O MacGuffin: Troglodita

terça-feira, janeiro 25, 2005

Troglodita

Qualquer capital de erudição e sofisticação que um homem tenha adquirido ao longo de anos, seja por via da praxis dita «social», quer através do estudo espistemológico da estética e da ética do amor e do belo - sob a égide dos mais proeminentes escritores, filósofos, poetas e bardos que o mundo viu nascer - é patética e fatalmente conspurcado perante o vislumbramento de uma fêmea deslumbrante. Daquelas lindas de morrer. Toda uma colectividade de gestos, tiques e expressões, apreendidas e ensaiadas com especial minúcia por entre volumes e páginas de Waughs, Greenes, Chandlers & Ca. Lda., é soterrada de forma irremediável. A pose respeitável e grave, a expressão blasé e bogartmente desinteressada, o sorriso vendedor de charme, os gestos elegantes e meio aristocráticos – tudo cede lugar ao olhar de basbaque, ao sorriso aparvalhado, à boca levemente escancarada, à epilepsia do gesto, à acidental e lúbrica baba. O ponto alto da figura triste é atingido quando ao travelling da eterna transposição do «objecto» desejado se segue a meia-volta voyeurista. De volta, portanto, ao objecto. Um gajo bem que luta contra os instintos e pensa para além dos instintos mas, como toda a gente sabe, ainda há muito pouco tempo se saiu da caverna.

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