VPV
Para já, e até ver, a entrevista de Vasco Pulido Valente à LER (excelente revista, by the way), para além de um tour de force, é a melhor entrevista dada pelo historiador e cronista. Está lá tudo: o resultado psicodinâmico de falhanços, expectativas esfumadas ou concretizadas, sucessos conquistados mas não necessariamente definitivos (mainly abroad), desilusões mais ou menos previsíveis, certezas difusas e abundante cepticismo, corolário de cosmovisões emanadas de um ethos peculiar, fruto de uma educação igualmente peculiar e de uma sofisticada erudição (a possível tendo em conta o meio e o berço mas, ainda assim, a milhas da indigência que este país consegue produzir ou ensaiar hoje em dia). Justaposições de experiências de uma vida cheia.
Através de linhas e entrelinhas, Vasco Pulido Valente serve-nos o auto-retrato de um homem que, nascendo num país pobre, atrasado, cheio de problemas de personalidade e patranhas conceptuais, tentou ao longo da vida libertar-se das amarras metafísicas e epistemológicas da academia, da inércia social e económica que fatalmente o empurrava para uma espécie de mediocridade conformada e politicamente correcta, tecida ou encabeçada por uma galeria de eminências pardas, apoiadas e patrocinadas por um regime que, mesmo em tempo de boas intenções, elevou a mediocridade a desígnio nacional (por via, é certo, de uma democratização que era inevitável).
É óbvio que a visão de Vasco Pulido Valente, infelizmente mas não forçosa ou deliberadamente pessimista, parece a de um homem que já não pertence a este mundo ou que pediu há muito o divórcio. É, por tudo isso, óbvio que deplore ou menospreze Saramago e quejandos: eles representam o lado pacóvio e comezinho do unanimismo oficial que ele sempre detestou, das capelinhas intocáveis mas bafientas, repletas de amiguismos de conveniência e interesses carreiristas, o lado maniqueísta e ideologicamente engajado dos intelectuais, fruto de um lastro pútrido libertado durante e após o último ancient regime de que frequentemente nos ocorre falar, e da notável galeria de dilectos e estúpidos representantes da ditadura, e de «respeitáveis» e simbólicos combatentes anti-fascistas (alguns revelando equivalente ideário totalitário). É também óbvio que, no plano nacional, Vasco Pulido Valente destaque poucos: foram, de facto, muito poucos os que nos últimos duzentos anos merecem ser revisitados (diferente de serem esquecidos).
Há gente imbecil que, provavelmente, achará tudo isto um rol de contradições próprias de um militante maldizente que não entende o mundo (este equinoderme é um sério candidato), de um deslocado que recusa perceber a realidade e que, vai na volta, «mete os pés pelas mãos». Au contraire: o mundo está perigoso, estupidificante, cheio de trash e o suave odor a fim de regime que paira no ar não é sintoma: é um processo. Mas, claro: é o Vasco Pulido Valente que está a mais. Sorte a dele.
Através de linhas e entrelinhas, Vasco Pulido Valente serve-nos o auto-retrato de um homem que, nascendo num país pobre, atrasado, cheio de problemas de personalidade e patranhas conceptuais, tentou ao longo da vida libertar-se das amarras metafísicas e epistemológicas da academia, da inércia social e económica que fatalmente o empurrava para uma espécie de mediocridade conformada e politicamente correcta, tecida ou encabeçada por uma galeria de eminências pardas, apoiadas e patrocinadas por um regime que, mesmo em tempo de boas intenções, elevou a mediocridade a desígnio nacional (por via, é certo, de uma democratização que era inevitável).
É óbvio que a visão de Vasco Pulido Valente, infelizmente mas não forçosa ou deliberadamente pessimista, parece a de um homem que já não pertence a este mundo ou que pediu há muito o divórcio. É, por tudo isso, óbvio que deplore ou menospreze Saramago e quejandos: eles representam o lado pacóvio e comezinho do unanimismo oficial que ele sempre detestou, das capelinhas intocáveis mas bafientas, repletas de amiguismos de conveniência e interesses carreiristas, o lado maniqueísta e ideologicamente engajado dos intelectuais, fruto de um lastro pútrido libertado durante e após o último ancient regime de que frequentemente nos ocorre falar, e da notável galeria de dilectos e estúpidos representantes da ditadura, e de «respeitáveis» e simbólicos combatentes anti-fascistas (alguns revelando equivalente ideário totalitário). É também óbvio que, no plano nacional, Vasco Pulido Valente destaque poucos: foram, de facto, muito poucos os que nos últimos duzentos anos merecem ser revisitados (diferente de serem esquecidos).
Há gente imbecil que, provavelmente, achará tudo isto um rol de contradições próprias de um militante maldizente que não entende o mundo (este equinoderme é um sério candidato), de um deslocado que recusa perceber a realidade e que, vai na volta, «mete os pés pelas mãos». Au contraire: o mundo está perigoso, estupidificante, cheio de trash e o suave odor a fim de regime que paira no ar não é sintoma: é um processo. Mas, claro: é o Vasco Pulido Valente que está a mais. Sorte a dele.
1 Comentários:
VPV é um homem inteligente e muito culto...
Há que preservar e dar importancia ás suas opinioes, sendo que certas vezes tem visoes um pouco pessimistas demais
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