Tão bonito, o unicórnio
Vasco Pulido Valente, Público 07/06/2013
Impunidade
"Desde o princípio, o maior erro deste Governo foi não ajustar contas com o passado, a pretexto de que não queria perder tempo com velhas querelas. Por assim dizer, apagou a responsabilidade de toda a gente que tinha levado Portugal à situação desesperada de 2011. O nosso coração é bom e muito inclinado a não tocar no sossego e no bom nome do próximo. É um coração de ouro que não gosta de afligir ninguém. E, como não gosta, os portugueses ficaram sem saber ao certo como se acumulou a enorme dívida, soberana e outra, que nos sufoca; quem deliberadamente a fez por sua própria força e autoridade; e que espécie de razões presidiram ao exercício (corrupção? oportunismo eleitoral? incompetência? puro desleixo?). A julgar pela televisão e pelos jornais parece que um castigo do Altíssimo se abateu sobre nós para nos punir de inconfessáveis pecados. Entretanto, cai interminavelmente do céu uma chuva de números, que de resto mudam dia a dia e em que o cidadão vulgar deixou de acreditar. Durante o glorioso mandato deste Governo, os portugueses, pelo menos, conseguiram aprimorar a sua educação cívica, que se resume numa frase: não devemos confiar em nada e contar com nada. Um ministro pode perfeitamente decidir isto ou aquilo e, em meia dúzia de horas, decidir exactamente o contrário. O primeiro-ministro ora nos garante a felicidade para depois de amanhã, ora um futuro de miséria para 30 anos. Os profetas-comentadores, deliciados de se exibirem e subitamente sem excepção com uma licenciatura em Economia, discutem o extravagante dr. Gaspar, ou a iminência do apocalipse, ou a urgentíssima necessidade do “crescimento”, que se tornou um fenómeno tão mítico como um unicórnio. E nós continuamos passivos no meio desta feira de inocentes, sem a menor ideia do que nos vai suceder. Mas sem queixas. Portugal é o país da impunidade."
2 Comentários:
Por acaso, não concordo nada com o artigo de VPP, que imagino qu subscreva. Nenhum outro governo antes levou ao ponto a que este levou a desresponsabilização e o atirar de culpas para o passado. Este governo continua, passados dois anos, a tentar escorar todos os seus falhanços e todas as decisões impopulares no governo anterior (veja-se, por exemplo, o recente caso dos contrato SWAP). Aliás, um dos aspectos mais absolutamente insuportáveis deste governo - simbolizado no estilo do primeiro-ministro - é mesmo o seu ar de superioridade moral, a sua pretensão a um estatuto de "impoluto". Acho que esse aspecto é dos menos discutidos sobre a degradação das instituições em Portugal. Como, desde o governo de Durão Barroso, com o contributo agravado de Sócrates, e atingindo o paroxismo neste governo, os sucessivos governos se tratam como direcções de um clube de futebol que se sucedem, contribuindo para degradar as instituições. Qualquer dia, vamos ter as direcções dos partidos a usar o mesmo tipo de linguagem que Filipe VIeira e Pinto da Costa.
« o atirar de culpas para o passado »
começando pelo passado 25-04-74 (com a grande culposa «noite salazarista») até ao passado governo...
é que no passado governo o engº já ia no meio da sua 2ª ronda de mando e ainda havia culpas a dar ao anterior e enlouquecido santana lopes...
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