E SE?
Sempre gostei de Billy Bragg. Não do Billy Bragg activista político, mas do Billy Bragg músico pop. Ontem, voltei a ouvir “Talking With The Taxman About Poetry”, um dos seus melhores álbuns. Estão lá, pelo menos, duas das melhores canções pop alguma vez escritas: “Levi Stubb’s Tears” e “Ideology”.
Enquanto o ouvia, pus-me a pensar como sempre embirrei com aquele título. E se o cobrador de impostos, ou fiscal das finanças, gosta de poesia? E se, nas suas horas vagas, o fiscal consome Yeats, Whitman ou Keats? E se o dito fiscal sabe falar de poesia como Bragg nunca soube falar?
Tenho uma teoria para a escolha daquele título. Bragg foi toda a sua vida um declarado comunista e utopista. O título escolhido espelha bem a atitude da esquerda (passo a generalizar, para efeitos retóricos). Toda a presunção e todo o preconceito da esquerda, relativamente aos «outros» (aos não eleitos do clube), estão presentes naquele título. Eis o seu modus operandi: 1) por um lado, tomar o povo como uma massa uniforme e homogénea de sensibilidades, visões, objectivos e desejos, ou seja, uma massa que implora pelo patrocínio e protecção da esquerda, e que estará sempre receptiva a aceitar, abnegadamente, as soluções que alguns sábios e visionários - guardiões da boa vontade, da justiça, da seriedade e da competência – preconizam para si (isto, é claro, se cada um, de per si, estiver bom da cabeça); 2) por outro lado, ainda que paradoxalmente, encetar um trabalho de rotulagem e de etiquetagem com base em critérios supostamente infalíveis, forjados na montanha do preconceito, do estereotipo e da caricatura - precisamente a uma latitude que lhe permite “ver o filme todo”. Juntem a isto uma completa e pueril incapacidade para lidar com o imponderável, o irracional e as liberdades individuais, et voilà: eis a esquerda em todo o seu “esplendor” (leia-se “pior”). O fiscal das finanças? O empresário? O capitalista? O banqueiro? O contabilista? O broker? Coitados, que saberão eles das «coisas do espírito»? Que sensibilidade e capacidade terão para compreender Bacon, Borges, Ibsen ou “Morangos Silvestres” – coisas, aliás, como toda a gente sabe, de importância brutal para a sobrevivência e felicidade humanas? Criaturas insensíveis, egoístas, ignorantes, materialistas, ao fim ao cabo detritos da sociedade do consumo e do ímpio sistema capitalista. Enfim... the usual stuff.
“Talking With The Taxman About Poetry”? So fucking what, Mr Bragg?
Sempre gostei de Billy Bragg. Não do Billy Bragg activista político, mas do Billy Bragg músico pop. Ontem, voltei a ouvir “Talking With The Taxman About Poetry”, um dos seus melhores álbuns. Estão lá, pelo menos, duas das melhores canções pop alguma vez escritas: “Levi Stubb’s Tears” e “Ideology”.
Enquanto o ouvia, pus-me a pensar como sempre embirrei com aquele título. E se o cobrador de impostos, ou fiscal das finanças, gosta de poesia? E se, nas suas horas vagas, o fiscal consome Yeats, Whitman ou Keats? E se o dito fiscal sabe falar de poesia como Bragg nunca soube falar?
Tenho uma teoria para a escolha daquele título. Bragg foi toda a sua vida um declarado comunista e utopista. O título escolhido espelha bem a atitude da esquerda (passo a generalizar, para efeitos retóricos). Toda a presunção e todo o preconceito da esquerda, relativamente aos «outros» (aos não eleitos do clube), estão presentes naquele título. Eis o seu modus operandi: 1) por um lado, tomar o povo como uma massa uniforme e homogénea de sensibilidades, visões, objectivos e desejos, ou seja, uma massa que implora pelo patrocínio e protecção da esquerda, e que estará sempre receptiva a aceitar, abnegadamente, as soluções que alguns sábios e visionários - guardiões da boa vontade, da justiça, da seriedade e da competência – preconizam para si (isto, é claro, se cada um, de per si, estiver bom da cabeça); 2) por outro lado, ainda que paradoxalmente, encetar um trabalho de rotulagem e de etiquetagem com base em critérios supostamente infalíveis, forjados na montanha do preconceito, do estereotipo e da caricatura - precisamente a uma latitude que lhe permite “ver o filme todo”. Juntem a isto uma completa e pueril incapacidade para lidar com o imponderável, o irracional e as liberdades individuais, et voilà: eis a esquerda em todo o seu “esplendor” (leia-se “pior”). O fiscal das finanças? O empresário? O capitalista? O banqueiro? O contabilista? O broker? Coitados, que saberão eles das «coisas do espírito»? Que sensibilidade e capacidade terão para compreender Bacon, Borges, Ibsen ou “Morangos Silvestres” – coisas, aliás, como toda a gente sabe, de importância brutal para a sobrevivência e felicidade humanas? Criaturas insensíveis, egoístas, ignorantes, materialistas, ao fim ao cabo detritos da sociedade do consumo e do ímpio sistema capitalista. Enfim... the usual stuff.
“Talking With The Taxman About Poetry”? So fucking what, Mr Bragg?
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