Estou zangado, estou
A propósito disto, já destacado no excelente blogue desta inestimável pessoa, há uma questão que não vejo ninguém abordar e que, para além de me incomodar, começa a inquietar-me, há medida que os anos vão passando e os «laboratórios» da industria automóvel os vão cuspindo cá para fora: até à data, não houve um automovelzinho eco-friendly que não fosse esteticamente um aborto. A colecção de camafeus, de que dou conta mais abaixo, não pára de me surpreender. Já pensei que fosse mera constatação: quem se interessa pelo ambiente e pela camada do ozono está-se nas tintas para as «linhas». Já pensei que fosse opção doutrinária ou estratégia: conduzir as pessoas a pensar mais na substância (zero ou reduzidas emissões de CO2) e menos no acessório (a estética do animal). Isto partindo do princípio de que o ser humano médio – isto é, normal - olha para uma bosta com rodas e pensa «vou montar-me num carro que me vai envergonhar, deprimir e obrigar a forrar uma parede do quarto com o poster de um 300 SL Roadster de 1957 para enfrentar o dia sem náuseas ou tonturas, mas sei que estou a ajudar o meu planeta e, com isso, a contribuir para que a qualidade do ar me permita morrer aos 84 anos com a boca ligeiramente inclinada para o lado esquerdo e não aos 83 de incontinência por via de infecção renal aguda». A verdade é que chego sempre à conclusão de que nada deve, ou pode, justificar o que se está a passar. E o que se está a passar é trágico. Já não bastava o facto de, nos modelos ditos «tradicionais» (para não lhes chamar ambientalmente «inconscientes»), a gasolina ou, horror dos horrores, a gasóleo, ser cada vez menor o índice de carros sofríveis do ponto de vista estético (já só nos resta apostar nos sofríveis, por oposição às restantes monstruosidades - salvo, obviamente, honrosas e heróicas excepções). Não. A confirmar-se a tendência, espera-nos um mundo cretino, pacóvio, tacanho e feio, forjado na sombra asséptica dos «centros de dados para a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias amigas do ambiente», por uma galeria de nerds e especialistas, para quem o belo, a graciosidade e o sublime não passam de vocábulos vazios ou conceitos descartáveis ante o fim último que os move: a «saúde» do povo e o «bom ambiente» do planeta. Até à imortalidade final.
3 Comentários:
A estéctica dos carros "alegadamente" eco-riendly, faz-me lembrar os movimentos feministas dos inicios dos anos 70, com as "gajas" vestidas "saudavelmente", isto é sem soutiens nem saltos altos, ou seja, sem glamour.
Esta treta do eco-friendly tem muito o que se lhe diga. Até ver...
Poupam o quê em combustíveis fósseis? Quanto, na realidade? Percentualmente, por ano e no fim da vida útil do veículo?
Contas fáceis de fazer: o bixo deixar de arrastar um motor e passa a arrastar dois mais o peso das baterias... negligenciavel, hã?
E as baterias carregam-se a partir de onde? Do motor de combustão... Ora.
Emissões. Melhoram-se as emissões, em teoria. E estamos a considerar no pacote o impacto ambiental TOTAL (incluindo fabrico e reciclagem, etc etc etc)?
Enquanto utilizarmos combustíveis fósseis nada mudará significativamente. A utilização de biodiesel e etanol ajudaria um pouco a melhorar as coisas. A utilização em motores de combustão externa (mais eficientes do ponto de vista ambiental) seria também uma marca a favor. Mas na realidade apenas nos resta a mudança de paradigma.
Até lá, todos os eco-tretas serão feios como a noite dos trovões. Porque é a imagem de marca da coisa - tal e qual as botas da tropa.
'Ni'!Bom 'ver-te' por aqui...
Este é um salão súpero.
Encosta-te aproveita (bem) a viagem... ;)
Deixa a 'Brigitte' em casa, aqui é só de... Porsche!
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial