Da liberdade
O Nuno Ramos de Almeida (presença regular no Combate de Blogs) e outros grandes defensores do racionalismo e moralismo político, para delírio das massas eternamente gratas, deram a conhecer ao mundo, ou melhor, voltaram a expor de forma cintilante como é que as coisas funcionam ou devem funcionar: mais do que um direito, a greve é um dever. Quem não o exerce – o dever – é mau pai de família e, pior ainda, é conivente com (apontem por favor): as políticas do governo, o capitalismo (que é sempre uma coisa muito má), o interesse dos ricos (basicamente os grandes empresários e, como diria o Dr. Marinho Pinto, os grandes escritórios de advocacia de Lisboa), o Sr. Barroso, a América (do Norte) e a doida da Merkel. Ao Nuno Ramos de Almeida não lhe ocorre coisa diversa porque a cabeça do Nuno Ramos de Almeida está muito bem arrumadinha e organizada. Nada lhe escapa, nada faz estremecer as veneráveis certezas que o habitam, nada belisca o mundo que Nuno Ramos de Almeida tão bem observa e disseca. Não querendo pôr em causa este quadro de perfeição analítica e o entusiasmo, ora cândido, ora ardente, que o rodeia, atrevo-me a observar o mundo de forma um pouquinho diferente.
Estão as pessoas descontentes com o país? Estão. Sentem-se enganadas por um primeiro-ministro delirante? A maior parte sim (os restantes, salvo o pequeno grupo dos mentalmente empedernidos ou financeiramente engajados, começam agora a despertar para a monumental burla política levada a cabo por um primeiro-ministro que, das duas uma: ou se encontrava fora do mundo ou tentava ardilosamente varrer o lixo para debaixo do tapete). Têm, por tudo isto, direito a expressar o seu descontentamento? Têm. A greve, como direito, é uma forma de expressar esse descontentamento? É óbvio que sim. Pode um cidadão optar por não fazer greve, sem que isso signifique estar ao lado do governo ou ser-se conivente com os erros e falcatruas cometidas? O Nuno Ramos de Almeida acha que não. Eu acho que sim. Por uma razão simples e, digamos, comezinha: liberdade. Cada um é livre de se manifestar à sua maneira. Cada um é livre de achar que a greve é inconsequente e, dadas as dificuldades do país, contraproducente. Cada um é livre de achar que perder um dia de ordenado, agrava uma situação pessoal já apertada. Cada um é livre de achar que fazer greve prejudica a empresa de que faz parte - a qual, por força da conjuntura, já enfrenta dificuldades suficientes. E que achar e pensar tudo isto, de forma livre e consciente, não é sinónimo de iniquidade moral ou distúrbio cívico.
O que não deixa de ser sempre curioso, é a forma como esta coisa da Liberdade continua, de quando em vez, de forma incompreensível e paradoxal, a não entrar na cabeça de quem não raras vezes dá ares de ser o dono da clarividência e o defensor oficioso dos oprimidos – como se o «oprimido» fosse um basbaque a precisar da orientação augusta dos sages da opinião. O que não é de admirar: a História está pejada de gente que, julgando-se a paladina da moral e das mais nobres ideias, mandou à fava valores «menores». Só atrapalhavam.
Estão as pessoas descontentes com o país? Estão. Sentem-se enganadas por um primeiro-ministro delirante? A maior parte sim (os restantes, salvo o pequeno grupo dos mentalmente empedernidos ou financeiramente engajados, começam agora a despertar para a monumental burla política levada a cabo por um primeiro-ministro que, das duas uma: ou se encontrava fora do mundo ou tentava ardilosamente varrer o lixo para debaixo do tapete). Têm, por tudo isto, direito a expressar o seu descontentamento? Têm. A greve, como direito, é uma forma de expressar esse descontentamento? É óbvio que sim. Pode um cidadão optar por não fazer greve, sem que isso signifique estar ao lado do governo ou ser-se conivente com os erros e falcatruas cometidas? O Nuno Ramos de Almeida acha que não. Eu acho que sim. Por uma razão simples e, digamos, comezinha: liberdade. Cada um é livre de se manifestar à sua maneira. Cada um é livre de achar que a greve é inconsequente e, dadas as dificuldades do país, contraproducente. Cada um é livre de achar que perder um dia de ordenado, agrava uma situação pessoal já apertada. Cada um é livre de achar que fazer greve prejudica a empresa de que faz parte - a qual, por força da conjuntura, já enfrenta dificuldades suficientes. E que achar e pensar tudo isto, de forma livre e consciente, não é sinónimo de iniquidade moral ou distúrbio cívico.
O que não deixa de ser sempre curioso, é a forma como esta coisa da Liberdade continua, de quando em vez, de forma incompreensível e paradoxal, a não entrar na cabeça de quem não raras vezes dá ares de ser o dono da clarividência e o defensor oficioso dos oprimidos – como se o «oprimido» fosse um basbaque a precisar da orientação augusta dos sages da opinião. O que não é de admirar: a História está pejada de gente que, julgando-se a paladina da moral e das mais nobres ideias, mandou à fava valores «menores». Só atrapalhavam.
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