Do canto esquerdo
Daniel Oliveira chutou do «canto esquerdo» (semanário Expresso) opinião sobre as eleições na Palestina:
“Esperar destas eleições uma mudança substancial para o médio oriente não é apenas uma ingenuidade. É má-fé. A Palestina não é nem será uma democracia plena porque as democracias exigem estados viáveis e autónomos. Pedir à Palestina democracia e controlo da segurança é o mesmo que pedir a um prisioneiro que guarde a sua prisão.”
Novo remate:
”Não há democracia dentro de muros. Dentro de muros só pode haver caos, violência e corrupção.”
Epilogo:
”Uma mais do que improvável vitória de Mustafa Barghouti, primo de um outro Barghouti mais conhecido, e defensor de uma terceira via de desobediência civil não armada e de combate à corrupção, seria a melhor notícia para a Palestina.”
Daniel Oliveira volta à grave ladainha segundo a qual os lideres e a população palestiniana nunca tiveram autonomia para nada. Alguém os colocou a pão e água e os deixou entregues à miséria e à loucura. Meros bonecos à mercê do opressor. Pior: do carrasco. De uma assentada, Daniel Oliveira descarta anos e anos de negociação entre responsáveis israelitas e palestinianos (foi tudo fantochada), milhões de euros e dólares entregues aos responsáveis palestinianos (desorientados com a falta de «autonomia» não souberam o que fazer ao dinheiro) e a própria autonomia de facto de que gozou, e goza, a Autoridade Palestiniana sobre um território que, não sendo um Estado, só não administra se não quiser. Ou souber. No fundo, Daniel Oliveira não tem pejo em descartar a História e oferece a borla bafienta do costume: os palestinianos são o que são por falta de «autonomia» e excesso de «manietação» de um opressor obcecado em esmagar, baralhar, manipular. Toda uma galeria de audazes e sérios vivem há anos sob o jugo da besta.
Primeira conclusão: Daniel Oliveira é um devoto da Fé Iluminista. O que Daniel nos diz, como que pousando paternalmente a sua mão sobre o nosso ombro, é mais ou menos isto: o predomínio do mal é sinónimo da inconsciência e não-autonomia moral. Se as boas escolhas e as boas acções são interpretadas moralmente como uma evidência da autonomia e consciência racionais do seus agentes, já as escolhas erradas e nefastas, a mediocridade e as acções malévolas, passam a ser interpretadas como manifestações próprias de vitimas de um mau «sistema» - de um «sistema» que as levou à inconsciência, à loucura e à morte. Aplicada ao caso Palestiniano, poder-se-ia dizer que os terroristas e as organizações que promovem o terror, bem como os lideres que por inépcia e inércia pouco ou nada fizeram em prol das suas populações, foram, no fundo, alvo de «manipulação» por parte dos algozes, conduzindo aqueles à irracionalidade e a graves e assassinos ressentimentos.
Má-fé? Absolutamente. Só por má-fé se não reconhece a irresponsabilidade, a incompetência e, a espaços, a falta de sentido de oportunidade dos responsáveis palestinianos, a par da inegável agudização das acções anti-terroristas levadas a cabo por Israel. Má-fé? Má-fé é recorrer à retórica dos «checkpoints» para sonegar a inconsciência e inabilidade tantas vezes reveladas pelos dirigentes palestinianos. É óbvio que a chegada de Abbas ao poder não vai resultar numa «mudança substancial». Nem sequer se pede, para já, «isso». O que se pede é que Abbas se sente à mesa com Sharon e Peres. Que dialogue e negocie. Que consiga «oferecer» garantias reais a troco de garantias igualmente reais. Sem radicalismos ou exigências inconsequentes e inexequíveis. Se isso acontecer, estou em crer que a instituição de um estado palestiniano será uma realidade (não significando isto que eu acredite piamente nisso ou que tenha resolução para breve).
Já quanto à referência a Barghouti, não consegui suster o riso face à preferência de Daniel por uma «terceira via de desobediência civil não armada». Desobediência. Civil. Não Armada. DCNA. Uau! Soa bem, não soa? E não é que soa mesmo a BE, pá! (é a rua, o apelo da rua...)
“Esperar destas eleições uma mudança substancial para o médio oriente não é apenas uma ingenuidade. É má-fé. A Palestina não é nem será uma democracia plena porque as democracias exigem estados viáveis e autónomos. Pedir à Palestina democracia e controlo da segurança é o mesmo que pedir a um prisioneiro que guarde a sua prisão.”
Novo remate:
”Não há democracia dentro de muros. Dentro de muros só pode haver caos, violência e corrupção.”
Epilogo:
”Uma mais do que improvável vitória de Mustafa Barghouti, primo de um outro Barghouti mais conhecido, e defensor de uma terceira via de desobediência civil não armada e de combate à corrupção, seria a melhor notícia para a Palestina.”
Daniel Oliveira volta à grave ladainha segundo a qual os lideres e a população palestiniana nunca tiveram autonomia para nada. Alguém os colocou a pão e água e os deixou entregues à miséria e à loucura. Meros bonecos à mercê do opressor. Pior: do carrasco. De uma assentada, Daniel Oliveira descarta anos e anos de negociação entre responsáveis israelitas e palestinianos (foi tudo fantochada), milhões de euros e dólares entregues aos responsáveis palestinianos (desorientados com a falta de «autonomia» não souberam o que fazer ao dinheiro) e a própria autonomia de facto de que gozou, e goza, a Autoridade Palestiniana sobre um território que, não sendo um Estado, só não administra se não quiser. Ou souber. No fundo, Daniel Oliveira não tem pejo em descartar a História e oferece a borla bafienta do costume: os palestinianos são o que são por falta de «autonomia» e excesso de «manietação» de um opressor obcecado em esmagar, baralhar, manipular. Toda uma galeria de audazes e sérios vivem há anos sob o jugo da besta.
Primeira conclusão: Daniel Oliveira é um devoto da Fé Iluminista. O que Daniel nos diz, como que pousando paternalmente a sua mão sobre o nosso ombro, é mais ou menos isto: o predomínio do mal é sinónimo da inconsciência e não-autonomia moral. Se as boas escolhas e as boas acções são interpretadas moralmente como uma evidência da autonomia e consciência racionais do seus agentes, já as escolhas erradas e nefastas, a mediocridade e as acções malévolas, passam a ser interpretadas como manifestações próprias de vitimas de um mau «sistema» - de um «sistema» que as levou à inconsciência, à loucura e à morte. Aplicada ao caso Palestiniano, poder-se-ia dizer que os terroristas e as organizações que promovem o terror, bem como os lideres que por inépcia e inércia pouco ou nada fizeram em prol das suas populações, foram, no fundo, alvo de «manipulação» por parte dos algozes, conduzindo aqueles à irracionalidade e a graves e assassinos ressentimentos.
Má-fé? Absolutamente. Só por má-fé se não reconhece a irresponsabilidade, a incompetência e, a espaços, a falta de sentido de oportunidade dos responsáveis palestinianos, a par da inegável agudização das acções anti-terroristas levadas a cabo por Israel. Má-fé? Má-fé é recorrer à retórica dos «checkpoints» para sonegar a inconsciência e inabilidade tantas vezes reveladas pelos dirigentes palestinianos. É óbvio que a chegada de Abbas ao poder não vai resultar numa «mudança substancial». Nem sequer se pede, para já, «isso». O que se pede é que Abbas se sente à mesa com Sharon e Peres. Que dialogue e negocie. Que consiga «oferecer» garantias reais a troco de garantias igualmente reais. Sem radicalismos ou exigências inconsequentes e inexequíveis. Se isso acontecer, estou em crer que a instituição de um estado palestiniano será uma realidade (não significando isto que eu acredite piamente nisso ou que tenha resolução para breve).
Já quanto à referência a Barghouti, não consegui suster o riso face à preferência de Daniel por uma «terceira via de desobediência civil não armada». Desobediência. Civil. Não Armada. DCNA. Uau! Soa bem, não soa? E não é que soa mesmo a BE, pá! (é a rua, o apelo da rua...)
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial