E agora algo de inesperado e escandaloso: não se (re)inventa um país num ano (nem em dois, três…)
No remanso do lar, Pedro Marques Lopes, Pedro Adão e Silva, Miguel Sousa Tavares, Daniel Oliveira, Nicolau Santos, Basílio Horta, Boaventura Sousa Santos... Amigos, ex-amigos, apoiantes, detractores, simpatizantes, gente simplesmente indiferente à figura de Pedro Passos Coelho. A lista é infindável, o denominador comum: 1) fomos enganados; 2) as medidas são recessivas, logo suicidas; 3) contra o abismo, recuar recuar.
No tumulto da rua, o mundo – vamos todos fingir que foi o mundo – assistiu à «indignação» das putativas vítimas e/ou dos intrépidos defensores da verdade (que topam a urdidura dos «ricos», do «patronato» e dos «especuladores» à distância).
Por muito que queira elaborar uma análise profunda sobre os mais recentes acontecimentos, com direito a name-dropping e a profundas conjecturas de natureza sociológica e económica, apenas consigo chegar – falha minha, certamente – a duas conclusões mesquinhas: o primeiro grupo – o dos fazedores de opinião - ou perdeu a memória ou desistiu de pensar (é o que dá tanta indignação); o segundo grupo – vulgo «povo agrilhoado» - insiste em não perceber em que país vive e em que situação nos encontramos.
Perdoem-me a indagação: não assinámos um Memorando de Entendimento com quem nos veio salvar da bancarrota, há coisa de seis meses atrás? Aquilo não era para valer? Assinámos uns papéis para ganhar tempo? O objectivo é não pagar ou, no mínimo, empatar? É assim que esperamos novas tranches do empréstimo? É assim que esperamos que nos reconheçam como um povo sério?
Em que parte do mundo ou momento da história se baixaram défices ou reduziram dívidas soberanas sem medidas recessivas? Sem dor e sacrifícios? Em que parte do mundo ou momento da história, um Estado de direito assinou um documento de auxílio financeiro com a secreta intenção de, passados poucos meses, anunciar que «não é para cumprir»? Não se fixaram metas, objectivas e mensuráveis, para consumar? Se queremos falar de reestruturação do empréstimo, vamos ter que tentar cumpri-lo. Nunca antes. Nunca ao contrário. É assim muito complicado, perceber isto?
O que o governo de Passos Coelho está a fazer é o dirty job que, muito provavelmente, nenhum governo de esquerda faria (ou, se o fizesse, desapareceria do mapa político), com origem em erros que lhe foram alheios. É preciso coragem para o fazer – e, sinceramente, nunca pensei que Passos Coelho a tivesse. Assim como nunca esperei que certos especialistas ou catedráticos da opinião, enveredassem por um discurso apocalíptico e «tremendo». No mínimo, patético.
Até ao final de 2013, vamos ter tempo para discutir como chegámos até aqui – o que aconteceu e quem foi directamente responsável pelo rumo dos acontecimentos. Vamos ter tempo para discutir que modelo de país queremos para as próximas décadas. Vamos ter tempo para exigir os cortes necessários nas mordomias e na organização do Estado. Vamos ter tempo para exigir o regresso da Ética e o fim da rapina do erário público. Mas convém perceber hoje, uma coisa simples: vamos também ter de honrar os compromissos que celebrámos. Vamos ter de assegurar os meios de cumprimento das metas.
Isso implicará uma mudança de vida. Farewell direitos adquiridos. Goodbye segundo carro ou casa própria. Au revoir férias abroad. Sejam bem-vindas as velhas profissões: o sapateiro ou a cerzideira, por exemplo. Seja bem-vindo o fim de um mundo fantasioso. Cabe-nos construir o muito que está por construir. Construímos muito pouco, nestas últimas décadas. Ao contrário do que pensamos. Vai ser difícil? Muito. Há uma maneira mais fácil de o fazer? Não.
No tumulto da rua, o mundo – vamos todos fingir que foi o mundo – assistiu à «indignação» das putativas vítimas e/ou dos intrépidos defensores da verdade (que topam a urdidura dos «ricos», do «patronato» e dos «especuladores» à distância).
Por muito que queira elaborar uma análise profunda sobre os mais recentes acontecimentos, com direito a name-dropping e a profundas conjecturas de natureza sociológica e económica, apenas consigo chegar – falha minha, certamente – a duas conclusões mesquinhas: o primeiro grupo – o dos fazedores de opinião - ou perdeu a memória ou desistiu de pensar (é o que dá tanta indignação); o segundo grupo – vulgo «povo agrilhoado» - insiste em não perceber em que país vive e em que situação nos encontramos.
Perdoem-me a indagação: não assinámos um Memorando de Entendimento com quem nos veio salvar da bancarrota, há coisa de seis meses atrás? Aquilo não era para valer? Assinámos uns papéis para ganhar tempo? O objectivo é não pagar ou, no mínimo, empatar? É assim que esperamos novas tranches do empréstimo? É assim que esperamos que nos reconheçam como um povo sério?
Em que parte do mundo ou momento da história se baixaram défices ou reduziram dívidas soberanas sem medidas recessivas? Sem dor e sacrifícios? Em que parte do mundo ou momento da história, um Estado de direito assinou um documento de auxílio financeiro com a secreta intenção de, passados poucos meses, anunciar que «não é para cumprir»? Não se fixaram metas, objectivas e mensuráveis, para consumar? Se queremos falar de reestruturação do empréstimo, vamos ter que tentar cumpri-lo. Nunca antes. Nunca ao contrário. É assim muito complicado, perceber isto?
O que o governo de Passos Coelho está a fazer é o dirty job que, muito provavelmente, nenhum governo de esquerda faria (ou, se o fizesse, desapareceria do mapa político), com origem em erros que lhe foram alheios. É preciso coragem para o fazer – e, sinceramente, nunca pensei que Passos Coelho a tivesse. Assim como nunca esperei que certos especialistas ou catedráticos da opinião, enveredassem por um discurso apocalíptico e «tremendo». No mínimo, patético.
Até ao final de 2013, vamos ter tempo para discutir como chegámos até aqui – o que aconteceu e quem foi directamente responsável pelo rumo dos acontecimentos. Vamos ter tempo para discutir que modelo de país queremos para as próximas décadas. Vamos ter tempo para exigir os cortes necessários nas mordomias e na organização do Estado. Vamos ter tempo para exigir o regresso da Ética e o fim da rapina do erário público. Mas convém perceber hoje, uma coisa simples: vamos também ter de honrar os compromissos que celebrámos. Vamos ter de assegurar os meios de cumprimento das metas.
Isso implicará uma mudança de vida. Farewell direitos adquiridos. Goodbye segundo carro ou casa própria. Au revoir férias abroad. Sejam bem-vindas as velhas profissões: o sapateiro ou a cerzideira, por exemplo. Seja bem-vindo o fim de um mundo fantasioso. Cabe-nos construir o muito que está por construir. Construímos muito pouco, nestas últimas décadas. Ao contrário do que pensamos. Vai ser difícil? Muito. Há uma maneira mais fácil de o fazer? Não.
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