1977?
A palavra ao Vasco:
”(...) O mal da «inteligência» doméstica (cultural ou política) não reside na carência de reconhecimento, reside precisamente no oposto, na abundância de reconhecimento. Quase toda a gente que aí anda nos ministérios, nas Universidades, nos jornais e nos livros está promovida muito acima, infinitamente acima, da sua capacidade real. A começar por nós dois [o Vasco e João Bénard da Costa]: em que terra civilizada da Europa seríamos colunistas do maior jornal nacional? E em que sítio Otelo seria um revolucionário? Ou o major Melo Antunes um teórico da revolução? Ou Pinheiro de Azevedo Primeiro-Ministro? E não continuo, para não contribuir para a destabilização.
Um indivíduo faz qualquer coisinha – um livro sofrível, um filme sofrível, um discurso sofrível – e é acto contínuo catapultado para a triste celebridade lisboeta. Levam-no a sério, convidam-no para colóquios, pedem-lhe opiniões, metem-no no Governo. Além disso a criatura conhece outras como ele, com quem janta e almoça, conversa e intriga. E todas essas almas se confirmam mutuamente na sua excelência: o falso cineasta ao falso filósofo, o falso jornalista ao falso ministro. Encostam-se uns aos outros e dizem uns aos outros: somos reais, somo reais.
O pior é que não são, não somos. Alguns podiam ter sido. Mas porque não encontraram obstáculos que lhes exigissem esforço, contenção, trabalho, encostaram-se ao quentinho da consagração indígena e nunca se chegaram a «fazer». A nossa vida pública está cheia de cadáveres de jovens com um passado prometedor.
Em Portugal, quando se perde o sentido das proporções, perde-se tudo. E quem há aí que se possa gabar de não o ter perdido?”
Vasco Pulido Valente
in Diário de Notícias, Abril de 1977.
Pois é: quem? O José Luis Peixoto? O Mia Couto? O Possidónio Cachapa? A Teresa Villaverde? O Pedro Costa? Cala-te, MacGuffin! Não contribuas para a destabilização...
A palavra ao Vasco:
”(...) O mal da «inteligência» doméstica (cultural ou política) não reside na carência de reconhecimento, reside precisamente no oposto, na abundância de reconhecimento. Quase toda a gente que aí anda nos ministérios, nas Universidades, nos jornais e nos livros está promovida muito acima, infinitamente acima, da sua capacidade real. A começar por nós dois [o Vasco e João Bénard da Costa]: em que terra civilizada da Europa seríamos colunistas do maior jornal nacional? E em que sítio Otelo seria um revolucionário? Ou o major Melo Antunes um teórico da revolução? Ou Pinheiro de Azevedo Primeiro-Ministro? E não continuo, para não contribuir para a destabilização.
Um indivíduo faz qualquer coisinha – um livro sofrível, um filme sofrível, um discurso sofrível – e é acto contínuo catapultado para a triste celebridade lisboeta. Levam-no a sério, convidam-no para colóquios, pedem-lhe opiniões, metem-no no Governo. Além disso a criatura conhece outras como ele, com quem janta e almoça, conversa e intriga. E todas essas almas se confirmam mutuamente na sua excelência: o falso cineasta ao falso filósofo, o falso jornalista ao falso ministro. Encostam-se uns aos outros e dizem uns aos outros: somos reais, somo reais.
O pior é que não são, não somos. Alguns podiam ter sido. Mas porque não encontraram obstáculos que lhes exigissem esforço, contenção, trabalho, encostaram-se ao quentinho da consagração indígena e nunca se chegaram a «fazer». A nossa vida pública está cheia de cadáveres de jovens com um passado prometedor.
Em Portugal, quando se perde o sentido das proporções, perde-se tudo. E quem há aí que se possa gabar de não o ter perdido?”
Vasco Pulido Valente
in Diário de Notícias, Abril de 1977.
Pois é: quem? O José Luis Peixoto? O Mia Couto? O Possidónio Cachapa? A Teresa Villaverde? O Pedro Costa? Cala-te, MacGuffin! Não contribuas para a destabilização...
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial