Falta de vergonha
Grande (cof, cof) momento televisivo, anteontem, na RTP-N: frente-a-frente entre Carlos Zorrinho (PS) e Carlos Abreu Amorim (PSD). Carlos Zorrinho foi um devoto de Sócrates. E contínua a ser, com visíveis efeitos televisivos. Há dias, observei, também na RTP-N, Manuel Pizarro. O mesmo fenómeno: mimetismo. A encantadora e encantatória tutela do senhor engenheiro produziu os seus efeitos ao nível do cerebelo dos indefectíveis: os tiques e truques retóricos sobreviveram ao criador, pontuando agora, de forma mais ou menos voluntária, a linguagem corporal e o tom da voz dos herdeiros. Há, é verdade, elementos originais, ausentes no grande líder. Carlos Zorrinho, por exemplo, ao contrário do senhor engenheiro, pratica a técnica do «falar por cima», não permitindo que o oponente conclua uma frase ou um raciocínio sem a voz-buzina do outro lado. Está na moda. Dizem que é sinal de «vivacidade» no debate. No plano das ideias, Carlos Zorrinho mantém uma inabalável fé na piedosa devoção ao santinho JS que domina o seu altar íntimo, associando-se sem pudor ou modéstia à crescente horda de socialistas que deram por concluído o período de nojo a que o obsceno peso das circunstâncias e dos factos políticos e económicos os havia relegado. A fase hibernal acabou e, com ela, alguma aura de respeitabilidade e sanidade política proporcionada pelo recolhimento e pela introspecção. «Pronto, já passou», pensaram. É com estrondosa lata que peroram agora, que nem lúcidos e frescos, sobre os males da pátria, assacando já responsabilidades a um governo que nem um mês cumpriu e que, neste curto período, tenta ainda perceber o tamanho do buraco encontrado (e tantas vezes tapado).
Recentremos o debate. Ou, para ser básico, deixemo-nos de merdas. O Partido Socialista e o seu governo deixaram o país de quatro, com um acordo assinado cujo incumprimento pode resultar numa interrupção da ajuda financeira. Traduzindo: a bancarrota. Perante este cenário, o fantástico Carlos Zorrinho entende que o caminho passa por retomar a retórica da «confiança», da «tecnologia», das «energias renováveis», da «inovação», etc. etc., afirmando, pelo caminho, com o ar mais sério do mundo, que a medida do corte parcial do subsídio de Natal «não se justifica» e só vai «agravar a situação».
Como o criador, Carlos Zorrinho contínua a viver noutro mundo. Ainda não percebeu, nem provavelmente perceberá, onde estamos metidos, e em que estado se encontra a execução orçamental. Se percebeu, revelou tão só uma coisa: falta de vergonha na cara.
Recentremos o debate. Ou, para ser básico, deixemo-nos de merdas. O Partido Socialista e o seu governo deixaram o país de quatro, com um acordo assinado cujo incumprimento pode resultar numa interrupção da ajuda financeira. Traduzindo: a bancarrota. Perante este cenário, o fantástico Carlos Zorrinho entende que o caminho passa por retomar a retórica da «confiança», da «tecnologia», das «energias renováveis», da «inovação», etc. etc., afirmando, pelo caminho, com o ar mais sério do mundo, que a medida do corte parcial do subsídio de Natal «não se justifica» e só vai «agravar a situação».
Como o criador, Carlos Zorrinho contínua a viver noutro mundo. Ainda não percebeu, nem provavelmente perceberá, onde estamos metidos, e em que estado se encontra a execução orçamental. Se percebeu, revelou tão só uma coisa: falta de vergonha na cara.
1 Comentários:
Genial!
...ele há gente que nem abanada
reconhece o óbvio.
E se às vezes dá vontade de os, digamos, "chocalhar" bem!!
:(
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial