um tipo às «direitas», no duplo sentido da palavra. ‘Exquisite’ sentido de humor, bons dotes de oratória, comentários a revelar sagacidade. Cumplicidade quase total (infelizmente, o homem é do Benfica). Nuno Miguel Guedes: um senhor. Simples, mas com pinta (o que confirma a regra: as pessoas simples são as que têm mais pinta). Económico nas palavras, mas certeiro, objectivo, lúcido. Uma simpatia a toda a prova. José Mário Silva: por muito que possamos discordar das suas opiniões (e falo das políticas), é impossível não simpatizar com a sua figura. Não deve ser difícil ser amigo do José Mário. Ricardo de Araújo Pereira: simpático e brilhante! As sátiras à relação de afectos entre Manuel Alegre e Luís Figo (agora sei quem escreveu os artigos de opinião do jogador) e à prosa indizível de Camila Coelho, levaram-me às lágrimas. Pena é que não estivesse presente o Zé Diogo Quintela – o gato fedorento mais esclarecido de todos: é de direita e do Sporting. Daniel Oliveira: deu para ver como são compreensíveis os achaques do JPC em relação ao dito. A avaliar pela boca ao José Pacheco Pereira, e pela postura saltitante, deu para ver que o homem se leva muito a sério. Bem, posso estar a ser injusto...
Por último, os afectos. Conheci, pela primeira vez ao vivo, o amigo virtual com quem tenho tido maior cumplicidade intelectual nos últimos anos. O meu «mano». ‘The man from Trafaria’. O Maradona. Agora já posso dizer que já não sou seu amigo. Virtual, entenda-se. Sou real.
Por «culpa» do Maradona, e para minha grande surpresa, conheci também a querida Papoila (um sorriso contagiante e um olhar acutilante) e o enigmático e ultra-porreiro Umbigoniilista. Sobre o Umbigo, uma palavra: Triffids!
Soube-me a pouco. Para quando uma próxima tertúlia? Pretendo estar estupidamente presente.
PS: um beijinho à Zazie. Ela sabe porquê.
Assisti, pela primeira, a mais uma edição (terceira) do evento/tertúlia “É a cultura, estúpido”, no assombroso espaço do Teatro S. Luis. Estiveram presentes, entre outros, Pedro Mexia, José Mário Silva, Anabela Mota Ribeiro, Ricardo de Araújo Pereira e Nuno Miguel Guedes. Ausentes: João Pereira Coutinho, Pacheco Pereira (os grandes ausentes) e Miss CHArlotte (as melhoras querida Charlotte!). Eis as minhas impressões:
Moderação. Pode dizer-se, com total segurança, que Anabela Mota Ribeiro tem uma presença radiante e estimulante (!). Mas não há bela sem senão: falta-lhe a garra e o discernimento suficientes para formular as questões mais pertinentes. Cabia-lhe a ela o papel de espicaçar o debate e instigar a discussão, nem que, para isso, tivesse que interromper, chatear, perturbar qualquer dissertação sobre este ou aquele assunto. Mas não. Esteve um pouco chocha. A espaços, as suas perguntas pareciam, até, algo insípidas e redundantes. Seria nervosismo?
Temas. Blogosfera e literatura. O debate sobre a blogosfera foi interessante. Previsíveis foram as intervenções do género “quantos livros deixaste de ler por estares na blogosfera?” ou “a blogosfera é uma alternativa aos jornais mainstream – poucos e desinteressantes”. The usual stuff. Ninguém, no seu perfeito juízo, substitui a leitura de um livro pela blogosfera. E quem diz a blogosfera, diz por um jornal, revista, uma ida ao cinema, etc. Mais: pela quantidade de livros que são mencionados em alguns blogs, só um «perfeito anormal» não sente curiosidade em comprar e ler mais livros. Depois, há uma questão que ninguém parece discutir quando se toca no assunto: valerá a pena trocar a blogosfera, os jornais ou a habitual ida ao cinema, por certos livros? Caramba: há livros perigosos, estupidificantes, boçais. Arrisco uma pergunta: quantos Dostoievskis, Nabokovs, Tchekhovs ou Calvinos deixou João Miguel Tavares (quem levantou a questão) de ler, para se dedicar àqueles obscuros volumes?
Very typical é, também, a vertigem para a intelectualização, abstracção e catalogação ou classificação de tudo o que seja diferente ou ‘off the mainstream’. Nesse sentido, as intervenções de Pedro Mexia e Tiago Cavaco (em louvável registo low-profile) foram úteis: fizeram baixar a questão para um nível bem mais terreno. A blogosfera é, acima de tudo, um espaço de liberdade onde, cada um, alinhava uma espécie de diário inconsequente, sobre os mais diversos temas: política, amor, literatura, futebol, cinema, suinicultura, etc. É um espaço de comunhão, afectos, humor, vaidade (muita vaidade!), ódios. É um meio de comunicação efémero: não sendo palpável, como o são as folhas de um livro, jornal ou revista, nem um recorte se guarda. Vai tudo ficando para trás, por entre links e links de arquivo, que nunca mais se lerão. Terá o seu tempo, que pode ser de meses, anos ou décadas. Não é alternativa a nada, nem se substitui a nada. Como dizem os políticos, em relação às sondagens, “vale o que vale.”
No que respeita aos comentários/críticas a livros, não posso disfarçar o meu incómodo sempre que observo os críticos literários ou o comum dos mortais a discorrer sobre um livro da sua preferência. Eu até apoio a masturbação, mas em público não cai bem. É um pouco o que acontece quando convidam um poeta para falar de poesia. Falar do quê: do “processo criativo”? da musa inspiradora? das preferências poéticas? Tudo demasiado pornográfico para o meu gosto.
Nota final: hilariante o comentário de José Mário Silva a um livro de Alexandra Solnado (não importa mesmo nada qual), embora, a partir de certa altura, me tenha parecido estar-se a bater no ceguinho...
Os intervenientes. Pedro Mexia: um tipo às «direitas», no duplo sentido da palavra. ‘Exquisite’ sentido de humor, bons dotes de oratória, comentários a revelar sagacidade. Cumplicidade quase total (infelizmente, o homem é do Benfica). Nuno Miguel Guedes: um senhor. Simples, mas com pinta (o que confirma a regra: as pessoas simples são as que têm mais pinta). Económico nas palavras, mas certeiro, objectivo, lúcido. Uma simpatia a toda a prova. José Mário Silva: por muito que possamos discordar das suas opiniões (e falo das políticas), é impossível não simpatizar com a sua figura. Não deve ser difícil ser amigo do José Mário. Ricardo de Araújo Pereira: simpático e brilhante! As sátiras à relação de afectos entre Manuel Alegre e Luís Figo (agora sei quem escreveu os artigos de opinião do jogador) e à prosa indizível de Camila Coelho, levaram-me às lágrimas. Pena é que não estivesse presente o Zé Diogo Quintela – o gato fedorento mais esclarecido de todos: é de direita e do Sporting. Daniel Oliveira: deu para ver como são compreensíveis os achaques do JPC em relação ao dito. A avaliar pela boca ao José Pacheco Pereira, e pela postura saltitante, deu para ver que o homem se leva muito a sério. Bem, posso estar a ser injusto...
Por último, os afectos. Conheci, pela primeira vez ao vivo, o amigo virtual com quem tenho tido maior cumplicidade intelectual nos últimos anos. O meu «mano». ‘The man from Trafaria’. O Maradona. Agora já posso dizer que já não sou seu amigo. Virtual, entenda-se. Sou real.
Por «culpa» do Maradona, e para minha grande surpresa, conheci também a querida Papoila (um sorriso contagiante e um olhar acutilante) e o enigmático e ultra-porreiro Umbigoniilista. Sobre o Umbigo, uma palavra: Triffids!
Soube-me a pouco. Para quando uma próxima tertúlia? Pretendo estar estupidamente presente.
PS: um beijinho à Zazie. Ela sabe porquê.
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