O MacGuffin

terça-feira, fevereiro 03, 2004

SÓ MAIS UMA COISA
Agora que já toda a gente considerou como provadas a malignidade e cretinice do Sr. Bush e do Sr. Blair (a TVI, por exemplo, faz questão de salientar a “mentira” como facto insofismável), tenho todo o gosto em transcrever dois artigos de opinião sobre o assunto que, desgraçadamente, tentam, em vão, explicar algumas coisas, para além das «certezas absolutas». É óbvio que o seu conteúdo em nada mudará a posição da esclarecida opinião pública mundial, que já tratou de apontar o polegar para baixo. O juiz decidiu, está decidido – ainda para mais quando um dos acusados é um declarado «pulha pidesco» (refiro-me ao texano). A transcrição destes dois textos destina-se, por isso, apenas àquela minoria de idiotas que resiste em alinhar pela imensa maioria dos que têm, não só agora como desde sempre, a certeza absoluta de tudo. Ou seja, estes dois textos destinam-se a quem ainda pretende perceber o que aconteceu. E como aconteceu. Aos que já tudo perceberam e tudo sabem, fica o meu conselho: passem à frente.

O Que Realmente Diz o Relatório Kay
Por CHARLES KRAUTHAMMER
in Público, 2 de Fevereiro de 2004
“Antes que comece a grande caça aos bodes expiatórios, vale a pena olhar para o que David Kay realmente disse sobre as armas de destruição maciça (ADM) no Iraque.
Primeiro, e largamente anunciado, ele não encontrou "grandes depósitos de armas de destruição maciça recentemente produzidas". Mas encontrou, tal como tinha reportado no passado mês de Outubro, actividades relacionadas com a produção de ADM e uma actividade importante de investigação e desenvolvimento de mísseis ilegais ("activa até aos últimos dias do regime") destinados a transportarem um produto tão venenoso como o rícino (o tipo de veneno que a polícia londrina descobriu o ano passado na posse de uma célula terrorista). Também descobriu "centenas de casos" de actividades proibidas pelas sucessivas resoluções das Nações Unidas.
Trata-se de descobertas importantes, mesmo que fiquem muito longe daquelas que a Administração dizia existirem em Março de 2003. Mesmo assim, David Kay forneceu-nos as mais detalhadas e credíveis explicações para entendermos por que motivos os serviços secretos dos Estados Unidos - e, também, as informações dos inspectores das Nações Unidas e das outras agências de espionagem ocidentais - avaliaram mal o que o Iraque realmente possuía.
O que se terá passado foi uma mistura de "bluff", jogos de enganos e corrupção que atingiu uma dimensão que mesmo os mais imaginativos seriam capazes de prever. David Kay descobriu que um Saddam cada vez mais errático tinha chamado à sua direcção directa os programas de desenvolvimento de ADM. Mas como não existia qualquer sistema de verificação do que realmente estava a ser feito no terreno, os cientistas iraquianos exageravam ou efabulavam sobre aquilo que estavam a fazer e, ao fazê-lo, escapavam à repressão ao mesmo tempo que obtinham financiamentos quase ilimitados.
Os cientistas enganavam Saddam, Saddam enganava o Mundo. Os iraquianos enganavam-se todos uns aos outros. Os comandantes da Guarda Republicana Especial não tinham ADM, mas revelaram aos investigadores que estavam convencidos que ou comandantes das outras unidades as possuíam. Era todo um sistema interno de desinformação de que o mundo exterior e os serviços de informações nunca se aperceberam.
O Congresso dos Estados Unidos precisa de investigar e descobrir, utilizando todos os meios, por que motivos os serviços secretos falharam de forma tão dramática e não tinham qualquer indicação sobre o que realmente se estava a passar. Contudo David Kay desmente as acusações feitas pelos democratas de que o Presidente Bush manipulou os relatórios. "Todos os analistas com que falei disseram-me que nunca se sentiram pressionados no que diz respeito às ADM", disse David Kay. "Todos acreditavam que o Iraque possuía armas de destruição maciça".
Incluindo a Administração Clinton. Em 1998 Clinton proclamou com grande alarme e confiança que o Iraque possuía gigantescas reservas de armas químicas e biológicas e que, "um dia, mais tarde ou mais cedo, garanto-vos, utilizará esse seu arsenal".
O falhanço dos serviços secretos é realmente espectacular, mas as suas razões são prosaicas. Quando os inspectores das Nações Unidas deixaram o país em 1998 assumiram que as reservas de armas proibidas que não tinham descoberto existiam realmente. De resto, que outra coisa poderiam assumir quando Saddam os acabara de expulsar? Que, em contrapartida, Saddam as tivesse destruído e tivesse mantido secreta essa destruição à agência que poderia dar-lhe razão permitir o levantamento das sanções era totalmente ilógico.
O secretário de Estado Colin Powell coloca correctamente a questão quando defende que este simples facto - o mistério sobre o destino das armas e sobre a sua possível destruição - só por si sustentaria a legalidade da intervenção militar uma vez que o cessar-fogo estabelecido em 1991 obrigava taxativamente o Iraque a provar que tinha procedido ao seu desarmamento. E que o Iraque falhou de forma obstinada e repetida a proceder a essa demonstração.
Mas para além da questão legal há também a questão da segurança. Todos tendem a esquecer que quando a Administração Bush chegou à Casa Branca se vivia no Iraque uma situação de elevada instabilidade. Milhares de iraquianos morriam devido à forma como o regime desviava o dinheiro que o país podia receber no quadro das sanções das Nações Unidas. A política de contenção exigia a manutenção na Arábia Saudita de importantes contingentes de tropas americanas "infiéis" - exactamente a razão número um invocada por Osama Bin Laden para a sua declaração de guerra aos Estados Unidos. Nas zonas de exclusão aérea decorria uma espécie de guerra de baixa intensidade e assegurar o embargo era caro e perigoso (os marinheiros americanos que morreram no USS Cole estavam em missão de garantir o embargo).
Até que se tornou claro que a Administração Bush estava determinada a agir, que ameaçou desencadear a guerra e deslocou tropas para o Kuwait, a realidade é que as Nações Unidas estavam a gradualmente relaxar o sistema de sanções e a evoluir para o seu levantamento definitivo, situação que teria permitido o imediato recomeço dos programas de desenvolvimento de armas tão desejado por Saddam Hussein.
A Administração Bush inverteu esta deriva ao ameaçar que iria para a guerra se fosse necessário. Só que essa posição agressiva era impossível de manter indefinidamente. Um regime de inspecções, embargos, sanções, zonas de exclusão aérea e milhares de soldados concentrados no Kuwait era impossível de manter. Os Estados Unidos podiam retirar e permitir que Saddam ficasse com as mãos livres - ou ir para a guerra e removê-lo do poder. Essas eram as únicas duas alternativas.
De acordo com as circunstâncias, e tendo em consideração que todos os serviços secretos do mundo acreditavam que Saddam possuía ADM, o Presidente Bush fez a única escolha possível.”

The alternative to war was simple: defeat
Por MARK STEYN
in The Daily Telegraph, 3 de Fevereiro de 2004
“(…) For all the self-puffery about fearless truth-seeking, that non-act of Dyke's is the central act of this drama. Why bother checking the story when it fits not only your own general assumptions but those of everyone you meet at dinner parties? Last June, I quoted Peter Worthington, the Canadian columnist and veteran of the Second World War and Korea, who likes to say that there's no such thing as an unpopular won war, and I noted that British public opinion seemed weirdly determined to make their Iraq victory an exception to that rule. And so it's proved. If I understand correctly, the people seem inclined to accept Lord Hutton's findings on the very narrow, technical, legalistic point of whether Mr Blair personally clubbed Dr Kelly over the head, dragged him out of the house and killed him, but they're furious that the good Lord declined to broaden his remit to the wider "underlying" issues, such as whether everyone's sick of Blair and, let's face it, his sucking up to that warmongering moron Bush is the final straw.
I certainly wouldn't want to live under New Labour, but, even so, with so many other available cudgels with which to beat Blair, I would caution against using the notion that he "misled" Britain into war, tempting though the scenario evidently is for Michael Howard. As things stand, it seems unlikely that WMD will be found in Iraq. Doesn't bother me. In these pages a few days after 9/11, I stated that I was in favour of whacking Saddam pour encourager les autres. There was no sharper way to draw a distinction between the new geopolitical landscape and the September 10 world than by removing a man who symbolised the weakness and irresolution of "multilateralism". He was left in power back in 1991 in order, as Colin Powell airily conceded in his memoirs, to keep the UN coalition intact. Lesson number one: don't form coalitions with people who don't share your war aims.
If the Gulf war was a cautionary tale in the defects of unbounded multilateralism, the Iraq war is a lesson in the defects of even the most circumscribed coalition. The Americans settled on WMD as the preferred casus belli because it was the one Blair could go along with: as one of his Cabinet ministers told me, they were advised that a simple policy of regime change - the Clinton/Bush line - would have been illegal. So they plumped for WMD. American and British intelligence were convinced Saddam had 'em, as were the French and Germans. Saddam thought he had 'em. So did his generals. It's believed that they were ordered to be used against the Americans as they galloped up to Baghdad from Kuwait. But when Saddam got there, the cupboard was bare. Strange, but apparently true. Anyone who's really fearless in his search for the truth can read David Kay's conclusions: it's a much more interesting story than "Blair lied!"
So Saddam didn't have WMD. Conversely, Colonel Gaddafi did. And hands up anyone who knew he did until he announced he was chucking it in. The only way you can be absolutely certain your intelligence about a dictator's weapons is accurate is when you look out the window and see a big mushroom cloud over Birmingham. More to the point, it's in alliances of convenience between the dictatorships and freelance groups that the true horrors lie - and for that you don't need big stockpiles, just a vial or two of this or that. You can try and stop it day by day at the gate at Heathrow, but, even if you succeed, you'll bankrupt the world's airlines.
The Left is remarkably nonchalant about these new terrors. When nuclear weapons were an elite club of five relatively sane world powers, the Left was convinced the planet was about to go ka-boom any minute, and the handful of us who survived would be walking in a nuclear winter wonderland. Now anyone with a few thousand bucks and an unlisted number in Islamabad in his Rolodex can get a nuke, and the Left couldn't care less.
The Right should know better. If he wants, Mr Howard can have some sport with Mr Blair. But, if he aids the perception that Blair took Britain to war under false pretences, the Tories will do the country a grave disservice. One day Mr Howard might be prime minister and, chances are, in the murky world that lies ahead, he'll have to commit British forces on far less hard evidence than existed vis à vis Saddam. Conservatives shouldn't assist the Western world's self-loathing fringe in imposing a burden of proof that can never be met. The alternative to pre-emption is defeat. If you want a real "underlying issue", that's it.”

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