O ANTI-SEMITISMO E O PROBLEMA ISRAELO-PALESTINIANO
Para quem ainda pensa que o anti-semitismo é um mito, pertence ao passado, é “mania de perseguição” ou apenas um nome dado à revolta de comunidades que sofrem às mãos do Sr. Sharon, seria útil ler o artigo de Marie Brenner na edição de Junho da Vanity Fair. São treze páginas onde Brenner explica, com especial cuidado e fundamentação, a forma como o ressurgimento do anti-semitismo em França não pode continuar a ser visto como um incidente ordinário e insignificante por parte das autoridades e da opinião pública francesas.
Os factos são estes: entre Janeiro e Maio de 2001, registaram-se mais de 300 ataques sobre judeus. De Marselha a Paris várias foram as sinagogas destruídas, autocarros escolares apedrejados e crianças assaltadas. Com cerca de seis milhões de árabes a viver em França (contra os 650 mil judeus), os media a deixar transparecer, desavergonhadamente, um pendor marcadamente pró-palestiniano, e com uma incessante e dinâmica propaganda anti-semita no seio das comunidades muçulmanas (a venda dos Protócoloscontinua em alta e o Mein Kampf, em Inglaterra, tem vendido que nem papo-secos) a situação era mais que propícia.
Historicamente, o anti-semitismo francês tinha as suas raízes na direita extremista. Agora, esta nova forma de anti-semitismo surge da esquerda - mais precisamente de um néo-gauchisme.
Nada disto entusiasma os intelectuais – que, já em finais de 2002, em acelerada toada anti-guerra, criticavam as organizações judaicas norte-americanas por tentarem chamar a atenção para o que se passava em França. A opinião pública também não se comove. Maioritariamente ignorante (para quem o problema judeu tem 60 anos de antiguidade), sempre pronta a seguir os que putativamente lutam pelos «mais fracos» contra os «mais fortes», achando que o Estado de Israel foi um erro histórico (ainda emendável...), e que, por via do Sr. Sharon, os judeus estão a «pôr-se a jeito», a opinião pública considera estas manifestações de violência perfeitamente previsíveis e, até, compreensíveis.
Ora, eu não quero fazer muitas ondas – não me caia um Fernando Rosas, um António Louçã ou um Moisés Espírito Santo em cima. Mas gostaria de dizer que não concebo, nem aceito, qualquer visão que tenda a compreender um lado e a desprezar o outro. Que tenda a culpar uns e a desculpar outros. Que tenda a relativizar o “terrorismo de sobrevivência” e a apontar o dedo ao “terrorismo de estado”.
Já o disse uma vez, mas volto a dizê-lo. Eu não me esqueço de Avraham Stern, de Yizhak Shamir e Yellin-Mor, assim como não me esqueço do Irgun – grupos, aliás, que o Haganah, o braço militar do ‘establishment’ sionista, em boa hora neutralizou. Não me esqueço de Deir Yassin, nem do atentado ao Hotel Rei David. E não me esqueço de quem matou Rabin. Mas também me recuso a esquecer as palavras de Nasser em 1967: “o nosso único objectivo é a destruição de Israel”; seguidas das do presidente Aref, do Iraque: “O nosso propósito é claro: fazer com que Israel desapareça do mapa”; e das de Ahmed Shukairy, o dirigente da OLP, a 1 de Junho do mesmo ano: “Os judeus da Palestina terão de partir... a antiga população judaica que venha a sobreviver poderá ficar, mas é minha convicção que nenhuma delas sobreviverá”. E também não esqueço que a Fatah e a OLP foram filhas ilegítimas do Irgun na utilização cientifica do terror. Também não me esqueço que os objectivos principais da OLP estavam lá, preto-no-branco: uma Palestina livre e a destruição do estado de Israel. Não me posso esquecer dos Jogos Olimpicos de Munique e do Setembro Negro. Recuso-me a esquecer os atentados em Viena e Roma nos check-in da El-Al, ou do massacre de 50 crianças israelitas à queima-roupa num kibutz.
No seio deste pendor pro-palestiniano e anti-semita – que cresce incontrolável em França – é bom não esquecer o que foi, ao longo dos últimos 80 anos, a abordagem árabe a toda esta complexa questão.
A população árabe na Palestina representava 93% em 1918, quando a declaração de Balfour começou a ter efeito. Os árabes podiam ter tido acesso ao seu estado e ficar com notório protagonismo nos destinos de Israel. Isso mesmo foi proposto pela comissão Peel em 1937, que sugeria entregar a Israel apenas 25% do território (proposta aceite pelos sionistas mas veementemente recusada pelos árabes). Mas não. Desde o seu início, a criação de um estado de acolhimento para os judeus foi vista com total desprezo e sem margem para negociações. O extremismo árabe cedo tomou as rédeas, transformando o conflito numa guerra entre um David (Israel) e um Golias (Egipto, Siria, Libano, Jordânia e Iraque). Os israelitas sofreram durante décadas, e ainda hoje sofrem, o estigma de viverem rodeados por uma moldura completamente hostil que contínua a albergar gente em lugares de responsabilidade política que deseja a sua aniquilação. Agora, junte-se a tudo isto um líder palestiniano que pouco ou nada fez para quebrar a espiral de violência das ‘jihads’ e que recusou, em 2000 (Camp David), uma proposta equilibrada para o inicio da resolução do problema. Talvez, com alguma lucidez, se perceba o que faz correr o “lado agressor”. Talvez se encontre, algures por aí, alguns elementos para «compreender» e «justificar» o ‘modus operandi’ israelita nos últimos 55 anos. Talvez se perceba o que marcou, e ainda marca, a memória colectiva de um povo. E talvez se entenda como é que um «David», habituado tempo de mais a lutar pela sua própria sobrevivência, produziu, a espaços, um excesso de anticorpos contra os focos de infecção que insistiram em ceifar a vida a civis inocentes, que apenas se encontravam no lugar errado à hora errada.
Apesar de tudo, haja esperança. Ao que tudo indica, o «pateta» e «belicista» presidente Bush está empenhado em lutar pela resolução do problema israelo-palestiniano (que atrevimento!). “O mundo precisa de um estado palestiniano independente”, disse Bush. E disse mais: “Israel tem responsabilidade na criação de um estado palestiniano estável e contínuo.” Por outro lado, já ouvimos da boca de Sharon palavras como “territórios ocupados” e um “Estado Palestiniano”. Haja, agora, boa vontade por parte dos palestinianos. A que tem faltado nas últimas décadas.
Agora, se me perguntarem se, com a criação de um Estado Palestiniano e com a assinatura de um acordo de não-agressão, os judeus em França poderão respirar de alívio, essa já é outra questão...
Os factos são estes: entre Janeiro e Maio de 2001, registaram-se mais de 300 ataques sobre judeus. De Marselha a Paris várias foram as sinagogas destruídas, autocarros escolares apedrejados e crianças assaltadas. Com cerca de seis milhões de árabes a viver em França (contra os 650 mil judeus), os media a deixar transparecer, desavergonhadamente, um pendor marcadamente pró-palestiniano, e com uma incessante e dinâmica propaganda anti-semita no seio das comunidades muçulmanas (a venda dos Protócoloscontinua em alta e o Mein Kampf, em Inglaterra, tem vendido que nem papo-secos) a situação era mais que propícia.
Historicamente, o anti-semitismo francês tinha as suas raízes na direita extremista. Agora, esta nova forma de anti-semitismo surge da esquerda - mais precisamente de um néo-gauchisme.
Nada disto entusiasma os intelectuais – que, já em finais de 2002, em acelerada toada anti-guerra, criticavam as organizações judaicas norte-americanas por tentarem chamar a atenção para o que se passava em França. A opinião pública também não se comove. Maioritariamente ignorante (para quem o problema judeu tem 60 anos de antiguidade), sempre pronta a seguir os que putativamente lutam pelos «mais fracos» contra os «mais fortes», achando que o Estado de Israel foi um erro histórico (ainda emendável...), e que, por via do Sr. Sharon, os judeus estão a «pôr-se a jeito», a opinião pública considera estas manifestações de violência perfeitamente previsíveis e, até, compreensíveis.
Ora, eu não quero fazer muitas ondas – não me caia um Fernando Rosas, um António Louçã ou um Moisés Espírito Santo em cima. Mas gostaria de dizer que não concebo, nem aceito, qualquer visão que tenda a compreender um lado e a desprezar o outro. Que tenda a culpar uns e a desculpar outros. Que tenda a relativizar o “terrorismo de sobrevivência” e a apontar o dedo ao “terrorismo de estado”.
Já o disse uma vez, mas volto a dizê-lo. Eu não me esqueço de Avraham Stern, de Yizhak Shamir e Yellin-Mor, assim como não me esqueço do Irgun – grupos, aliás, que o Haganah, o braço militar do ‘establishment’ sionista, em boa hora neutralizou. Não me esqueço de Deir Yassin, nem do atentado ao Hotel Rei David. E não me esqueço de quem matou Rabin. Mas também me recuso a esquecer as palavras de Nasser em 1967: “o nosso único objectivo é a destruição de Israel”; seguidas das do presidente Aref, do Iraque: “O nosso propósito é claro: fazer com que Israel desapareça do mapa”; e das de Ahmed Shukairy, o dirigente da OLP, a 1 de Junho do mesmo ano: “Os judeus da Palestina terão de partir... a antiga população judaica que venha a sobreviver poderá ficar, mas é minha convicção que nenhuma delas sobreviverá”. E também não esqueço que a Fatah e a OLP foram filhas ilegítimas do Irgun na utilização cientifica do terror. Também não me esqueço que os objectivos principais da OLP estavam lá, preto-no-branco: uma Palestina livre e a destruição do estado de Israel. Não me posso esquecer dos Jogos Olimpicos de Munique e do Setembro Negro. Recuso-me a esquecer os atentados em Viena e Roma nos check-in da El-Al, ou do massacre de 50 crianças israelitas à queima-roupa num kibutz.
No seio deste pendor pro-palestiniano e anti-semita – que cresce incontrolável em França – é bom não esquecer o que foi, ao longo dos últimos 80 anos, a abordagem árabe a toda esta complexa questão.
A população árabe na Palestina representava 93% em 1918, quando a declaração de Balfour começou a ter efeito. Os árabes podiam ter tido acesso ao seu estado e ficar com notório protagonismo nos destinos de Israel. Isso mesmo foi proposto pela comissão Peel em 1937, que sugeria entregar a Israel apenas 25% do território (proposta aceite pelos sionistas mas veementemente recusada pelos árabes). Mas não. Desde o seu início, a criação de um estado de acolhimento para os judeus foi vista com total desprezo e sem margem para negociações. O extremismo árabe cedo tomou as rédeas, transformando o conflito numa guerra entre um David (Israel) e um Golias (Egipto, Siria, Libano, Jordânia e Iraque). Os israelitas sofreram durante décadas, e ainda hoje sofrem, o estigma de viverem rodeados por uma moldura completamente hostil que contínua a albergar gente em lugares de responsabilidade política que deseja a sua aniquilação. Agora, junte-se a tudo isto um líder palestiniano que pouco ou nada fez para quebrar a espiral de violência das ‘jihads’ e que recusou, em 2000 (Camp David), uma proposta equilibrada para o inicio da resolução do problema. Talvez, com alguma lucidez, se perceba o que faz correr o “lado agressor”. Talvez se encontre, algures por aí, alguns elementos para «compreender» e «justificar» o ‘modus operandi’ israelita nos últimos 55 anos. Talvez se perceba o que marcou, e ainda marca, a memória colectiva de um povo. E talvez se entenda como é que um «David», habituado tempo de mais a lutar pela sua própria sobrevivência, produziu, a espaços, um excesso de anticorpos contra os focos de infecção que insistiram em ceifar a vida a civis inocentes, que apenas se encontravam no lugar errado à hora errada.
Apesar de tudo, haja esperança. Ao que tudo indica, o «pateta» e «belicista» presidente Bush está empenhado em lutar pela resolução do problema israelo-palestiniano (que atrevimento!). “O mundo precisa de um estado palestiniano independente”, disse Bush. E disse mais: “Israel tem responsabilidade na criação de um estado palestiniano estável e contínuo.” Por outro lado, já ouvimos da boca de Sharon palavras como “territórios ocupados” e um “Estado Palestiniano”. Haja, agora, boa vontade por parte dos palestinianos. A que tem faltado nas últimas décadas.
Agora, se me perguntarem se, com a criação de um Estado Palestiniano e com a assinatura de um acordo de não-agressão, os judeus em França poderão respirar de alívio, essa já é outra questão...
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