Saudades
Imagino-o, por estes dias, como sempre: com aquele olhar de quem está bem com a vida e consigo próprio, envergando um sorriso capaz de desarmar a mais bélica das abordagens e contagiar o mais tímido dos tímidos. Imagino-o, onde quer que ele esteja, rodeado de amigos – ele que fazia e cimentava com facilidade amizades para a vida - em alegre cavaqueira, rodeado de boa comida - regada, obviamente, a preceito – e boa música. Imagino as conversas: política, filosofia, gastronomia, ciência, futebol, música, cinema, viagens, Israel, a Palestina, arte, etc. etc. e não necessariamente por esta ordem. Com o Carlos era assim: falava-se de tudo e sempre com propriedade. Nunca o vi repetir (no sentido de plagiar) uma ideia alheia. Em suma: tinha voz própria e o respeito que se lhe tinha era, passo o pleonasmo, orgulhosamente respeitoso. Ao contrário de mim, era de esquerda, mas de uma esquerda que me fazia falta: a que açoitava regular e clamorosamente o meu lado cínico e por vezes pedante, a resvalar para simplismos maniqueístas ou soluções plásticas e absolutistas. Tinha um saber enciclopédico e uma memória de Funes: quando já ninguém se lembrava do ano, nem sequer do sítio, o Carlos ia ao pormenor da hora, da ementa, das conversas, do tempo e da gaffe do empregado. Fruía a vida como poucos e envolvia os que o rodeavam nesse espírito de forma militante. Aprendi, com ele, muitas coisas: a escolher o bom em vez do medíocre, a ser limpidamente justo no meio da confusão dos dias e do ruído de fundo, a usar mais a razão que o preconceito, a reconhecer as vantagens do lazer sobre o trabalho, a gozar a languidez dos dias em que, para nosso prazer, havia tempo para nada fazer.
Por estes dias, volto a sentir na pele aquilo que jamais esquecerei: há dois anos atrás perdi o meu melhor amigo. Tenho saudades tuas, brother.
circa 1997, durante um jantar (de antologia)
Da esquerda para a direita, todos de fraque, num casamento no norte: o Porsche, o Telmo, o MacGuffin, o Carlos, o Nuno (o nosso agente em Copenhaga) e o Renault 5.
PS: um grande beijo para a Helena.
Por estes dias, volto a sentir na pele aquilo que jamais esquecerei: há dois anos atrás perdi o meu melhor amigo. Tenho saudades tuas, brother.
circa 1997, durante um jantar (de antologia)
Da esquerda para a direita, todos de fraque, num casamento no norte: o Porsche, o Telmo, o MacGuffin, o Carlos, o Nuno (o nosso agente em Copenhaga) e o Renault 5.
PS: um grande beijo para a Helena.
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